Com uma população de cerca de 10 mil habitantes, Gilbués possui uma área de 'deserto' que chega a 7,8 mil km², o equivalente a cinco São Paulo e maior que Nova York.
A região possui uma paisagem árida de crateras vermelhas e cânions que remetem ao planeta Marte.
Segundo uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), o processo de desertificação na cidade iniciou entre as décadas de 1940 e 1950, e foi impulsionada principalmente por práticas como mineração e agropecuária (base econômica da cidade).
Outro estudo sobre o tema, publicado pelo historiador Dalton Macambira, da Universidade Federal do Piauí, diz que a área afetada pela desertificação mais que dobrou, de 387 para 805 km² de 1976 a 2019, prejudicando cerca de 500 famílias.
Além da ação do homem, como o crescimento indiscriminado, este processo também tem como 'culpado' fatores da natureza como o aquecimento global e a erosão do solo frágil.
Por conta do aquecimento global, as temperaturas em Gilbués devem aumentar ainda mais. Segundo um estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a tempertura deve subir até 2,5 graus celsius.
Gilbués possui pouca incidência de chuva e é considerada uma cidade muita seca. Em agosto de 2018 os termômetros ultrapassaram os 44°C.
Ainda segundo especialistas, a situação na região deve se agravar e as chuvas devem ter uma redução de 10% a 20%.
'Antes tinha mais chuva. Agora diminuiu, descontrolou. Por isso, a gente tem que trabalhar com irrigação. Se não for assim, não tem como sobreviver', diz um fazendeiro para a AFP.
Cidades de clima árido, semiárido e subúmido seco são mais propensas a sofrer com o processo de desertificação. Além do clima local, a ação humana também 'ajuda'.
Segundo as Nações Unidas, a desertificação é uma crise que afeta 500 milhões de pessoas em todo o mundo, e acaba causando pobreza e conflitos nas terras.
O Instituto Nacional do Semiárido (Insa), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação faz um alerta: mais de 1,3 milhão km² no Brasil podem virar deserto, se nada for feito.
Os números apontados pelo Insa mostram que a desertificação já atinge 15% do território brasileiro.
Além do deserto, Gilbués enfrenta outros desafios socioeconômicos, como a falta de infraestrutura, a necessidade de investimentos em educação e saúde, e a migração de sua população para centros urbanos maiores.
Historicamente, Gilbués já foi cenário de uma corrida por diamantes em no século XX, do crescimento de cana-de-açúcar na década de 1980 e atualmente é um dos maiores produtores de soja do Piauí.
Mundialmente falando, o deserto do Saara, localizado na África, é o maior deserto quente que existe, com 9,2 milhões de quilômetros quadrados de área.