Essa história trágica teve início na manhã de sábado (13/04), quando um grupo de pescadores encontrou por acaso um barco com nove corpos em decomposição em Bragança, no litoral nordeste do Pará, a cerca de 215 km de Belém.
A situação misteriosa fez com que peritos de Brasília fossem ao local analisar os corpos e a embarcação para tentar entender o que tinha acontecido.
Das nove vítimas encontradas, oito estavam dentro do barco. O nono corpo foi encontrado na água.
A hipótese das 25 pessoas surgiu porque, de acordo com a perícia da Polícia Federal, esse foi o número de capas de chuva (23 verdes idênticas e duas amarelas) que estava na embarcação.
Além disso, papéis achados mostram que o barco partiu depois do dia 17 de janeiro de 2024 e que as vítimas eram migrantes da Mauritânia (local da onde teria partido o barco) e Mali, na África.
De acordo com a Marinha do Brasil, o barco é feito de fibra de vidro e não tem motores nem sistemas de propulsão ou direção. Além disso, não parece ter sido naufragado, pois não tem danos estruturais.
Até o momento (18/04), a polícia não tem suspeitas sobre o que pode ter acontecido com as outras pessoas que não foram encontradas.
Segundo o superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres, a perícia deve continuar nos próximos dias.
'Um trabalho minucioso de perícia começa e deve se estender até o fim de semana e ali vai ser identificada a causa da morte, mas provavelmente a causa de morte foi falta de alimento e água', afirmou.
Ainda segundo o superintendente, tudo aponta para a possibilidade de imigração ilegal.
'Uma organização que muito provavelmente contratou o barco, vendeu as vagas. As capas de chuvas trazem indício forte de que há uma organização criminosa que se enriquece com a tragédia humana da imigração ilegal', declarou.
Depois que os corpos forem identificados, os peritos vão compartilhar essas informações com a Interpol para verificar se há relatos de pessoas desaparecidas.
A questão da imigração clandestina tem sido um problema cada vez maior nos últimos anos. Em julho de 2023, quatro nigerianos foram encontrados sentados no leme de um navio na Baía de Vitória, no Espírito Santo.
Eles saíram do Porto de Lagos, na Nigéria, e ficaram 14 dias escondidos no local até chegar à costa brasileira.
Nesse caso, a tentativa de fuga do país se deu por conta da ascensão do grupo islâmico Boko Haram, que passou a ocupar parte do nordeste da Nigéria, promovendo violência e caos.
Em outro caso, um barco com mais de 60 corpos foi encontrado a quase 320 km da ilha do Sal, em Cabo Verde, na África Ocidental, em agosto de 2023.
Segundo a Organização Internacional para Migrantes (OIM), 100 pessoas embarcaram no Senegal em 10 de julho, com destino à Espanha. Acredita-se que pelo menos 63 refugiados tenham morrido.
Cabo Verde está na rota marítima para as Ilhas Canárias, na Espanha, reconhecidamente uma das mais perigosas do mundo para os migrantes.
Segundo a OIM, pelo menos 559 pessoas morreram tentando chegar às Ilhas Canárias. Só nos primeiros seis meses de 2023, 15 naufrágios foram registrados e 126 pessoas morreram ou desapareceram na mesma rota.
Em agosto de 2023, um naufrágio no Mar Mediterrâneo matou 41 imigrantes que estavam no Canal da Sicília, na Itália.
Segundo relatos de quatro pessoas que sobreviveram, o barco partiu de Sfax, na Tunísia, mas acabou virando e afundando depois de algumas horas depois de ser atingido por uma grande onda.
Mais recentemente, em março de 2024, autoridades locais da costa do México encontraram oito corpos de imigrantes chineses que tentavam chegar aos EUA de barco.
Muitas pessoas têm decidido sair da China não só por motivos econômicos, mas também devido às restrições políticas e sociais.
O controle forte do Partido Comunista na vida diária e na liberdade de expressão tem causado descontentamento, levando muitos a optar pela emigração.