Uma das mais tradicionais receitas da América Latina vem ganhando espaço na gastronomia no Brasil. Um ensopado com feijão branco, abóbora, milho e carnes defumadas é prato ideal para aqueles dias mais frios. O locro (do quíchua ruqru ou luqro) muito consumido na região da Cordilheira dos Andes, da Argentina até o sul da Colômbia, passando pelo Equador, Peru e Bolívia tem a simplicidade da culinária latino-americana aliada as influências da imigração.
Culinária e Identidades Latinas
Em templos de redescoberta da própria identidade, a América Latina é um prato cheio para cozinheiros, chefs, restauranters, e curiosos contarem novas histórias sobre uma das regiões mais colonizadas do mundo. Embora esses países sempre buscassem a independência, a miscigenação culinária é um dos grandes legados dessa história tão fascinante (e muitas vezes intrigante) da vinda de europeus para a América.
O locro tem suas raízes na dieta dos povos indígenas dos Andes, que já utilizavam ingredientes como batatas, abóboras e milho muito antes da chegada dos espanhóis. Com o tempo, e a introdução de novos ingredientes trazidos pelos colonizadores, como carnes de porco e bovina, o prato se modificou, mas manteve sua essência original, embora tenha várias receitas de acordo com cada região.
Um prato de Celebrações
O locro não é apenas um prato nutritivo, mas também um símbolo da identidade andina, representando a mistura das tradições indígenas com as influências espanholas. Ele é muitas vezes associado a festividades e celebrações, sendo um prato que traz consigo um senso de comunidade e pertencimento.
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Quem vai ao Peru, a região de Cuszo, fica fascinado com a cultura andina preservada em atrações turísticas, em apresentações simples em restaurantes típicos. É a celebração de muitas origens, que precisam ser prestigiadas, mantidas. E, sinceramente, o Peru faz como ninguém. Talvez por isso o país seja 11 vezes campeão como melhor gastronomia do mundo, em 13 anos de premiação no World Travel Awards.
Da Argentina ao Equador
No Equador, o locro também ocupa espaço na culinária nacional. No entanto, a versão equatoriana do locro é distinta das encontradas em outros países andinos, como Peru, Bolívia e Argentina. Aqui é geralmente associado a sopas cremosas. E também servido em celebrações como a Inti Raymi, festival que homenageia o Deus Sol e agradece a Pacha Mama pelas colheitas.
Na Bolívia, assim como em outros países andinos, não é apenas um prato, mas uma representação da identidade cultural e das tradições ancestrais. Ele é frequentemente servido em ocasiões especiais, como festividades locais e celebrações familiares. Devido ao seu valor nutritivo e à sua capacidade de aquecer o corpo, é particularmente apreciado em comunidades rurais e montanhosas.
Quem vai a Buenos Aires conhece bem a fama das milanesas em lojas especializadas que crescem na cidade. Mas a gastronomia Argentina tem sua origem nos Pampas, com pratos a base de milho como os Tamales e Humitas, consumidos até hoje, principalmente no norte do país. Aqui o locro é mais do que uma simples refeição, ele carrega um profundo significado cultural e histórico. É um prato que remonta às tradições indígenas, adaptado ao longo dos séculos com influências espanholas e crioulas. O locro é visto como uma comida de união de diferentes regiões e pessoas, em torno de uma refeição comum.
Tierra Del Fuego
Em Curitiba, por exemplo, o Restaurante argentino Tierra Del Fuego serve o autêntico “Locro” no cardápio de inverno do festival BomGourmet. A chef Eva dos Santos traz toda essa ancestralidade da comida andina para um contexto gastronômico repleto de novidades, de contemporaneidade, o que mostra mais uma vez a força da culinária regional, repleta de identidades, de universalidade. É olhando para dentro que nos tornamos competitivos, atraentes e reconhecidos. Provei o locro do Tierra Del Fuego querendo repetir mais e mais. Impecável.
Em Belo Horizonte, o restaurante Massa Madre, também argentino, fez um descontraído protesto nas redes sociais: “Vai ter locro, sim!”. E embora o prato seja andino, são os restaurantes argentinos que mais divulgam o locro por aqui, deixando a receita tão popular na Argentina como a é a feijoada no Brasil.
Ancestralidade e Memórias Afetivas
O locro também está em minhas memórias afetivas. Minha sogra, peruana, com seu jeitinho afetivo de agradar pela boa cozinha, fazia um ensopado de comer rezando. Chipas, lomitos saltados… são histórias e memórias de imigração, de latino americanidade que o mundo precisa conhecer, provar, comer. Bravo!
Thiago Paes é colunista de Turismo & Gastronomia. Esta nas redes sociais como @PaesPeloMundo. É apresentador no Travel Box Brazil. Press contato@paespelomundo.com.br
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