Turismo

Os segredos dos museus

Acompanhe como a museologia pode incentivar as boas práticas de preservação da memória cultural de um povo e ainda motivar o aumento de fluxo turístico nos territórios onde estão inseridos.

Os segredos dos museus -  (crédito: Uai Turismo)
Os segredos dos museus - (crédito: Uai Turismo)
Os segredos dos museus (Pictograma que representa a existência de museus nos destinos turísticos/ Detalhe do Museu Memorial do Pão de Queijo Geraldo Farias e Dália Farias - Januária/ MG (Foto: Acervo do Museu) )

Em nosso conteúdo de hoje, faremos uma reflexão sobre como a museologia, contribui com as boas práticas de preservação da memória cultural e motiva o aumento de fluxo turístico nas cidades, carecendo apenas de um bom acervo e fatos histórico sociais, que agucem a curiosidade dos turistas.

Por definição teórica, e pelo olhar da Organização Mundial do Turismo, “O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras” (OMT, 2001, p. 38).

Para que isso ocorra e seja comercialmente viável, o mercado necessita das motivações, das emoções, dos cheiros, dos sabores e da disposição das pessoas. Como somos movidos pela curiosidade e sempre dispostos a mais conhecimento, enxergamos nos museus e na museologia, atributos importantes e que contribuem fielmente com esta lógica.

A museologia

Como disciplina e na academia, a museologia estuda a teoria, o método e a prática dos museus, abordando aspectos como conservação, exposição, educação e gestão de acervos culturais.  

A minha geração cresceu aprendendo que estes equipamentos culturais, tem uma importância ímpar para a nossa formação intelectual e como as bibliotecas públicas, os museus deveriam ser um componente inevitável para os municípios brasileiros.

Para embasar teoricamente esta reflexão, convidei a museóloga mineira Mariane Barros Tassar de Almeida,  para me ajudar, contribuindo com informações mais técnicas e teóricas sobre a museologia e vejam o que ela comenta: “A palavra museologia, cunhada na Alemanha do século XIX e levada logo após à França onde teve seu maior desenvolvimento conceitual acompanhando a evolução alvoroçada dos museus do período, chega ao Brasil na década de 30, dentro do contexto de consolidação dos museus nacionais do Rio de Janeiro. Utilizada ainda de forma mais informal, para definir as gestões administrativas dos museus, começou a se confundir com outra palavra usada à época para expressar suas técnicas e conteúdos, a museografia.

Esta confusão levou o ICOM, em nome de seu primeiro diretor Georges Henri Rivière, a propor a definição de Museologia como a “ciência que tem como estudo a missão e organização do museu”.

Apesar de muito próximas, o que ainda resultou por algum tempo discussões acaloradas entre as correntes de pensamento que moldavam o entendimento da área durante boa parte do século XX, a Museologia como conceito vai além de apenas entender suas técnicas.

Ao jogar no google a definição do termo, temos resultados como conjunto de conhecimentos científicos, técnicos e práticos que dizem respeito à conservação, classificação e apresentação dos acervos de museus”.

Muito bom recebermos informações seguras e que respaldam a importância da museologia no contexto mundial, não é mesmo? 

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A importância da museologia

Fato é, que a museologia desempenha um papel vital na preservação, educação e promoção da cultura e história no mundo e isto não é diferente no Brasil. É fundamental superar os desafios para que a rede museológica seja cada vez mais fortalecida e para que consigamos garantir o acesso ao patrimônio cultural brasileiro, que é tão rico.

Seguindo em sua contribuição, Mariane comenta, “o homem, dotado de sensibilidades, razão e memória lê e apreende o patrimônio, a paisagem que o circula e tem a capacidade de agir sobre eles por intermédio de seu acesso e fruição, tornando estes elementos testemunhas das dinâmicas, dos processos sociais do seu e de outros tempos. A função da museologia, então, é criar ou fortalecer esse laço, a partir de suas diversas abordagens e dos espaços museais e musealizados, que são os lugares de memória intra e extramuros do museu.

Para isso, no Brasil, a área passou, e ainda passa, por diversos desafios no âmbito político e regulatório, tendo muitos avanços e retrocessos ao longo do período em que se consolidou. A formulação do IPHAN como conhecemos hoje e a instituição do IBRAM, que nos regem, o desenvolvimento de políticas públicas para a área como a Política Nacional de Museus, o Estatuto de Museus, a regulamentação da profissão de Museólogo, entre outros elementos importantes para o setor são conquistas alcançadas em momentos de respiros democráticos e projetos políticos que entendem a necessidade de se fortalecer as relações identitárias entre os sujeitos e os marcadores de memória que nos constituem enquanto sociedade, derivando deste processo cidadãos conscientes e dispostos a reconhecer não apenas a si mesmo e seus semelhantes como também o outro.”                                  

Museu Memorial do Pão de Queijo Geraldo Farias e Dália Farias                 

Mestra Quitandeira Dália Farias (Foto: Acervo Museu do Pão de Queijo)

Para ilustrar efetivamente o conteúdo de hoje, poderia utilizar exemplos dos maiores e mais visitados museus mundo afora, mas penso que é tão importante reforçarmos a necessidade de preservar, respeitar e propagar a memória cultural mais próxima de nós, que optei por apresentar a vocês, uma iniciativa do município de Januária, em Minas Gerais, que mantém na cidade, o “Museu Memorial do Pão de Queijo Geraldo Farias e Dália Farias”

Um museu do “Pão de Queijo”, mais mineiro impossível, concordam?

É bom dizer, que Januária, é um município que está vinculado à Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais e é um dos destinos turísticos do Norte de Minas que mais atrai visitantes.

O bom, é que boa parte desse fluxo, não se dá apenas por conta das belezas naturais e pelas trilhas ecológicas, mas especialmente pela preocupação com a preservação da memória que pode ser observada através dos casarios coloniais da região e pela riqueza social valorizada como legado cultural da cidade.

Localizada a 600 quilômetros da capital mineira, ao Norte do estado, Januária, segundo a história, teve o seu povoado iniciado por bandeirantes e em 1860, foi categorizada como uma cidade. Hoje, Januária agrega valor cultural, turístico e ambiental, figurando como a mais antiga do circuito Velho Chico.

Voltando ao Museu Memorial do Pão de Queijo Geraldo Farias e Dália Farias, consegui as informações por meio da contribuição do sempre gentil e solícito Sil Viana, que hoje dirige este importante equipamento cultural da cidade.

Mestre Geraldo Farias (Foto: Acervo do Museu do Pão de Queijo)

O Museu Memorial do Pão de Queijo Geraldo Farias e Dália Farias foi criado na cidade no dia 12 de janeiro de 2013, durante as comemorações do Centenário do Ano Cultural Mestre Geraldo Farias.

Segundo Viana, “O espaço homenageia o mestre Sanfoneiro, compositor e quitandeiro Geraldo Farias e a mestra quitandeira e articuladora cultural Dália Farias.”

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Por força da rica trajetória social, Geraldo e Dália Farias, receberam inúmeras homenagens em reconhecimento pela contribuição na construção da identidade cultural do município de Januária e região norte mineira. Esse museu Memorial é considerado como o primeiro espaço museal dessa temática no Estado de Minas Gerais, tendo como intenção a preservação, valorização, divulgação e salvaguarda da tradição da cultura do pão de queijo e o importante valor dado ao ofício das quitandeiras.

Seu idealizador foi o professor e intelectual barranqueiro, Edilson Geraldo Viana, o saudoso professor Diu Farias, filho do casal e, que, na época, era membro do Conselho Municipal de Cultura e de Preservação do Patrimônio Histórico de Januária.

Acervo do museu

O acervo do museu memorial reúne aproximadamente 144 objetos catalogados, incluindo fotografias históricas, atributos, instrumentos musicais, documentos e utensílios gastronômicos de grande valor cultural e histórico que pertenceram a tradição secular familiar da mestra Dália Farias.

Boa parte deste acervo foi utilizado na preparação das quitandas e foi cuidadosamente guardado por ela ao longo dos anos, já que mestra Dália, era bisneta, neta e filha de tradicionais quitandeiras do sertão mineiro e por isso, fez jus à tradição familiar.

Hoje o Museu Memorial é reconhecido pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM e pelo Sistema Estadual de Museus de Minas Gerais e integra programações externas e internas, tais como eventos que prezam pela preservação patrimonial, educativa e socioculturais.

O museu mantêm ainda, exposições permanentes, temporárias e itinerantes e antenado com os novos tempos, garante a sua participação em congressos no Brasil e no exterior.

Sobre os Patronos

Geraldo Alves de Farias e Dália Alexandrina Viana de Farias, nasceram no distrito de Levinópolis, antigo Mocambo, município de Januária. Ele em 1913 e ela em 1924.

Mestre Geraldo era um exímio sanfoneiro, compositor e quitandeiro. Por seu trabalho, prevaleceu no município de Januária a tradição do forró pé de serra. Isso fez de Geraldo, o responsável pela animação das festas juninas, bailes, festejos da Colônia dos Pescadores e os saraus e bailes que aconteciam dentro dos vapores que navegavam no Rio São Francisco.

Ele foi uma das personalidades mais influentes da Cultura januarense do século XX, sendo consagrado como o Rei do Forró no município de Januária e região. 

Mestra Dália, quitandeira, mãe, mulher moderna e empreendedora, líder comunitária, articuladora cultural, detentora de saberes e fazeres ancestrais. Década após década, D. Dália exerceu o ofício de quitandeira, seguindo a tradição da família, tornando – se com outras mulheres da sua época a iniciadora da tradição das quitandeiras nas barrancas do Rio São Francisco.

Minas Gerais e as suas Cidades Históricas, realmente são algo a parte no contexto turístico brasileiro, por isso é que vale a pena conhecer Januária e ter a oportunidade de vivenciar uma experiência imersiva na história e cultura do pão de queijo, um dos produtos mais emblemáticos da culinária mineira.  

Agende sua visita

Se você se interessou pelos segredos do Pão de Queijo e história dos fundadores do museu, prepare a sua viagem e siga até a Rua Geraldo Alves de Faria, nº 105, no centro histórico de Januária em Minas Gerais.

Se quiser informações antecipadas, ligue para (38)99848-2059 ou procure o atual gestor do museu pelo e-mail: silfarlleyvinicius@gmail.com

Por lá, você poderá fazer uma visita guiada, participar de oficinas de quitandas típicas, de uma oficina de educação patrimonial e conhecer o acervo que conta parte da história da cidade e da região, proporcionando uma experiência deliciosa e enriquecedora!

Não perca esta oportunidade, programe logo a sua viagem!

Até a próxima.

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ubiraney.silva
postado em 16/11/2024 09:56
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