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O carnaval e a folia de quem trabalha

Em plena quarta-feira de cinzas, pós carnaval, é claro que serei um pouco óbvia e falarei da festa de momo. Porém, mais do que reforçar o que já vem sendo falado, sobre os principais destinos, a variedade de blocos, a criatividade das fantasias, a festa de cores dos desfiles das escolas de samba, os memes e piadas que surgem no período, a reflexão de hoje é sobre a folia de quem está passando os dias “de crachá”!

O período do carnaval é um marco no calendário brasileiro, é um dos períodos de pico para o setor de turismo, seja nos destinos em que se celebram os dias, seja naqueles que atraem quem quer fugir da festa. Fato é que os 5 dias de folia são responsáveis por movimentar consideravelmente a economia e criar oportunidades diversas para quem precisa fazer uma renda extra. Seja na hotelaria, seja em bares e restaurantes, seja no acesso aos atrativos, passando pelos casos mais pontuais e direcionados para a festa, como vendedores ambulantes, lojas de festas e fantasias, festas privadas, etc.

Mas, cumpre destacar uma turma que é praticamente invisível, e só é vista quando algo não sai conforme o planejado. Nesta categoria estão os garis, policiais, técnicos de som e luz, coreógrafos, costureiras, mecânicos, recepcionistas, assessores de imprensa, taxistas e motoristas de aplicativo, motoristas de ônibus, cordeiros, agentes de trânsito, músicos, percussionistas, entre tantos outros. São profissionais, tanto de serviços públicos quanto privados, que possuem uma responsabilidade enorme e uma relevância sem igual para que toda a festa aconteça de forma segura, divertida, saudável, e claro, atendendo às expectativas do público.

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Falo que são invisíveis porque, em geral, não são muito citados ou lembrados, mas basta um problema no carro de som, uma limpeza que não seja feita, uma rua mal sinalizada, o ônibus que não passa, para percebermos, o que deveria ser óbvio: não se faz uma festa sem a dedicação de profissionais dos mais diversos perfis e conhecimentos.

Muitos destes profissionais são diretamente vinculados aos setores da economia criativa, à exemplo de músicos, percussionistas, coreógrafos, fotógrafos, cinegrafistas, costureiras e tantos outros. Festas e celebrações como o carnaval garantem trabalho para um número grande de profissionais e reforçam como tais eventos são importantes para a economia e para a geração de trabalho para profissionais em nível operacional, tático e estratégico.

Um dos desafios é identificar como o carnaval pode se tornar uma oportunidade para além dos 5 dias de folia em fevereiro. Alguns atores do carnaval nas cidades do Rio de Janeiro e Salvador já conseguem ampliar as atividades das festas com uma série de ensaios prévios de blocos, trios, escolas de samba, visitas aos barracões, aulas de samba e percussão ofertadas tanto para turistas como para cidadãos comuns.

Outros destinos de carnaval, como Recife, Olinda, Belo Horizonte, Brasília, passam também a ter esse desafio pela frente. Isso porque, a ampliação da festa e sua crescente profissionalização, também impacta em maior demanda por recursos para aquisição de equipamentos e instrumentos, aluguel de trios e carros de som, bem como, toda a identidade visual, fantasias, gestão de redes e comunicação, organização de bateria, cordas, cachês, etc, a fim de fazer com que a execução dos festejos seja cada vez mais primorosa.

Um ponto interessante é que o carnaval, especialmente as agremiações de escolas de samba e alguns blocos de rua, nascem em periferia e favelas, e a relação afetiva e cultural da comunidade com a festa ganha outras dimensões. Ao ampliar a realização de atividades vinculadas ao carnaval ao longo do ano, existe a possibilidade de criar novas oportunidades de trabalho e ao mesmo tempo, descobrir, valorizar e desenvolver talentos em torno da economia criativa, criando oportunidades reais de inclusão econômica para uma população em vulnerabilidade.

Um exemplo muito especial é o Bloco Seu Vizinho, nascido no Aglomerado da Serra em Belo Horizonte, e que, além do bloco, oferece a Escola de Artes Livre e Periférica e promove o protagonismo periférico. Com iniciativas de dança, percussão, música, audiovisual, o projeto tem realizado uma série de intervenções na comunidade e, consegue ser uma agente de transformação local. Em 2024, o bloco saiu no sábado, na comunidade, levando uma multidão e contou com a participação de MC Carol e Djonga, um dos principais nomes do Rap Nacional.

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A realização de eventos e ações com o tema do carnaval ao longo do ano pode ser uma estratégia para garantir recursos para o período oficial do carnaval e criar oportunidades de trabalho e renda para trabalhadores diversos que queiram fazer dos festejos momescos sua principal fonte de renda e dedicação profissional. Podem ser realizados eventos prévios de ensaios, aulas de percussão, customização de fantasias, aulas de maquiagem, shows e apresentações musicais, oficinas de produção de instrumentos, aulas de canto, aulas de dança, entre outros.

Para a realização destas atividades é importante o envolvimento direto de profissionais da economia criativa, para que de fato sejam ofertadas experiências interessantes, que tenham conexão com as temáticas de blocos, comunidades, escolas de samba, etc e que promovam realmente experiências únicas para quem as busca, sendo também uma forma de demonstrar todo o trabalho e envolvimento que uma festa como o carnaval demanda.

Tais iniciativas também se tornam um incremento da oferta turística, a partir do alinhamento destas com agências de receptivo turístico, operadores e guias de turismo e trazem diferencial para os destinos. Visto que muitos turistas não conseguem participar do carnaval em mais de um destino, a oferta antecipada de atividades colabora diretamente para a imagem do destino e para o planejamento e crescente melhoria da festa, e claro, para a experiência do turista.

Claro que não é todo mundo que gosta de carnaval, da efervescência do período e de todas intervenções necessárias para a organização e realização da festa. Porém, acredito que mesmo para este grupo, que às vezes não consegue fugir da festa, deve ser um alento saber que a alegria celebrada nos dias, reverbera em imagem positiva, trabalho, renda e segurança econômica para muitas famílias envolvidas. Só em Belo Horizonte, no ano de 2023, a movimentação econômica de foliões foi da ordem de R$ 720 milhões, trazendo ocupação de quase 70% aos hotéis da capital e trazendo em torno de 5.25 milhões de foliões para a cidade que foram atendidos por quase 17 mil ambulantes.

Em 2024 ainda estamos no meio da folia, espero que os números sejam também positivos e que a cada ano a operação, planejamento e experiência com o carnaval, seja em Belo Horizonte ou qualquer outro destino, sejam cada vez melhores.

Bom resto de folia para quem vai para a festa e bom resto de descanso para quem optou por não ir.

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