Uma das mais singelas experiências que vivi, foi em uma reunião de comunidade para eleger uma diretoria, no espaço externo da Associação Comunitária da Associação de Pequenos Produtores Rurais do PA Monte Pio, que fica no extenso território do município de Água Azul do Norte no estado do Pará.
Atuar em projetos socioambientais pelo Brasil, tem sido uma experiência realmente rica, diversificada e muito interessante. A cada incursão nos vemos em situações bastante curiosas, diferentes do que conhecemos como rotinas de trabalho, mas ao mesmo tempo nos dão a dimensão da força das comunidades rurais por exemplo e principalmente da importância da percepção do papel cidadão de cada brasileiro, independente do local onde estejam inseridos.
Naquele encontro, a comunidade se reunia para mais uma vez renovarem a diretoria de uma associação comunitária, entidade que representa os anseios de todos os moradores daquele assentamento e que reconhecem a importância e a representatividade do associativismo bem como da força comunitária, tão simbólica para todos.
Um encontro muito interessante
O interessante, é que o encontro aconteceu em um espaço externo da sede da Associação, localizado em uma das estradas de terra do PA Monte Pio, em um final de tarde. O fato da escolha da área externa da sede para a atividade, foi que com o avançar do horário, ficaria difícil acontecer no interior do barracão de madeira, uma vez que o local estava sem o abastecimento da energia elétrica. O motivo, não achei simpático investigar!
A cena estava interessantíssima! Homens, mulheres, jovens, adolescentes e até crianças reunidos eufóricos para composição das novas chapas e em seguida ao pleito, participar do anúncio da chapa vitoriosa.
Achei muito interessante o entusiasmo e disposição com que a comunidade se reuniu para uma atividade importante, mas convenhamos muito enfadonha. A meu ver, ponto positivo para o PA Monte Pio.
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Em seguida, com a abertura dos trabalhos, foi apresentado aos presentes, pela líder comunitária Dona Maria dos Milagres Pinto, a necessidade da atenção de todos, uma vez, que foram convidados a estarem ali, a partir de um Edital de Convocação para eleição e posse da nova diretoria da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Monte Pio e para a aprovação da Segunda Reforma do Estatuto Social da Associação.
Como consultor social, assistir estas cenas, em locais tão simbólicos, para quem vive em gabinetes, foi motivo de muito orgulho e gratidão à humildade e singeleza do povo simples que sobrevive nesse Brasil tão desigual socialmente falando.
Trabalho com alegria
Com a aquiescência de todos os presentes sobre a pauta proposta, rapidamente a líder Comunitária Maria dos Milagres iniciou a atividade, solicitando a ajuda dos consultores presentes.
Assim foi feito, agradecemos a todos por podermos participar daquela rica experiência e orientamos a todos sobre os procedimentos daquele momento em diante e sobre a obediência aos ritos formais, para apresentação de chapa, aprovação dos nomes que surgiriam, eleição e posse dos membros nomeados e posteriormente após a posse, abertura de um encontro para a leitura do novo texto e aprovação pela assembleia, da segunda reforma do estatuto social.
Seria um fim de tarde e início de noite de muito trabalho, mas o surpreendente ânimo da comunidade presente, transformava esse ritual, tecnicamente chato, em uma prazerosa atividade social com os moradores da região.
Aparentemente aquela alegria toda se deu pelo fato de finalmente terem uma rara oportunidade para se encontrarem!
Com a evolução da atividade toda registrada em uma enorme ata, os ritos foram devidamente seguidos na cadência natural da atividade, o estatuto foi integralmente lido e aprovado pela assembleia, que também elegeu, após a apresentação da chapa única apresentada, a nova diretoria, por aclamação tendo a nova composição um diferencial não menos surpreendente.
A nova diretoria
Naquele começo de noite, Dona Maria dos Milagres teve sua liderança novamente chancelada pela comunidade e daquele momento em diante, passava a presidir uma nova diretoria com duas mulheres ocupando os maiores cargos de liderança.
Aos homens que participaram da chapa, couberam os cargos secundários, não menos importantes, mas que não demandam tanto a tomada de decisão sobre os rumos daquela entidade.
Uma outra curiosa percepção, foi a presença de jovens assumindo os postos no conselho fiscal, um grupo que tem um papel importante no que diz respeito à fiscalização das ações e aprovação das contas dos mandatários.
Já como nova presidente da entidade, Maria dos Milagres em tom emocionado, relata também, que em suas andanças à cata de benefícios para a região, sempre esbarrou na exigência de uma personalidade jurídica, tanto nas abordagens do setor público, quanto nas abordagens no setor privado e que aquele momento era de muita importância para toda a comunidade e região.
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Os agentes técnicos da consultoria presente explicaram a todos a função do Estatuto Social para as entidades em geral e comunicaram, que após a eleição da nova diretoria, o próximo e primeiro ato da nova direção seria a leitura e aprovação do texto da segunda reforma do estatuto social da entidade, que agora vem alinhado com o Marco Regulatório do 3º Setor e com o novo código civil brasileiro.
Após a leitura na íntegra do novo Estatuto Social, a presidente solicita a aprovação do documento pela assembleia, que por aclamação aprova a segunda reforma do estatuto social, com as inserções sugeridas durante a leitura corrida do documento.
Momento chato mas necessário e significativo
Percebam, meus caros leitores? Tudo isso não passa de um rito formal para a organização de uma entidade do 3º setor, mas a embalagem, o cenário, a rusticidade emblemática do interior brasileiro e a força das pessoas ali presentes são tão significativas, que esse momento, teoricamente enfadonho, para mim serviu como um grande aprendizado sobre a importância de todos nós oferecermos a nossa contribuição para o desenvolvimento social e para a promoção humana nesse país.
É deste “momento chatinho” que saiu a legalidade para que aquela comunidade do PA Monte Pio, no sudoeste do Pará, possa pleitear suas necessidades, captar seus recursos, escrever e apresentar seus projetos de desenvolvimento e ter a força cidadã para serem reconhecidos e respeitados no cenário político e corporativo das instituições.
Para mim, todas as experiências profissionais se tornam vivências turísticas conhecendo novos territórios, vivenciando práticas culturais muito genuínas, compartilhando momentos gastronômicos curiosos e com sabores dos mais variados, bons e ruins, diga-se de passagem, mas que estão cada vez mais enriquecendo meu cérebro, que não para um minuto sequer!
É essa efervescência do povo brasileiro que me motiva a seguir em frente e querer sempre fazer bem a minha parte no que tange à contribuição social para o desenvolvimento do nosso país.
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