O soviético Krikalev partiu a bordo da espaçonave Soyuz TM-12 para uma missão na estação Mir, localizada 400 km acima da superfície da Terra.
O cosmonauta soviético viajou para o espaço acompanhado do compatriota Anatoly Artsebarsky e da britânica Helen Sharman. A missão do trio era rotineira: fazer reparos e adaptações na Mir.
O lançamento da espaçonave ocorreu no cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, em missão prevista para durar cinco meses, mas que para Krikalev se estenderia por quase um ano.
Helen Sharman ficou apenas uma semana na Mir. A britânica retornou para a Terra com os dois cosmonautas substituídos por Artsebarsky e Krikalev.
Durante a empreitada espacial, ocorreu um evento histórico: a dissolução da União Soviética.
O caos político provocado pelo fim do país, com a independência de 15 repúblicas, deixou Krikalev "aprisionado" na estação.
A Rússia, "nova" pátria dos dois cosmonautas soviéticos, só tinha um profissional para substituir Artsebartsky e informou que seu companheiro deveria permanecer em órbita por tempo indefinido.
Havia ainda a promessa do governo soviético de que o próximo cosmonauta substituto enviado à Mir seria do Cazaquistão (mapa na foto), justamente uma das repúblicas a ser declarar independente durante a missão que levava Krikalev.
A permanência de Krikalev na estação em meio à dissolução de seu país natal fez o cosmonauta ficar conhecido como "o último cidadão soviético".
"Para nós foi algo inesperado, não entendíamos o que estava acontecendo", afirmou Krikalev no documentário "O último cidadão soviético", produzido pela rede britânica BBC.
Krikalev seguiu meses a fio na expedição ao lado de Alexander Volkov, o substituto de Anatoly Artsebarsky.
O cosmonauta ficou exposto aos riscos da longa permanência no espaço. Entre eles, alterações no sistema imunológico e perda de massa muscular e óssea. Além dos impactos psicológicos e emocionais que a situação provoca.
Com a renúncia do presidente Mikhail Gorbatchov em 25 de dezembro de 1991, Krivalev se tornou cidadão russo.
Leningrado, sua cidade natal, voltou a chamar-se São Petersburgo, nome oficial que levou até 1914.
Elena Terekhina, mulher de Krivalev, se comunicava com ele por rádio. "Estava tentando não falar com ele sobre coisas desagradáveis ??e acho que ele estava tentando fazer o mesmo", declarou ela no documentário da BBC.
Nascido em 1958, o cosmonauta com formação em engenharia mecânica já tinha participado de uma missão na Mir em 1988.
krikalev permaneceu no espaço por 312 dias. No período, ele circulou a terra cinco mil vezes.
O retorno do cosmonauta à terra firme, acompanhado de Alexander Volkov, ocorreu em 25 de março de 1992
De acordo com o documentário "O último cidadão soviético", Krikalev precisou da ajuda de quatro homens para descer da astronave e ficar de pé.
Estação que simbolizou por 15 anos o poderio soviético na exploração espacial, a Mir deixou de operar em 1992.
Em 2000, o Krikalev integrou a primeira tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS). Atualmente, ele é o diretor de missões tripuladas da Roscosmos, a agência espacial russa.