QUALIDADE DE VIDA

Pesquisadores aprimoram neuroestimulação e a tornam mais precisa e sem dor

O tratamento é sugerido para quem tem diagnóstico de doenças neurológicas, como dores neuromusculares e Parkinson, além de depressão e obesidade. A proposta é que o exame seja mais rápido, eficiente e totalmente indolor

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O sistema pode ajudar pacientes com doenças neurológicas -  (crédito: Arquivo pessoal/divulgação)
O sistema pode ajudar pacientes com doenças neurológicas - (crédito: Arquivo pessoal/divulgação)
postado em 18/07/2024 06:00

Nasser Allam*

No esforço de ampliar a aplicação da técnica de Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr), cientistas pesquisam meios de assegurar mais qualidade de vida para os pacientes neurológicos, como os que tratam depressão, doença de Parkinson, obesidade, dores crônicas e doenças neuromusculares. O estudo, fruto de parceria entre pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Aalto, na Finlândia, aprimorou a prática por meio da associação entre robótica e neuronavegação, trazendo  conforto, precisão e praticidade aos pacientes.

A fisioterapeuta neurológica Juliana Marins Ribeiro, da clínica Integrativa, explica que a eficácia das terapias com EMTr se sustenta na neuromodulação. Segundo ela, a técnica abrange todo estímulo que, ao chegar no sistema nervoso, é capaz de modificar o funcionamento dos neurônios. O tratamento permite a estimulação elétrica de regiões específicas do cérebro, de acordo com a condição a ser tratada. A profissional pontua que "a neuromodulação não invasiva se refere a técnicas capazes de modificar a atividade dos neurônios por meio de um campo eletromagnético".

Apesar da efetividade comprovada, os equipamentos de EMTr apresentam barreiras. De acordo com o estudo publicado na Brain Stimulation, essas máquinas são pesadas e possuem um alcance delimitado, por isso seu posicionamento precisa ser muito preciso na cabeça do paciente. Ambos os aspectos dificultam o manuseio do aparelho, bem como a necessidade do auxílio de profissionais altamente treinados para a operação.

Para driblar os impasses, Renan Matsuda, primeiro autor do estudo e uma equipe de pesquisadores do laboratório de Biomagnetismo Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma plataforma robótica para tornar a EMTr mais segura e precisa, aprimorando a técnica já existente.O sistema desenvolvido é descrito como um robô e câmeras que localizam pequenas regiões cerebrais.

"A grande vantagem da plataforma robótica é que o estimulador acoplado ao braço robótico vai garantir que a gente sempre esteja estimulando, de maneira precisa, os locais desejados", acrescenta Matsuda. "Dada a informação prévia de qual área será estimulada, pode se posicionar e, também, ao longo da sessão, a máquina vai compensando os movimentos que o paciente eventualmente realiza", ressalta.

A plataforma foi testada em três voluntários na Universidade de Aalto, gerando mapas motores de seus cérebros. Para o pesquisador, uma grande vantagem é a portabilidade: "O robô é relativamente pequeno e compacto, se comparado aos robôs industriais. Assim, é possível transitá-lo facilmente entre salas ou centros, trazendo melhorias para a logística".

A plataforma possui código aberto para aplicações eletrônico-robóticas, disponível para acesso livre e gratuito.  Tadeu Perona, professor de automação e robótica do IBMEC-MG, afirma que "para este projeto, o software aberto fez com que os desenvolvedores acessassem um código existente que foi customizado para a neuronavegação do robô. Além de redução de custos, com certeza agilizou a implantação do projeto".

O sistema é de desenvolvimento aberto, está disponível gratuitamente pela plataforma GitHub, acessível para qualquer pessoa possa baixar, acessar e ver o que já foi desenvolvido. A expectativa dos pesquisadores é que a comunidade científica aperfeiçoe aspectos, como a interface gráfica e as habilidades sistemáticas.

O procedimento

   A EMTr é um procedimento que induz uma corrente elétrica que chega aos neurônios e os modula a depender da patologia que se quer tratar.  Uma das limitações é a precisão a respeito do alvo e foco que será estimulado. Com a neuronavegação e uso da robótica propostas no estudo, dá pra precisar muito melhor o ponto certo, de forma que durante as aplicações, que são de 10 a 20, não haja distorções ou variabilidades. O impasse que percebo na utilização deste equipamento é o custo. A esperança é que o preço do robô seja compatível com o procedimento e o custo que o convênio contribui para a sua aplicação.

Neurologista, Doutor em Neurociências e responsável técnico da  Neurologistas Associados (NA)*

*Estagiária sob supervisão de Renata Giraldi 

 

Olho

É como se a plataforma fosse o GPS das áreas do cérebro a serem tratadas. Talvez seja possível reduzir o número de sessões de um protocolo ou obter resultados mais rápidos.

Palavra de especialista

     A EMTr é um procedimento que induz uma corrente elétrica que chega aos neurônios e os modula a depender da patologia que se quer tratar.  Uma das limitações é a precisão a respeito do alvo e foco que será estimulado. Com a neuronavegação e uso da robótica propostas no estudo, dá pra precisar muito melhor o ponto certo, de forma que durante as aplicações, que são de 10 a 20, não haja distorções ou variabilidades. O impasse que percebo na utilização deste equipamento é o custo. A esperança é que o preço do robô seja compatível com o procedimento e o custo que o convênio contribui para a sua aplicação.


Nasser Allam

Neurologista, Doutor em Neurociências e responsável técnico da  Neurologistas Associados (NA)


 

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