Os ingressos dos shows da turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia estão à venda desde março. Os dois irmãos de Santa Amaro, no recôncavo baiano, vão rodar o Brasil com uma série de apresentações a partir do dia 3 de agosto.
'Hoje é aniversário de minha irmã Bethânia. Por ela vim pro Rio. Por ela estou na música. Agora estamos nos preparando para uma turnê grande como nunca imaginei. Embora ela seja muito mais nova e eu tenha vindo para tomar conta dela, é ela quem me mostra os caminhos. Saúde, alegrias, felicidade para essa pessoa que encorpa o Brasil', disse Caetano.
Sexta filha de José Teles Veloso (Seu Zezinho) e de Claudionor Viana Teles Veloso, conhecida como Dona Canô, Maria Bethânia Viana Teles Veloso nasceu dia 18 de junho de 1946. Cantora, compositora e poetisa, a artista é natural de Santo Amaro, cidade no Recôncavo da Bahia.
Bethânia é de uma família de origem portuguesa com ancestralidade afro-brasileira e indígena. Seu nome foi escolhido pelo irmão Caetano Veloso, inspirado em uma canção, a valsa 'Maria Betânia', do compositor Capiba, sucesso na voz de Nelson Gonçalves.
Quando tinha 17 anos, a cantora fez sua primeira apresentação em Salvador, na peça 'Boca de Ouro', de Nelson Rodrigues. Com a veia artística no sangue ao lado do irmão mais velho, Bethânia participou de espetáculos teatrais na juventude.
Após mudar-se oficialmente para o Rio de Janeiro, passou a ser nacionalmente conhecida por sua voz potente. Principalmente quando substituiu a cantora Nara Leão no espetáculo 'Opinião', dirigido por Augusto Boal, no Teatro de Arena.
A elogiada interpretação em 'Carcará', em 1965, de João do Vale, a lançou rapidamente no rol das grandes cantoras do país. Na época, assinou contrato com a gravadora RCA, com o lançamento de seu primeiro álbum, que recebeu o nome de 'Maria Bethânia'.
Em 1967, lançou o segundo álbum, intitulado 'Edu e Bethânia' (uma parceria com Edu Lobo). Além disso, no ano seguinte, interpretou a canção-tema do filme 'O Homem que Comprou o Mundo', de autoria de Francis Hime.
Bethânia se lançou em uma temporada de pequenos shows e recitais realizados em boates cariocas e paulistanas, onde passaria a se debruçar em um repertório mais romântico.
Dessa fase boêmia da cantora, foi lançado o seu primeiro álbum ao vivo 'Recital na Boate Barroco', gravado na antiga boate homônima, no Rio de Janeiro e que marcou sua estreia na gravadora Odeon.
Ainda em 1968, foi lançada pela sua antiga gravadora RCA, uma coletânea de seus primeiros sucessos ao lado de seu irmão Caetano Veloso e de seu conterrâneo Gilberto Gil, intitulada Velloso-Bethânia-Gil.
Bethânia lançou o seu terceiro álbum de estúdio, que continha canções de diversos compositores da MPB e que marcava pela primeira vez, a sua aproximação com a religião do candomblé, onde passaria a cantar pontos tradicionais.
A Odeon, então, solicitou a Bethânia o lançamento de mais um disco ao vivo, aproveitando o sucesso do anterior e desta vez sob a produção de Carlos Imperial. A gravação ocorreu em 4 de dezembro de 1969, no auditório da sede da própria gravadora, em São Paulo.
Em maio de 1970, foi lançado Maria Bethânia Ao Vivo, o seu segundo disco ao vivo e o último na Odeon. O destaque deste disco ficou por conta das belas regravações de ''Meiga Presença'' e ''Nada Além'', dedicada pela cantora à sua mãe Dona Canô.
Bethânia foi também a idealizadora do grupo Doces Bárbaros, na qual era um dos vocais da banda, que lançou um disco ao vivo homônimo juntamente com os colegas Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Era a típica banda hippie dos anos 1970, que foi enredo da Mangueira em 1994.
Bethânia tem bastante apreço pelo catolicismo, frequentando missas e rezando para Nossa Senhora. No entanto, a cantora mantém-se bastante ligada às crenças de matriz africana. Em 1981, ela foi iniciada para a Orixá Oiá (também conhecida como Iansã), no Terreiro do Gantois.
Maria Bethânia participou do especial Mulher 80, da Rede Globo, com uma série de entrevistas e musicais, cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade.
Após Álibi (1978), vieram álbuns como Mel (1979), Talismã (1980), Alteza (1981), Ciclo (1983) e A Beira e o Mar (1984), com arranjos e teclados de Lincoln Olivetti. No caso de Ciclo, a faixa 'Fogueira' foi incluída na trilha sonora da novela da Globo, Transas e Caretas, de Lauro César Muniz.
O disco 'Memória da Pele' marcou a volta para a Polygram. Em seguida, vieram Dezembros e Maria, lançados em 1986 e 1988, respectivamente. As baladas 'Tá Combinado' e 'Verdades e Mentiras' integraram as trilhas sonoras das novelas da Globo, Vale Tudo e Fera Radical, respectivamente.
Bethânia também interpretou a canção 'Tenha Calma', integrante da trilha sonora da novela da Globo, Tieta. Em 26 de novembro de 1987, foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal.
No início dos anos 90, Bethânia comemorou 25 anos de carreira com o LP 25 Anos, cujo repertório, essencialmente brasileiro, evocava diversas culturas deste país. O disco contou com a participação especial de vários cantores e músicos importantes.
As regionalistas 'Tocando em Frente' e 'Flor de Ir Embora' integraram as trilhas das novelas rurais Pantanal e A história de Ana Raio e Zé Trovão, respectivamente, ambas exibidas pela extinta Rede Manchete. 'Além da Última Estrela', integrou a trilha sonora da novela da Globo, Renascer, de Benedito Ruy Barbosa.
O CD 'As Canções que Você Fez pra Mim' foi convertido para uma versão hispânica. O trabalho consistiu em um tributo à dupla de cantores e compositores Roberto e Erasmo Carlos, evocando onze parcerias de ambos.
Este disco gerou um VHS (relançado em DVD em 2009), dirigido por Gabriel Vilela na casa Canecão (Rio de Janeiro). Ele saiu do trabalho que marca a despedida definitiva da Universal Music: Maria Bethânia ao Vivo, de 1995, o último a ter versão em vinil.
Em 1999, a cantora lançou 'A Força Que Nunca Seca' pela gravadora BMG. No trabalho, interpretou a faixa 'Romaria', de autoria de Renato Teixeira, popularizada por Elis Regina. A faixa-título foi dedicada à memória de Mãe Cleusa do Gantois, além de trazer canções inéditas e releituras de clássicos
Em seguida, houve um espetáculo que divulgou o disco anterior, do qual saiu o CD duplo Diamante Verdadeiro, gravado em agosto, que trouxe canções do referido CD de estúdio.
Em 2001, ela desligou-se das grandes gravadoras, transferindo-se para a independente Biscoito Fino, de Olivia Hime e Kati Almeida Braga. O disco que marca a estreia na nova gravadora é o duplo Maricotinha ao Vivo - comemorativo dos trinta e cinco anos de carreira, que trouxe regravações dos antigos sucessos.
Dois anos depois, lançou o selo Quitanda para gravar discos com menor apelo comercial de artistas que admira, como Mart'Nália e Dona Edith do Prato. Paralelamente, houve o lançamento do álbum 'Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu', gravado originalmente em 2000.
Venceu, em 2006, o Prêmio TIM de Música (antigo Sharp) onde arrebatou três títulos: melhor cantora, melhor disco (Que Falta Você Me Faz, um tributo a Vinícius de Morais) e melhor DVD (Tempo Tempo Tempo Tempo, comemorativo dos quarenta anos de carreira).
Ainda em 2006, lançou dois álbuns. Pirata, onde canta os rios do interior do Brasil, e Mar de Sophia, onde canta o mar a partir de versos da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner. A turnê foi batizada de Dentro do Mar tem Rio, com direção de Bia Lessa e roteiro do fiel colaborador Fauzi Arap.
Lançou em 2007, pela Biscoito Fino, o DVD duplo que contempla dois documentários sobre a artista. Novamente foi a maior vencedora do Prêmio TIM e no ano seguinte juntou-se à cantora cubana Omara Portuondo e seguiu em turnê pelo Brasil e países latinos, como Argentina e Chile.
Em 2009, lançou o DVD Dentro do Mar tem Rio, registro do show ao vivo gravado nos dias 7 e 8 de dezembro de 2007, em São Paulo, com direção de Andrucha Waddington. Após a turnê 'Amor, Festa e Devoção', lançou o DVD Carta de Amor, 2013, que traz uma turnê baseada no álbum Oásis de Bethânia.
Em 2015, Maria Bethânia viveu um período de homenagens constantes, então promovendo um espetáculo para comemorar meio século de canto com a turnê Abraçar e Agradecer. Também perpetuou o encontro com o sambista carioca Zeca Pagodinho no show De Santo Amaro a Xerém, em São Paulo, num DVD.
Maria Bethânia é conhecida por sua voz 'eloquente', por apresentar-se na maior parte das vezes com cabelos soltos, vestidos longos e descalça. Em 2016, foi homenageada pela escola de samba do coração, Mangueira, que a consagrou com o título do Carnaval Carioca.
Bethânia foi a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos no Brasil, e a artista feminina que mais vendeu discos nos anos 1970 no país. Durante sua carreira, a cantora converteu-se em uma recordista em vendas de discos no Brasil, com mais de 26 milhões de álbuns vendidos.
Em 3 de maio de 2023, foi empossada como imortal na Academia de Letras da Bahia, cadeira 18. Muito discreta, a cantora não é vista com frequência em eventos sociais e não teve filhos.