ESPIRITUALIDADE

A mediunidade à luz da ciência


Estudiosos e religiosos debatem mediunidade a partir de pesquisa em que se destacam padrões genéticos dessa atividade

Por Letícia Mouhamad, Lara Perpétuo
kleber sales

A partir de vivências

Presente em várias culturas ao longo da história, a mediunidade pode ser interpretada de diferentes maneiras, segundo as vivências de cada comunidade

Showbox Entertainment/Divulgacao

A partir de genes

Ora considerada um dom, ora entendida como a capacidade humana de se comunicar com pessoas falecidas ou entidades, a mediunidade é, também, investigada pela ciência como uma característica genética que altera o cérebro e permite perceber o mundo de forma particular

rawpixel/Divulgação

Padrões

Uma pesquisa divulgada neste ano identificou pela primeira vez possíveis padrões genéticos associadas à mediunidade

Courtesy of Dr. Santiago Unda

Codificação de proteínas

O estudo parte da hipótese de que médiuns, cuja capacidade de perceber certos fenômenos é mais aguçada, têm genes que codificam determinadas proteínas e podem estar associadas a uma maior permeabilidade do filtro cerebral, tornando-os mais sensíveis a essas experiências

SIAT

Marcadores genéticos

Publicada na 'Brazilian Journal of Psychiatry', a pesquisa investigou o exoma (sequenciamento de todos os genes que expressam proteínas) de 54 médiuns experientes e os comparou com o de seus parentes de primeiro grau que não possuem a habilidade mediúnica

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Genes únicos

Os resultados identificaram 33 genes que apresentam variações em pelo menos um terço dos médiuns estudados, mas não foram detectados entre seus familiares não médiuns

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Maior compreensão

'Se conseguirmos estabelecer uma relação entre o dom da mediunidade e alguns marcadores genéticos, poderíamos alargar a nossa compreensão dos mecanismos pelos quais percebemos o mundo ao nosso redor', diz o professor Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP)

Elisabeth Alves

Estimular

'Além disso, poderíamos detectar precocemente e estimular, em alguns indivíduos, os dons mediúnicos', sugere

Elias Medeiros/Esp. DN/D.A Press

Não existe 'loucura espírita'

Também a partir de experimentos científicos, foi constatado que a mediunidade não tem relação com transtornos mentais, como suspeitou-se por muito tempo

Caio Gomez/CB/D.A Press

Informações

'Outra linha de investigação visa averiguar se o médium efetivamente é capaz de obter informações, a partir dessas experiências, que ele não conseguiria obter por meios convencionais', explica o professor e psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, especialista em espiritualidade, religião e saúde mental

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Comunicação

Segundo o diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), André Siqueira, o líder religioso Allan Kardec destaca que a mediunidade 'não é sobrenatural, mas sim uma propriedade natural do ser humano, presente em diferentes graus em cada indivíduo, permitindo, assim, a comunicação entre os vivos e os espíritos'

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Capacidade orgânica

'Os estudos de Kardec revelaram que a mediunidade se manifesta de diversas formas, mas tendo como base a capacidade orgânica dos médiuns, que se apresenta em diferentes graus', completa Siqueira

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Investigação científica

'Os estudos confirmam a natureza orgânica da mediunidade, identificando componentes genéticos específicos nos médiuns. Essas descobertas corroboram a visão de Kardec de que a mediunidade é uma faculdade natural, parte da natureza humana, e não um fenômeno sobrenatural ou místico, devendo ser tratada como objeto da investigação científica'

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Umbanda iniciática

Para a umbanda iniciática, na preparação para o nascimento, as pessoas trazem do mundo espiritual o compromisso e a responsabilidade no vínculo estabelecido com as entidades

RAFAEL MARTINS

Duas dimensões

'Nós entendemos que tudo que se manifesta no corpo físico começa no espírito. Mediunidade é, portanto, uma característica, um processo de comunicação entre duas dimensões', ressalta Mãe Leila, sacerdotisa de dois terreiros do DF

Luiz Alves

De nascença

'Não acho que sejam todas, mas muitas pessoas nascem com algum tipo de mediunidade, pois existem várias formas de manifestar essa característica: por incorporação, clarividência, escuta, intuição, entre outros', acrescenta

RAFAEL MARTINS

Dom espiritual

Para Mãe Baiana de Oyá, presidente do Ilê Axé Oyá Bagan, todos nascem com a própria mediunidade, considerada, pelo candomblé, como um dom espiritual. 'Nossos antepassados deixam legados espirituais que influenciam em seus dons'

Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press

Os que sim e os que não

'Quando nasce uma criança no terreiro, sabemos, por meio dos oráculos, se ela vai entrar em transe no futuro ou não, porque algumas pessoas desenvolvem essa característica e incorporam, enquanto outras, distribuídas em cargos, nascem para tomar conta daqueles que incorporam', explica

Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press

Condição humana

Segundo Otávio Marchesini, presidente da Sociedade Teosófica no Brasil, 'a mediunidade não é algo que se adquira por herança genética, mas algo que talvez possa ser desenvolvido por intermédio de uma condição humana, que se utiliza da percepção e que toca conscientemente outros níveis ou planos de realidade'

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Não necessariamente espiritual

'Mas isso não necessariamente significa desenvolvimento espiritual. Existe uma possibilidade de se desenvolver um psiquismo sem que necessariamente isso represente uma capacidade já de afloramento e de vivência desperta das questões mais profundas da espiritualidade', conclui

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