Este enredo será novamente desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, com auxílio de sua equipe de criação e do enredista João Gustavo Melo. A diretoria renovou com todos os segmentos para um novo carnaval na busca pela quarta estrela, que seria a segunda consecutiva.
De acordo com o resumo do enredo, divulgado pela Viradouro, Malunguinho é uma 'entidade afro-indígena, que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro'.
O enredo remonta a metade do século XIX, no estado de Pernambuco, Por lá, o quilombo do Catucá era foco de resistência e viu seu último líder, João Batista, o Malunguinho, ser duramente perseguido por seus atos libertários.
O nome “Malunguinho”, derivado de “malungo”, que significa companheiro, virou sinônimo de terror por parte das autoridades, que ofereceram até recompensa pela captura do quilombola
Figura reconhecida pelos membros de sua comunidade, ainda mais pelo exercício da chefia social e inspiração mística, João era taxado como bandido pelo centro do poder político e por proprietários.
As informações biográficas a respeito de Malunguinho escapam dos registros históricos e sua figura assume certo caráter lendário.
Ainda mais quando sua fama acabou indo além de sua habilidade de líder, guerreiro ou estorvo para o governo, pois transcendeu para o nível religioso e terá sua história contada pela Unidos do Viradouro.
Não se sabe como ou quando o indivíduo Malunguinho morreu, mas sua existência tomou forma no culto da Jurema, tradição afro-indígena de variadas influências e elementos.
O quilombola virou entidade sobrenatural, um mestre protetor invocado diante de necessidades.
Na época, Pernambuco foi palco de muitos movimentos políticos revolucionários, como a revolução de Goiana, a junta do Beberibe em 1821 e a rebelião dos Romas em 1829, que tinham como um dos objetivos a reivindicação de liberdade.
A figura do quilombo teve sua importância crucial na história, pois era um local de resistência que tinha como finalidade acolher várias pessoas, independentemente de suas crenças ou etnias, respeitando as diversas manifestações de fé.
Um dos movimentos de maior representatividade foi o dos negros do Quilombo de Cacutá, localizado nas terras conhecidas atualmente, como Engenho Utinga, no município de Abreu e Lima.
A história de Malunguinho começa nos registros documentais de uma forma extremamente negativa. Estas escritas documentais foram redigidas a favor da Coroa, tendo a finalidade de defender apenas os interesses do clã português.
Malunguinho foi registrado como bandido, um fora da lei, chefe de quadrilha, pois havia uma ordem de execução para aniquilar completamente quaisquer vestígio existente do chefe dos malungos
Registros contam que, em uma invasão à mata para perseguir o chefe dos malungos, Malunguinho foi ferido, mas não capturado.
Quase morto, conseguiu escapar e se esconder na floresta. Foi resgatado por índios e curado com o poder das ervas e a sabedoria dos indígenas.
Este sábio senhor adquiriu em suas atividades a necessidade de estar na mata à sabedoria da cura através das ervas.
A soberania da essência negra com a cultura indígena despertava a magia da ciência mística da Jurema neste grande homem.
Malunguinho era conhecido e temido por todos os senhores brancos, pois tinha a coragem de libertar escravos abrindo portas de cativeiros e senzalas, destrancando correntes que aprisionavam os seus irmãos de cor.
Com essa atitude, recebeu um título de 'portador de uma chave mágica', e seus adversários não sabiam como ele conseguia abrir essas trancas.
A simbologia desta chave aparece mais tarde em cerimônias religiosas dentro da linha da Jurema para o culto deste grande mestre. Ele é aquele que ronda a mata para vencer inimigo, trazendo a ciência dos pajés e os caminhos da cura.
A passagem de Malunguinho pela aldeia tinha uma finalidade espiritual, por mais que ninguém soubesse naquela época, a Jurema tinha escolhido o guardião de sua chave para tomar conta dos caminhos
Por este motivo, a Viradouro mostra que Malunguinho também tem ligação com exu por ser um mensageiro. Além de ser Caboclo pelo tratamento com as ervas e mestre de seu povo.
João Batista, um dos maiores lideres da história do quilombo, foi assassinado em uma emboscada na cidade de Abreu e Lima, conhecida na época como Maricota
No último Carnaval, a Unidos do Viradouro conquistou o terceiro título de sua história, com o enredo 'Arroboboi, Dangbé', que contou na avenida o culto ao Vodun da serpente sagrada e encantou na Marquês de Sapucaí.
Para diversos sistemas de crenças, como o da nação jeje, o réptil tem poderes de regeneração, vida, transformação e recomeço.
A Viradouro, a última das 12 escolas a desfilar, já na manhã de terça-feira (13), também detalhou as crenças voduns de povos africanos e na força das mulheres da Costa da Mina, uma poderosa irmandade de guerreiras.
A agremiação liderou a apuração de ponta a ponta e, nas notas válidas, gabaritou os quesitos. Terminou com 270 pontos, ou 100% de aproveitamento entre os pontos possíveis. A Imperatriz Leopoldinense, ficou em segundo, 7 décimos atrás, com 269,3.
A Viradouro só tirou 3 notas diferentes de 10, todas descartadas, segundo o regulamento: 9,9 em alegorias, 9,9 em mestre-sala e porta-bandeira e 9,9 em enredo.