O inquérito policial aponta Domingos Branco, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, e o irmão dele, Chiquinho Branco, deputado federal pelo União Brasil, como mandantes do crime. E o então chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa (foto), como autor do plano. Eles negam.
Rivaldo assumiu a chefia de Polícia Civil na véspera do crime e, segundo as investigações, fez o plano e, para evitar que o caso ganhasse conotação política, ordenou que o assassinato não fosse na saída da vereadora da Câmara.
O crime foi no Estácio, em direção à Tijuca. Marielle e Anderson morreram no local. O então deputado estadual Marcelo Freixo, hoje presidente da Embratur, liderava a Comissão de Direitos Humanos da Alerj (foto) e Marielle trabalhava com ele.
Freixo ( à esquerda na foto) fez vários encontros com Rivaldo (à doreita) sobre a investigação sem imaginar o envolvimento do delegado. Ele e as famílias das vítimas se surpreenderam com o resultado do inquérito.
A Polícia foi desvendando o caso com auxílio do recurso da delação premiada. Em julho de 2023 o ex-policial militar Élcio Queiroz fechou acordo de colaboração com as autoridades à frente das investigações
Élcio Queiroz confessou ter participado do assassinato dirigindo o Cobalt prata utilizado no atentado.
Na sua delação, que foi homologada pela Justiça, Queiroz confirmou que o ex-policial reformado Ronnie Lessa foi o autor dos disparos contra Marielle.
Ele ainda afirmou que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, vigiou a vereadora do PSOL e foi trocado por ele na emboscada. Muitas pessoas ficaram curiosas em saber como funciona uma delação premiada. Veja a seguir
Delação premiada é a forma popular como é conhecido o instrumento jurídico denominado colaboração premiada.
Por meio dela, o investigado que confessa um crime voluntariamente se dispõe a colaborar para a obtenção de provas ou aponta caminhos para elucidar crimes.
Como contrapartida, o Estado pode conceder benefícios ao colaborador no cumprimento da pena.
Cabe à defesa do investigado fazer a negociação com o Ministério Público ou o delegado.
Para ter acesso aos benefícios, o investigado precisa cumprir alguns requisitos, como identificar integrantes ou revelar a estrutura da organização criminosa.
O juiz só aparece no estágio seguinte, o da chamada homologação. Cabe a ele avaliar o conteúdo e decidir se valida ou não a colaboração. Os benefícios só podem ser concedidos após essa validação.
A depender do acordo, os benefícios para o colaborador podem ser de perdão, redução ou até substituição da pena privativa de liberdade.
Há outros direitos para o colaborador previstos na legislação, como medidas de proteção e cumprimento de pena em um presídio que não seja o mesmo em que estão os outros condenados.
Entretanto, a delação pode ser anulada pela justiça se ficar comprovado que o réu mentiu em algum momento do depoimento prestado a partir do acordo.
A prática da delação premiada ficou famosa durante a Operação Lava Jato, que teve no então juiz Sergio Moro o seu representante mais famoso.
Em 2014, o acordo de colaboração do doleiro Alberto Youssef revelou detalhes do esquema de corrupção na Petrobras.
Outros nomes investigados recorreram ao instituto em busca de aliviar suas penas. Casos de Nestor Cerveró, ex-presidente da Petrobras, e do empresário Marcelo Odebrecht (foto)..
A delação de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula, foi anulada pelo STF após a Policia Federal desmentir provas apresentadas por ele. O fato encorpou críticas do PT ao uso que a Lava Jato fez dessa ferramenta.
Outro acordo de delação que causou bastante impacto foi o do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral.
Condenado em mais de 20 processos por uma variedade de crimes, Cabral fez sua delação em 2019 e ela também foi anulada pelo STF dois anos depois.
O STF entendeu que a delação acordada com a Polícia Federal deveria ter sido avalizada pelo Ministério Público.
Em entrevista ao portal Metrópoles em março de 2003, Cabral declarou ter sido coagido pela PF e disse que mentiu ao acusar autoridades, como o ministro do STF Dias Toffoli.