Mesmo sem muita folia, cancelada para conter a disseminação do novo coronavírus, o carnaval inspirou o teste desta semana com o Honda WR-V. O modelo faz parte de uma leva de compactos que se fantasiam de utilitário-esportivo para render um lucro extra para o fabricante. Por este motivo, mais que uma avaliação, preparamos um paralelo entre o pretenso SUV e o modelo que serviu de base para o seu projeto, o Honda Fit.
Testamos o WR-V na versão de topo EXL, vendida por R$ 96.600. Longe de ser um carro ruim, nossa crítica eterna ao modelo é que ele não traz nada de significativo em relação ao bom e velho Fit para justificar os R$ 5 mil cobrados a mais, quando comparamos as versões comuns aos dois modelos. Preparamos a análise em cinco quesitos para que você mesmo tire suas conclusões e faça uma escolha consciente.
Apesar de pertencer a um segmento fora de moda (dos monovolumes) e já estar em fim de geração (sem a certeza de que será continuado), o Fit tem um visual mais agradável. Mesmo estando em uma geração anterior à do restante do mundo, o Fit é um modelo global e sua evolução estética é mais orgânica do que a do WR-V, que está mais para um SUV-puxadinho. As próprias linhas do Fit também não combinam com versões aventureiras.
Plataforma
Ainda que sejam o mesmo carro, as dimensões do Fit e do WR-V são diferentes. A plataforma é a mesma para ambos, mas, ainda assim, a distância entre-eixos do WR-V é maior em 2 centímetros. Um entre-eixos maior costuma resultar em um espaço interno melhor, pouco perceptível nesta comparação, mas também aumenta o espaço para manobrar.
O WRV também tem maior largura, obtida por meio do aumento das bitolas dos eixos, mas que pouco influencia no espaço interno. Como é de se esperar de um carro com proposta aventureira, a altura do WRV é maior em 7cm (incluindo o rack de teto). Em parte, esse ganho também foi obtido pela maior altura em relação ao solo. Curiosamente, o comprimento do Fit é maior em 3cm em relação ao WR-V, que leva a melhor no aperto do trânsito urbano.
O interior é exatamente igual entre os modelos. O painel é o mesmo, com a tela diminuta do sistema multimídia, repetindo o vacilo de não trazer velocímetro digital na tela do quadro de instrumentos. O acabamento fica devendo também por trazer excesso de plástico, empobrecendo o interior. Os dois modelos trazem boa visibilidade, o que é raro nos projetos atuais. Os bancos de ambos também trazem a mesma versatilidade, com várias configurações possíveis, para levar objetos longos, objetos altos, além do rebatimento convencional. O espaço interno pode ter ligeira vantagem para o WR-V (imperceptível), devido ao maior entre-eixos, mas o volume do porta-malas é igual entre os modelos, com volume de 363 litros.
Desempenho
WR-V e Fit trazem debaixo do capô o mesmo conjunto mecânico. O motor 1.5 é o bastante para dar um desempenho “ok” ao modelo. O câmbio automático tipo CVT tende a impor o seu ritmo de ganho gradual de velocidade, o que costuma resultar em um consumo menor de combustível. Mas, como os CVTs melhoraram muito, é possível tanto optar por um modo esportivo, que troca marchas com rotações mais elevadas, quanto pelas trocas manuais por aletas, já que ele simula sete marchas. Assim, o carro fica mais sob o controle do motorista, compensando uma performance sem muito brilho.
Mas o WR-V é mais pesado e aparenta ter aerodinâmica menos eficiente que a do Fit, o que compromete o desempenho. A suspensão é confortável e a direção elétrica traz pesos adequados para cada situação. A maior altura em relação ao solo do WR-V (mais 3,3cm que o Fit) pode ser um aliado interessante para superar os obstáculos urbanos, mas não chega a ser um atributo para o fora de estrada. Outra vantagem é a posição mais alta para dirigir, que permite mais visibilidade. Em contrapartida, veículos mais altos tendem a ter menos estabilidade.
Comparando as versões de topo EXL, ambos os modelos trazem os mesmos itens em destaque: airbags frontais, laterais e de cortina; assistente de estabilidade e tração; assistente de partida em aclive; ar-condicionado digital; sistema multimídia com tela tátil de 7 polegadas com interface para smartphones (pelo Android Auto e Apple CarPlay) e navegação nativa por GPS; revestimento dos bancos em couro; sistema de bancos Magic Seat Honda; retrovisores com rebatimento elétrico; faróis e luzes de rodagem diurna em LED; e faróis de neblina. Porém, o Honda Fit EXL custa R$ 92 mil, enquanto o WR-V de topo é vendido por R$ 96.600.
O Fit tem a seu favor o design mais orgânico e o preço menor. Em questões como acabamento, design do interior, espaço interno, porta-malas, desempenho e dimensões, existe um empate técnico entre os dois modelos, já que as vantagens (ora para um lado, ora para o outro) são pequenas. Já, em uma análise objetiva, o WR-V não leva a melhor em nenhum quesito relevante. Mas, como sabemos que a escolha de um veículo também passa pelo lado subjetivo, quem consegue enxergar o modelo como um SUV pode ficar satisfeito em participar do segmento da moda, sempre associado ao status. Enfim, na escolha, o soberano é sempre o cliente, que compra melhor quando está bem informado.