Chegar ao ápice, ao topo, maximizando sabores, é uma tarefa que requer tempo, maturidade, identidade para qualquer chef de cozinha. Criar algo pensado para ser simples, sofisticado, para um público exigente, conhecedor das melhores referências pelo mundo não é algo fácil. Mas em Curitiba, um restaurante cheio de personalidade na arquitetura e no prato vem construindo um novo patamar na gastronomia de alto padrão local.
O DUQ Gastronomia é daqueles lugares que você vai descortinando aos poucos. A intervenção artística no muro externo direcionando o cliente para o contraste da sobriedade do ambiente interno, mostra que o entorno do centro da cidade e todas as suas possibilidades e ressignificações fazem parte da linguagem urbana e cosmopolita que propõe o restaurante, do design ao menu.
Drinks autorais
E por falar em menu, provei uma interessante combinação de sabores, ingredientes e texturas que a todo momento me remetia a saudabilidade, a imigração, a criativa possibilidade de surpreender no simples, sem exageros, sem ostentações.
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Para começar, um welcome drink de champanhe – pinot noir, o Moutard Grand Cuveé Brut, servido pelo próprio sommelier Vinícius Chupil, uma personalidade da enogastronomia da cidade. Conhecedor dos melhores rótulos e que já esteve a frente de outras boas casas curitibanas. Vinícius teve a missão generosa de harmonizar todo o menu desta noite como um maestro de uma orquestra. Entre vinhos e drinks autorais, destaque para o Snooze, uma combinação de Jonny Walker Double Black, Jerez Fino, Bitter de cacau e morango.
Petiscos do DUQ Gastronomia
De entrada, um trio de berinjela em diferentes texturas. Ainda um belíssimo tartar de mignon, finalizando com rã à provençal, em sabores que iam dos mais afetivos aos surpreendentes. E o que mais chama atenção no menu de petiscos do DUQ é mais uma vez a elegante missão de fazer o simples bem-feito, onde temperos não se sobrepõem aos ingredientes, onde cada coisa foi pensada para ser exatamente como se apresenta. A leveza do tartar preparou o paladar para a intensidade do azeite super temperado à Provence nesse patrimônio da culinária francesa. Afinal, mais de três mil toneladas de rãs são consumidas por ano na França.
Pratos principais
No principal, o suculento stinco de cordeiro veio acompanhado de “fregola sarda” uma massa típica da Sardenha, na Itália, feita à base de sêmola, que levou o paladar da rusticidade da carne a leveza da massa molhadinha, grudenta e quase pueril. Uma combinação que deixa de lado a obviedade dos risotos, das massas frescas e chega para surpreender com o frescor da brunoise de legumes (legumes cortados em pequenos pedaços). Outro principal que provei foi a coxa de pato confitada (confit de canard), um clássico da gastronomia francesa, com toques de laranja e brócolis grelhados.
Tudo obra do chef Felipe Miyake e sua equipe que trabalha na linda cozinha aberta ao centro do restaurante, convidando a todos para que acompanhe a orquestra que é a beleza do cozinhar, do servir e o frescor de tudo isso.
Para finalizar
Por fim, a sobremesa que vem se tornando marca do Chef Felipe. Várias, dezenas, mil folhas leves e crocantes que derretem na boca. Au créme. Impecável. Momento para, em silêncio, escutar o barulhinho bom do croc-croc das folhas partindo.
O fine dinning é um desafio em tempos de pouco tempo para tudo. A arte de nos fazer sentar a mesa e degustar com delicadeza o talento e a proposta de um bom cozinheiro deve ser reverenciada. Vide o sucesso que prêmios como o Michelin mantém ao estrelar o fine dinning de centenas de restaurantes pelo mundo – ainda que tenha que se adaptar aos novos tempos e incluir os bons, bonitos e descontraídos, ou seja, “os rápidos” (os big gourmand), é uma reverência.
A culinária do mundo está no Brasil
O DUQ, o Felipe, o Vinícius poderiam estar em Nova Iorque, em Barcelona, em Dubai entre personalidades estreladas do universo gastronômico. Estar em Curitiba é um presente para a cidade que a cada dia ganha novos espaços, empreendimentos, retendo e atraindo novos talentos. É o fenômeno da desmetropolização da boa gastronomia que vem espalhando por outros centros o melhor da boa mesa.
Viajar para comer bem é um desejo de todos nós que apreciamos culturas, vivências, trajetórias e, de certo, estamos redescobrindo um Brasil ainda repleto de influências estrangeiras, de culinárias de imigração, de miscigenação e um novo olhar para gastronomia local. Assim como na Itália ou na França o turismo gastronômico no Brasil pode ser repensado, por nós mesmos, os clientes. Afinal a culinária do mundo está aqui, reinventada e redesenhada com nossa criatividade. O DUQ Gastronomia é daqueles lugares cheios de estrelas para se conquistar, o suprassumo da sofisticação do simples. Bravo!
Thiago Paes é colunista de viagem e gastronomia e está nas redes sociais como @PaesPeloMundo. Apresentador do Travel Box Brazil – contato@paespelomundo.com.br
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