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Remédios "naturais" para emagrecer são um perigo para saúde

Análise da Unicamp revela que falsos remédios vendidos como fitoterápicos contêm substâncias de uso controlado, como fluoxetina, e colocam pacientes em risco

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drogas-remedio-overdose -  (crédito: BrianAJackson/Envato Elements)
drogas-remedio-overdose - (crédito: BrianAJackson/Envato Elements)
Fidel Forato - Canaltech
postado em 06/07/2024 09:01

Na internet e nas redes sociais, é possível encontrar “remédios” para emagrecimento e perda de peso, com a promessa de serem 100% naturais. Nesses anúncios, a base de tal medicação fitoterápica pode ser o extrato de carqueja, por exemplo. No entanto, análises de laboratório revelam a composição de tais pílulas, onde são encontradas substâncias de uso controlado.

É o que revela um estudo em andamento, conduzido do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOx) da Unicamp. Ao analisar o pó dessas pílulas para emagrecer, os cientistas identificaram a presença de sibutramina, fluoxetina e bupropiona. São todas substâncias de uso controlado, normalmente adicionadas em remédios que exigem retenção da receita médica.

Qual a diferença entre remédio “convencional” e fitoterápico? De forma técnica e legal, o fitoterápico é um medicamento e, como tal, segue as mesmas regras dos remédios convencionais. A diferença entre eles é que o fitoterápico contém, na fórmula, um extrato vegetal (natural). Entretanto, o Brasil não conta com nenhum fitoterápico registrado para a perda de peso, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Falsos remédios naturais de emagrecimento

O estudo da Unicamp sobre a venda de falsos remédios naturais para a perda de peso começou com o relato de médicos. Esses profissionais da saúde identificaram que alguns pacientes estavam tomando pílulas compradas na internet para o emagrecimento, sem nenhuma orientação. 

A partir dessas queixas, a equipe de pesquisadores do CIATOx começou a monitorar medicamentos, vendidos supostamente como fitoterápicos pela internet. 

As primeiras conclusões das análises laboratoriais, ainda não publicadas em uma revista científica, indicam que essas pílulas não têm nada de naturais. Na verdade, representam riscos para a saúde dos usuários, como explica José Luiz da Costa, professor de toxicologia e coordenador executivo do CIATOx da Unicamp, para o Canaltech.

Substâncias encontradas nas análises da Unicamp

“As substâncias que nós identificamos foram a sibutramina, que é um medicamento usado para emagrecer, mas que precisa ser usado com acompanhamento médico”, afirma Costa. Na farmácia, é um daqueles medicamentos com tarja preta.

Estudo na Unicamp revela a composição perigosa de falsos remédios para emagrecer, vendidos na internet (Imagem: Aleruana/Envato)

Além disso, também foi encontrada a presença de fluoxetina e bupropiona, medicamentos classificados como antidepressivos. Novamente, eles só poderiam ser comprados com prescrição médica.

Riscos desses “remédios” para emagrecer

“Os riscos para a pessoa que toma [essas pílulas] são os mais variados possíveis, incluindo intolerância ao próprio medicamento”, explica Costa. Em outros casos, esses comprimidos podem levar à dependência química.

Afinal, “são substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central, que alteram o humor da pessoa, que em algum nível podem causar um aumento de irritabilidade e que podem causar dependência”, detalha o especialista em toxicologia.

Posicionamento da Anvisa

Em nota enviada a Canaltech, a Anvisa reforça que “não há, no Brasil, nenhum fitoterápico regularizado com indicação de uso para perda de peso ou emagrecimento”.

Para os fitoterápicos industrializados, a Anvisa controla a liberação para consumo, analisando estudos científicos, e fiscaliza as indústrias produtoras. Também acompanha a comercialização dos medicamentos, podendo retirá-los do mercado caso seu uso apresente risco ou efeitos adversos graves. 

No caso dos fitoterápicos manipulados, eles devem ser elaborados obrigatoriamente em farmácias de manipulação autorizadas, inspecionadas pela vigilância sanitária para verificação quanto ao cumprimento das boas práticas. 

Cuidados que os pacientes devem tomar

Para que o usuário não seja enganado, a Anvisa explica que a venda de remédios, independentemente da presença de extratos naturais ou não, só pode ser feita através de sites de farmácias ou drogarias regularizadas.

"Destaca-se também que plataformas na internet como Facebook, Mercado Livre, dentre outras empresas de marketplace estão proibidas de comercializar medicamentos, o que inclui fitoterápicos, conforme a RDC nº 44 / 2009”, pontua a agência.

Para ajudar o consumidor, a Anvisa já elaborou uma cartilha que ensina a distinguir um fitoterápico regularizado de um composto irregular, com possíveis danos à saúde. Por exemplo, todo fitoterápico legalizado tem um número de registro na embalagem, sendo que essa numeração deve começar pelo algarismo 1 e, no total, deve conter 13 dígitos.

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