Apesar de qualquer cristão católico e batizado do sexo masculino poder ser eleito papa, tem sido regra, desde o fim do século 14, que o cargo mais alto da hierarquia da Igreja Católica seja ocupado por cardeais
De 252 atuais membros do Colégio Cardinalício, 138 podem votar em um conclave — processo de escolha de um novo líder —, embora o direito canônico estabeleça o número de eleitores em 120
Desse número, o jornalista vaticanólogo Edward Pentin — correspondente especialista em Vaticano há mais de 15 anos — seleciona 12 nomes prováveis para substituição do papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21/4)
No site Relatório do Colégio dos Cardeais, o jornalista elenca, primeiramente, 22 cardeais 'papabili' — ou 'papáveis' — e, dentre estes, 12 candidatos principais. Entre eles, porém, não há ordem de relevância ou existência de campanha para eventual eleição. A seguir, confira os nomes levantados por Pentin
Arcebispo Metropolitano de Esztergom-Budapeste, Hungria, desde 2003, Erd tem 72 anos. Ordenado sacerdote em 1975, passou por serviço paroquial e pela universidade, onde foi professor e pesquisador em universidades húngaras, argentinas e americanas
Defensor da estrutura hierárquica da Igreja, Péter é considerado um religioso culto, cauteloso e avesso a riscos. Foi um dos cardeais mais jovens a serem elevados ao Colégio Cardinalício, aos 51 anos em 2003, e é indicado como alguém que poderia 'restaurar' o Vaticano após o pontificado de Francisco
De acordo com Pentin, o cardial tem visão benigna a respeito do Islã, da Igreja Ortodoxa e do diálogo com religiões não cristãs. Embora seja a favor de 'apoio pastoral para aqueles que sofrem de atração pelo mesmo sexo', é firmemente contra a aceitação de uniões homossexuais e fortemente 'pró-vida'
Arcebispo de Bolonha, na Itália, o cardeal Matteo Maria Zuppi, nascido em Roma, tem 69 anos. Descrito por Pentin como 'estrela em rápida ascensão no episcopado italiano', faz parte da ala política de esquerda da Igreja Católica e provavelmente daria continuidade ao legado de Francisco
Ele ingressou no seminário após se formar em literatura e filosofia, em 1977, aos 22 anos. Ordenado em 1981, foi pároco, assistente eclesiástico, reitor de igreja e chefe de conselho sacerdotal e bispo auxiliar antes de ser nomeado arcebispo de Bolonha pelo papa Francisco, em 2015
Parte da comunidade leiga internacional de Santo Egídio, ele tem 'preocupação de longa data com pobres e marginalizados'. Apelidado como 'padre de rua', ele prega a rejeição do ódio e a concepção de solidariedade autêntica, abraça o pluralismo religioso e a fraternidade, bem como a ida a periferias para ajudar os que mais precisam — de crianças e idosos abandonados a viciados em drogas
Ex-funcionário de alto escalão do Vaticano, o cardeal guineense Robert Sarah tem 79 anos e mentalidade tradicional e ortodoxa. Apelidado de 'bispo bebê' por João Paulo II, foi o mais jovem bispo do mundo. Ele tinha 34 anos, em 1979, quando foi nomeado arcebispo de Conacri, capital da Guiné
Ele defendeu a comunhão na língua e se opôs à intercomunhão entre católicos e não católicos. Também discursou sobre 'males contemporâneos do aborto, da agenda homoafetiva e do islamismo' e escreveu um livro conjunto com Bento XVI sobre a crise do sacerdócio. Apesar de ter renunciado ao cargo que exercia no Vaticano, é muito presente em redes sociais e tem muitos apoiadores
Nascido em Manila, nas Filipinas, o cardeal Luis Antonio Gokim Tagle tem 67 anos e é pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização desde 2019, quando passou a residir em Roma a convite de papa Francisco. Formado em seminário jesuíta filipino, foi ordenado sacerdote em 1982 e logo tornou-se diretor espiritual, professor e posteriormente reitor de seminário
Apelidado de ‘Francisco asiático’, Luis Antonio possui atributos semelhantes aos de Jorge Bergolio, além de uma vasta experiência pastoral e administrativa combinada à formação teológica e histórica. Embora demonstre 'lado brincalhão', afinidade com jovens e casualidade durante celebrações de missas, é conhecido como 'negociador astuto' experiente em táticas políticas
Arcebispo Metropolitano de Colombo, Sri Lanka, Ranjith tem 77 anos e ingressou no seminário aos 18, depois de ser educado por irmãos Lassalistas. Enviado a Roma, foi ordenado sacerdote em 1975 pelo Papa São Paulo VI, na Praça de São Pedro
Parte de sociedade tradicional no Sri Lanka, Ranjith evita se envolver em questões relacionadas a casamento entre pessoas do mesmo sexo e questões de vida em geral, mas adota 'visão intransigente' sobre elas, defendendo ensinamentos da Igreja e condenando 'colonização ideológica'
Com o papa Francisco, manteve relação tranquila e compartilha preocupação pelos pobres, mas defende a pena de morte em certos casos e o capitalismo, em rejeição ao socialismo
Secretário de Estado do Vaticano desde 2013, o italiano Pietro Parolin tem 70 anos e é o membro de mais alto escalão do conclave. Ingressou no seminário aos 14 anos e foi ordenado sacerdote aos 25, em 1980. Em 1986, se tornou formalmente diplomata pelo Vaticano, tendo trabalhado em países como Nigéria, México e Espanha, além de ter dirigido relações com Vietnã, Coreia do Norte, Israel e China
Especialista em questões relativas ao Oriente Médio e à situação geopolítica da Ásia, é conhecido por defender pautas como desarmamento nuclear, aproximação com países comunistas e mediação. Apesar de ter sido coroinha quando jovem, nunca foi responsável por uma paróquia, uma vez que a carreira sacerdotal foi dedicada à diplomacia e à administração do Vaticano
Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa tem 60 anos e nasceu na Itália. Ingressou em seminário franciscano aos 11 anos e, aos 25, em 1990, foi ordenado sacerdote pelo então arcebispo de Bolonha. No mesmo ano, foi para Jerusalém, durante a Primeira Intifada, onde foi professor assistente em universidade, vigário-geral e superior em mosteiro
O cardeal tem 'desejo de respeitar as tradições e práticas ortodoxas da Igreja, mantendo-se, ao mesmo tempo, aberto à modernidade'; e reconhecimento de período confuso da história da Igreja, mas sem o desejo de voltar a uma era passada. Enfatiza preocupação com migrantes, diálogo inter-religioso e justiça social.
Arcebispo de Kinshasa, na República Democrática do Congo, o cardeal Ambongo Besungu tem 65 anos e é descrito por Pentin como 'apaixonado promotor da justiça social que se envolve destemidamente na política em nome dos pobres e dos que não têm voz'
Apesar de ser lúcido no que se trata de questões políticas, sociais e ambientais, é 'decididamente ortodoxo' no que diz respeito à fé católica: 'defende firmemente a família, o celibato sacerdotal e os ensinamentos morais da Igreja'. Pentin, porém, o considera 'contraditório' no que diz respeito a alguns valores cristãos
Arcebispo Metropolitano de Utrecht, Holanda, o holandês Eijk tem 71 anos. Ele concluiu estudos médicos iniciais na universidade antes de ingressar no seminário, no qual permaneceu ao mesmo tempo em que atuava em clínica médica. Foi ordenado padre em 1985 e, enquanto servia como capelão, se formou doutor em medicina
Ele defende a indissolubilidade do matrimônio, que também acredita ser possível apenas entre homem e mulher, e se opôs à bênção entre pessoas do mesmo sexo. Durante a pandemia de covid-19, foi defensor da vacinação.
Bispo de Estocolmo, Suécia, o cardeal Anders Arborelius tem 75 anos e foi denominado pelo próprio papa Francisco como 'modelo de liderança'. Segundo o pontífice que morreu nesta segunda, o sueco não tinha 'medo de nada', conversava 'com todos e não é contra ninguém'
Ortodoxo, defende ensinamentos da Igreja Católica sobre a vida, o celibato sacerdotal e se opõe à ordenação de mulheres. Se alinha a Francisco em questões relacionadas a meio ambiente e migração, inclusive de muçulmanos
Arcebispo de Yangon, Mianmar, o cardeal Charles Maung Bo tem 76 anos. Educado por salesianos na infância, decidiu que queria ser missionário e pároco e entrou para o seminário em 1962. Ordenado sacerdote salesiano em 1976, atuou em estados étnicos do país de maioria budista, inclusive em localidades de guerra armada, até a nomeação como arcebispo de Yangon, a capital, em 2003.
Amante das artes e dos esportes, é dramaturgo e tem devoção especial pela juventude. Foi leal e próximo a tanto o papa Bento XVI quanto ao papa Francisco — com quem, apesar de ser considerado 'solidamente ortodoxo', compartilha ideais de misericórdia, questões ambientais e mudanças climáticas
Arcebispo Metropolitano de Marselha, na França, o argelino Jean-Marc Aveline tem 66 anos e, segundo Pentin, era 'supostamente o cardeal ‘favorito’ do papa Francisco para sucedê-lo'. De tendência heterodoxa e expulso da Argélia ao exílio na França ainda criança, se dedica a questões de migração e diálogo inter-religioso
Apesar de, segundo Pentin, Aveline ser 'especialmente bem-visto pela esquerda política e eclesiástica', o argelino prefere não falar sobre questões delicadas, revelar inclinações políticas e manter atitude cautelosa. Também não demonstra 'militância agressiva' e, embora se apresente como figura liberal, está sempre propenso ao consenso
Apesar de não figurar entre os 'papáveis' na lista de Edward Pentin, o cardeal brasileiro Paulo Cezar Costa, arcebispo da Arquidiocese de Brasília, está entre os sete brasileiros votantes no Conclave. Ordenado sacerdote em 1992 em Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, o pároco, que foi também reitor de seminário e professor universitário, pode também ser nomeado papa
Considerado heterodoxo, é conhecido por assumir posições firmes em relação a ecologia e por ter sido opositor de Bento XVI. Apesar disso, se posicionou firmemente contra o aborto e em defesa da vida desde a concepção.