BELÍSSIMA

Itália: perfil do país que combina história romana, catolicismo e crises políticas

Devido a seu passado ligado ao Império Romano e à beleza de suas cidades renascentistas, a Itália é um dos países mais visitados do mundo

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postado em 06/02/2023 10:46 / atualizado em 06/02/2023 10:47

Pegue os trabalhos artísticos de Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Tintoretto e Caravaggio, as óperas de Verdi e Puccini, o cinema de Federico Fellini. Adicione a arquitetura de Veneza, Florença e Roma, e você tem apenas uma fração dos tesouros produzidos na Itália ao longo de séculos. Enquanto o país é renomado por esses e outros encantos, porém, também é notório por sua vida política de estabilidade precária.

Unificado apenas no século 19, a Itália viu a ascensão do fascismo na década de 1920. Em 1922, depois da famosa Marcha em Roma com seus seguidores, Benito Mussolini assumiu o cargo de primeiro-ministro italiano. Ficou no poder até 1943, compondo uma aliança com a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e sendo executado por militantes antifascistas em 1945.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a Itália teve dezenas de diferentes governos, num sinal da instabilidade que se tornou característica da política do país.

A política italiana, porém, passou por um abalo sísmico no começo dos anos 1990, quando a operação Mãos Limpas expôs a corrupção nos mais altos níveis da política e de grandes empresas. Vários ex-primeiros-ministros foram implicados, e milhares de homens de negócios e políticos foram investigados.

Houve grandes esperanças na época de que o escândalo levaria a uma reforma radical da cultura política italiana. Essas esperanças, no entanto, desapareceram quando as velhas estruturas foram substituídas por um uma nova cena política dominada pelo empresário multimilionário Silvio Berlusconi, que também acabou envolvido em escândalos e casos de corrupção.

Mais recentemente, partidos políticos populistas chegaram ao poder e formaram uma coalizão governamental em 2018. A coalizão foi desfeita em 2019, quando o poder voltou às mãos de composições de centro.

Devido a seu passado ligado ao Império Romano e à beleza de suas cidades renascentistas, a Itália é um dos países mais visitados do mundo, com monumentos conhecidos internacionalmente, como o Coliseu romano. Roma também é o centro mundial do catolicismo: a capital italiana abriga o Vaticano, Estado independente que representa a Igreja Católica e onde vive o papa.

FATOS

LÍDERES

Presidente: Sergio Mattarella

Sergio Mattarella
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O presidente Sergio Mattarella tem uma longa carreira no Parlamento, com bom trânsito entre políticos de esquerda e direita

O juiz constitucionalista e político veterano de centro-esquerda Sergio Mattarella foi eleito presidente pelo Parlamento italiano em 2015. Sucedeu Giorgio Napolitano, que deixou o cargo devido a sua idade avançada.

Mattarella era pouco conhecido do grande público, mas bastante respeitado nos círculos políticos, depois de uma carreira como parlamentar de 25 anos e vários momentos como ministros de governos tanto de esquerda como de direita.

Primeira-ministra: Giorgia Meloni

Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália
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Giorgia Meloni se tornou a primeira mulher a governar a Itália liderando a maior coalizão de direita desde 1945

Líder do partido de direita Irmãos da Itália vencedor das eleições legislaticas de setembro de 2022, Giorgia Meloni assumiu o importante cargo de primeira-ministra. Na Itália, o primeiro-ministro é nomeado pelo presidente da República, com a aprovação do Parlamento. É ele o chefe de Governo, quem nomeia e preside o Conselho de Ministros.

O partido de Meloni consolidou-se como a maior força política italiana, obtendo 26% dos votos válidos.

A aliança de direita comandada pelo Irmãos da Itália conseguiu a maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. A coalizão é formada pelos aliados de extrema-direita do partido Liga, de Matteo Salvini, e Força Itália, do conservador Silvio Berlusconi. O Partido Democrático (PD), principal formação de esquerda, obteve 19% dos votos.

Aos 45 anos, Meloni se tornou a primeira mulher a governar a Itália. Durante a longa campanha ela foi a maior opositora do então primeiro-ministro Mario Draghi que teve seu governo assolado por alta inflação, guerra e as restrições durante a pandemia. Meloni prometeu cortes de impostos além de uma política familiar visando a aumentar a taxa de natalidade em um dos países com mais idosos no mundo.

Ela substituiu o economista e ex-presidente do Banco da Itália, Mario Draghi que tinha formado um governo de unidade nacional em fevereiro de 2021 para liderar o país em sua tentativa de colocar um fim à crise da covid-19.

Apelidado de "Super Mario", Draghi é considerado por muitos como responsável pela sobrevivência do euro depois da crise da dívida da zona do euro, durante o período entre 2011 e 2019, quando ele foi presidente do Banco Central europeu. Ele recebeu o apoio de todos os grande partidos no Parlamento para implementar seu plano de recuperação econômica.

MÍDIA

A mistura italiana de mídia com política sempre gerou manchetes de jornais tanto no país como no exterior, com a preocupação sempre focada na concentração da propriedade nas mãos de um homem - o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

O império Mediaset de Berlusconi é dono das maiores estações de televisão privadas da Itália, e a rede pública, RAI, foi tradicionalmente sujeita a influência política. Portanto, quando Berlusconi era primeiro-ministro, ele pôde exercer grande controle sobre tanto a mídia privada como a pública.

Programa de TV italiano
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Entrevistas políticas têm presença frequente na TV italiana, influenciada por interesses empresariais e políticos

A RAI e a Mediaset dominam o mercado de TV italiano. São potencialmente ferramentas políticas poderosas, especialmente considerando que 80% da população consome TV para sua dose diária de informação - o maior percentual entre países da União Europeia.

RELAÇÕES COM O BRASIL

Brasil e Itália iniciaram seus laços já no século 19, assim que a Itália foi unificada e tornou-se um país. Em 1861, o governo brasileiro reconheceu o Reino da Itália, e já em 1870 começou a onda imigratória italiana para o Brasil.

A chegada de italianos ao território brasileiro teve grande impacto na formação da sociedade local, especialmente em São Paulo. Segundo o governo brasileiro, há cerca de 30 milhões de brasileiros com ascendência italiana.

Apesar da aproximação ideológica entre o Estado Novo (1937-45) e o regime fascista de Benito Mussolini, o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e sua aliada Itália. Tropas brasileiras lutaram em território italiano contra os alemães em 1944, mesmo ano em que as relações diplomáticas entre Brasil e o governo italiano pós-Mussolini foram restabelecidas.

Os dois países mantiveram uma relação próxima desde então, reafirmando seus laços culturais históricos. Muitos brasileiros escolheram a Itália como sua nova casa - segundo o Itamaraty, 100 mil brasileiros vivem no país. O comércio entre Brasil e Itália somou cerca de US$ 9 bilhões em 2019.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da Itália:

476 - Queda de Roma marca o fim do Império Romano do Ocidente.

1861 - A Itália torna-se um Estado nacional sob o rei Victor Emmanuel II.

1915 - A Itália entra na Primeira Guerra Mundial do lado dos chamados "aliados".

1922 - O líder fascistas Benito Mussolini forma um novo governo e coloca o país sob uma ditadura fascista.

1935 - A Itália invade a Etiópia

1936 - Mussolini forma uma aliança com a Alemanha nazista

1940-45 - A Itália luta na Segunda Guerra Mundial ao lado da Alemanha. Invadida pelos aliados em 1943, assina um armistício. Em 1945, Mussolini é capturado e executado por opositores ao final da guerra.

1948 - Nova Constituição. Os democrata-cristãos vencem as eleições.

1951 - A Itália entra na Comunidade Europeia de Carvão e Aço, que daria origem à Comunidade Europeia.

Anos 1970 - A Itália vive uma década de violência política da parte de movimentos de esquerda e de direita.

Anos 1980 - A economia obtém significativos avanços.

1994 - O magnata Silvio Berlusconi forma o primeiro governo de direita depois que o escândalo exposto pela operação "Mãos Limpas" abala a elite política anterior.

2002 - O euro, moeda única da União Europeia, substitui a lira como moeda italiana.

2001 - No primeiro referendo constitucional desde 1946, a população resolve conceder maior autonomia às regiões do país, na determinação de sua política fiscal, na educação e políticas de meio ambiente.

2022 - Giorgia Meloni se torna a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra. Ela lidera a maior coalização de direita a governar o país desde 1945.

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