Eles ficaram perdidos por cinco dias e seis noites na montanha mais alta do país, o Pico Simón Bolívar.
Santiago Aparicio, Julio Bermúdez e outros sete membros da expedição saíram antes do amanhecer do dia 13 de março em direção ao pico, que tem 5.775 metros de altura.
A montanha fica localizada na Sierra Nevada de Santa Marta, no norte da Colômbia.
Os alpinistas foram pegos de surpresa quando um acidente deixou Bermúdez gravemente ferido, o que os forçou a esperar por socorro entre as rochas e geleiras.
Eles conseguiram sobreviver com a ajuda de dois cobertores e graças à operação conjunta da Força Aérea, Cruz Vermelha e indígenas arhuacos.
“A montanha é muito selvagem. Lá, ninguém garante nada, é o que Deus quiser”, disse Aparicio, à uma rádio local.
Segundo a imprensa colombiana, a maioria dos praticantes parou a 5.500 metros de altitude e voltou de parapente, mas Bermúdez e Aparicio decidiram desafiar a natureza.
O mais velho do grupo aos 46 anos, Bermúdez pretendia voar com seu parapente sobre o território sagrado dos povos indígenas arhuaco, wiwa, kogui e kankuamo quando eles alcançassem o topo da montanha.
O território é considerado patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco.
Segundo o guia, 'ele tentou voar pela primeira vez, mas não conseguiu porque não havia muito vento. Depois, uma rajada de vento o levantou e o jogou contra a montanha'.
“Quando o encontrei, estava alerta e consciente, mas tinha a clavícula quebrada, o rádio e o antebraço quebrados (...), não conseguia respirar direito, falava como uma criança”, detalhou Aparicio, que tem mais de 11 anos de experiência em montanhismo.
Bermúdez estava com dificuldade para se locomover. O guia então o amarrou a uma corda e o levou para baixo do outro lado do pico, que era um abismo rochoso de cerca de 240 metros.
De acordo com o guia, eles conseguiram chegar em um pequeno vale descampado para que o helicóptero de resgate pudesse pousar.
Outro fator que ajudou os alpinistas foi um aparelho GPS, com o qual eles conseguiram se comunicar com as autoridades e mostrar onde estavam.
Os alpinistas também tiveram que se proteger do frio extremo e enfrentaram temperaturas de até -5°C durante a noite.
“Passamos uma noite a 5.580 metros. Foi a mais pesada: não tínhamos sacos de dormir nem isolantes, apenas um cobertor térmico cada um”, pontuou Aparicio.
Depois de passarem dois dias sem comida, a Força Aérea conseguiu lançar alimentos pelo alto que, segundo eles, 'salvaram suas vidas'.
Os socorristas também enviavam mensagens de apoio: “Amigos, não desanimem. Estamos muito perto. Alimentem-se e hidratem-se, o resgate logo chegará'.
À AFP, um dos socorristas contou que eles levaram três dias e meio para alcançar os alpinistas: “Se não fosse pelo povo arhuaco, seria muito difícil resgatá-los”, explicou Freddy Rodríguez.
Ainda segundo Rodríguez, os arhuacos concordaram em guiar a equipe de resgate por trilhas que não eram usadas há 20 anos.
Foi em torno das 11h da manhã de domingo (24/03) que Bermúdez foi encontrado sentado, queixando-se de dor e com dificuldades para respirar. Com a ajuda de uma maca, os socorristas começaram a descida.
Depois de uma operação complexa por conta da dificuldade do terreno estreito, os socorristas tiveram que improvisar uma rede de varas com a ajuda dos arhuacos. Só assim eles conseguiram chegar no acampamento base.
“O fato de Santiago não ter deixado (Bermúdez) sozinho foi fundamental para que ele pudesse chegar vivo para se encontrar com sua família”, destacou um dos socorristas.