Com isso, a orientação é dar logo início à medicação sem necessidade de exame laboratorial. “Em cenários de desastres climáticos, como inundações, a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente podem facilitar a ocorrência de surtos da doença”, afirma o ministério.
O risco de contaminação atinge tanto as pessoas que estão saindo de suas casas por causa dos alagamentos como os voluntários e equipes de socorro que fazem os resgates. Todos devem estar atentos a sintomas para buscar ajuda de atendimento de saúde se for necessário.
A leptospirose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, presente na urina de animais, especialmente ratos. A bactéria pode penetrar no organismo por lesões na pele, em casos de corpo imerso por longo tempo em água contaminada ou pelas mucosas.
A transmissão é comum em enchentes, quando a água contaminada originária de bueiros e esgotos vem à tona. Os sintomas gerais da leptospirose são similares aos de doenças como dengue e gripe: febre, dores musculares, vômito e diarreia.
Entre o momento da infecção e a manifestação de sintomas (período de incubação) pode haver um intervalo de um a 30 dias. De acordo com o Ministério da Saúde, em 40% dos casos mais graves a doença pode levar à morte. Daí a urgência no tratamento.
Em fevereiro, o Acre também teve uma enchente histórica. O municÃpio de Brasileia foi o mais atingido, registrando a maior inundação da história da cidade . O nÃvel do rio Acre chegou a 15,56 metros de altura, ultrapassando a cheia histórica de 2015, quando o mesmo rio alcançou 15,55 metros.
Diversas partes do Acre ficaram inundadas, deixando milhares de desabrigados. E cenas de pessoas andando na água imunda foram comuns durante dias seguidos, o que também abriu espaço para contaminação.
O Núcleo de Zoonoses da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) divulgou que, nos três primeiros meses deste ano, o Acre totalizou 235 casos da doença. Em 2023, no ano inteiro, haviam sido 146. Em 2022, houve 84 registros.
A Região Norte como um todo sofre com o risco da doença em áreas que ficam alagadas. Em 2023, o Norte do país teve 331 casos de leptosirose, acima de 2022 (304). A falta de saneamento básico em comunidades e bairros sem boa infraestrutura tornam o risco permanente ao longo do ano.
Áreas com condições precárias de saneamento apresentam maior incidência da doença. Nesses locais, costuma haver grandes populações de ratos infectados. As enchentes disseminam a doença e, por isso, evitar contato com áreas de inundação é uma medida importante de prevenção.
O Ministério da Saúde considera a leptospirose uma enfermidade endêmica no Brasil que pode se tornar epidêmica em épocas de chuvas.
Determinadas atividades aumentam o risco de contrair a doença, como as de garis, catadores de lixo, militares, bombeiros e agricultores.
Embora casos de leptospirose ocorram em todas as regiões, o maior número de casos registrados está nas regiões sul e sudeste em ambientes urbanos. A letalidade média é de 9%.
Em dezembro de 2022, um caso chamou a atenção porque um homem de 53 anos desenvolveu quadro grave de leptospirose após comer uma manga encontrada no chão. Ou seja, ele não chegou a enfrentar uma enchente. Mas pecou pela falta de higiene.
O motorista de carreta Roberto Luiz foi internado em hospital de Santos, no litoral de São Paulo, com sintomas graves que quase o levaram à morte.
Ele havia encontrado a manga na Rodovia Washington LuÃs, quando retornava a Santos após realizar a entrega de uma carga no interior paulista. Em uma parada, o motorista pegou a fruta do chão e descascou com a boca, sem lavar.
Nos dias seguintes, ele começou a ter sintomas como febre, dores musculares e vômitos. Em Santos, recebeu duas vezes o diagnóstico de dengue em Unidades de Pronto Atendimento. Mas o tempo passou e o mal-estar só se intensificava.
No dia 16 de dezembro, na Santa Casa de Santos, um médico suspeitou de leptospirose. Ao questionar Roberto Luiz sobre eventual contato com enchentes ou se tomou bebida em latinha, ouviu do paciente o relato sobre a manga.
Com o avanço da doença, o motorista chegou a apresentar falhas renais e precisou ser submetido a sessões de hemodiálise. O quadro evoluiu para Síndrome de Weil, forma mais grave da leptospirose. Mas ele se recuperou e teve alta no Natal.