O plano de recuperação das Americanas está sendo conduzido pelo economista Leonardo Coelho, uma das referências em gestão de crise. Depois de trabalhar por 13 anos na subsidiária brasileira da Siemens, ele se tornou especialista em salvar empresas ao atuar no escritório de reestruturações Alvarez e Marsal.
Uma das providências de Leonardo foi leiloar o jatinho Embraer Phenom 300 (foto) por R$ 47 milhões e passar a usar avião comercial para as frequentes viagens entre Rio e São Paulo. 'Questão de coerência. Não posso estar em recuperação judicial e ter jatinho', disse.
Os sócios proprietários das Lojas Americanas - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira - injetaram do próprio bolso R$ 3,5 bilhões para garantir pagamentos num momento em que as vendas no site caíram mais de 80% e as linhas de crédito foram interrompidas por falta de confiança na reestruturação da companhia.
No dia 18/3, as Americanas quitaram as dívidas com credores trabalhistas e com pequenos e microempreendedores. Essa primeira etapa de pagamentos totaliza R$ 4 bilhões. “O início da fase de pagamentos destrava a reestruturação financeira, com a retomada de prazo junto aos fornecedores”, afirmou a Americanas numa nota à imprensa.
Em fevereiro de 2024, a Justiça do RJ aceitou proposta de empréstimo à Americanas feita pelo trio de donos - Lemann, Telles e Sicupira - para garantir um capital de giro à empresa.
Das 1,7 mil lojas no País, 130 foram fechadas e 800 vagas extintas — entre demissões ou não reposição de funcionários que pediram para sair da empresa. A companhia ainda mantém 35 mil funcionários.
Leonardo Coelho afirmou que, além de recuperar a empresa, buscará compensação por parte das pessoas que foram responsáveis pela fraude. 'A ação criminal não está com a gente, mas vamos atrás de todo mundo que participou da fraude para buscar esse ressarcimento'. Coelho acha que os culpados serão indiciados ainda em 2024.
O plano de recuperação das Americanas tem quatro fases: estancar a crise; fortalecer a geração de caixa operacional; resgatar a cultura de empresa de varejo e, enfim, retomar o crescimento.
A fraude nas Americanas foi denunciada pelo ex-executivo da empresa Sérgio Rial em janeiro de 2023. Na ocasião, ele informou que o rombo era de R$ 20 bilhões, o que causou surpresa no mercado pelo volume gigantesco e pela impressão de crescimento que a cadeia de lojas produzia. Curiosamente, em 2021, a empresa havia anunciado o seu maior lucro histórico, atingindo R$ 731 milhões.
Em 2015, as Americanas ocupavam a quarta posição no ranking do IBEVAR - Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo. A empresa, uma das mais populares do Brasil, passava uma ideia de franca expansão.
A surpresa foi tão grande que logo surgiram memes indagando como ninguém percebeu antes um rombo daquele tamanho?
Correntistas lembraram que, por qualquer ninharia. já são pressionados pelos bancos. Como foi possível ninguém perceber 20 bilhões de buraco?
O impacto foi tão negativo que, na ocasião, a Globo se apressou para substituir as Americanas pelo Mercado Livre como patrocinador do Big Brother Brasil.
No dia 17/5/2023 foi instalada a CPI das Lojas Americanas na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas isso causou mais confusão do que efetividade nas investigações. Em setembro, a comissão anunciou que concluiu a apuração e que não tinha provas contra eventuais culpados pela fraude.
Na época da divulgação da crise, muitas pessoas ficaram com medo de fazer compras nas Americanas e não receber os produtos. O receio era, principalmente, com negócios pela internet. Mas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor informou que não havia necessidade de evitar as compras. E que a empresa estava comprometida a fazer as entregas nos prazos corretos.
O rombo foi descoberto quando a direção da Americanas percebeu que o valor referente à contabilidade dos nove primeiros meses de 2022 e de anos anteriores não havia sido registrado de forma correta na corporação.
O rombo foi encontrado no setor de fornecedores da empresa. Segundo especialistas do mercado, esta é uma das áreas mais delicadas porque contratos de alguns fornecedores receber vantagens para beneficiar outras partes.
As ações das Americanas despencaram por causa da crise. E a empresa entrou com o processo de recuperação judicial, que incluiu, em maio de 2023, o anúncio da venda da Hortifruti Natural da Terra.
Americanas S.A. (anteriormente Lojas Americanas S.A. e B2W Digital S.A.) foi fundada em 1929 em Niterói (RJ) pelo austríaco Max Landesmann e os americanos John Lee, Glen Matson, James Marshall e Batson Borger.
Em 1929, inauguraram a primeira Lojas Americanas, em Niterói com o slogan “Nada além de 2 mil réis”. No fim do primeiro ano, já eram quatro lojas: três no Rio e uma em São Paulo. O slogan era 'Nada além de 2 mil réis'.
A empresa cresceu de forma impressionante e, na época da fraude, tinha mais de 3.800 estabelecimentos físicos de venda em todo o Brasil, além de quatro e-commerce. O modelo tradicional de Lojas Americanas ocupa uma área média de vendas de 1.500 m² e catálogo de 60 mil itens.
A empresa também se adaptou ao mercado com lojas de outros tipos. As Americanas Express, por exemplo, passaram a ser compactas, com média de 400 metros quadrados de área de vendas e catálogo de 15 mil itens.
A empresa também criou a Americanas Local, sistema inaugurado em 2016, num formato de loja de conveniência, com tamanho reduzido e produtos alimentícios selecionados.
Pela internet, as vendas são feitas no site Americanas.com, e, além de negociar os produtos da própria rede, a companhia também tem parceiros que anunciam as mercadorias por intermédio da companhia.