Na quarta-feira (3), pesquisadores da Universidade Harvard divulgaram um estudo relacionando a semaglutida, princípio ativo dos remédios Ozempic e Wegovy, com o aumento do risco de uma doença ocular rara capaz de causar a cegueira. A Nova Nordisk, farmacêutica responsável pelos medicamentos para perda de peso e diabetes tipo 2, rebateu a pesquisa.
Para ser mais preciso, o estudo de Harvard aponta que pacientes que aplicavam a semaglutida tinham um risco aumentado para uma condição conhecida, oficialmente, como neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION, em inglês).
Em sua defesa, a companhia farmacêutica questiona os resultados da pesquisa publicada na revista JAMA Ophthalmology, já que a causalidade não foi comprovada. A pesquisa é apenas observacional.
Novo Nordisk, Ozempic e cegueira
A condição que pode causar cegueira não é uma “reação adversa medicamentosa para as formulações comercializadas de semaglutida”, afirma um porta-voz da Novo Nordisk, para o canal norte-americano CNBC, com base nas bulas aprovadas das medicações para perda de peso ou controle do diabetes tipo 2.
Segundo o representante da companhia farmacêutica, há “limitações metodológicas importantes” no estudo de Harvard, o que inclui o "pequeno número" de voluntários inscritos que receberam a semaglutida (Ozempic ou Wegovy).
“A segurança do paciente é uma prioridade máxima para a Novo Nordisk, e levamos muito a sério todos os relatos sobre eventos adversos decorrentes do uso de nossos medicamentos”, completou o porta-voz.
Análise de risco do remédio
Por causa do estudo de Harvard, as ações da Novo Nordisk sofreram uma oscilação nesta quinta (4). No entanto, os especialistas afirmam que o impacto da descoberta, questionada pela própria farmacêutica, não deve se tornar uma questão financeira.
Para Emmanuel Papadakis, analista do Deutsche Bank e bioquímico, o estudo sugere "alguma correlação" com a condição que pode causar cegueira. Entretanto, Papadakis alega que a qualidade da evidência é “muito baixa".
Pensando nas ações da empresa, na avaliação do mercado financeiro e na saúde dos pacientes, o pior cenário seria a inclusão deste suposto efeito adverso na bula, como já ocorreu em outras ocasiões no passado, mas isso só poderia ser feito com a realização de mais estudos, comprovando a ligação. Todo o processo envolveria obrigatoriamente a participação da Food and Drug Administration (FDA), espécie de Anvisa dos EUA.
Fonte: CNBC, JAMA Ophthalmology