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Encontrados fósseis de trilobitas mais preservados até agora

No que a ciência chama de "Pompeia dos Trilobitas", uma erupção vulcânica de centenas de milhões de anos preservou espécimes de maneira incrivelmente detalhada

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Trilobita Pompeia pré-histórica -  (crédito: Prof. A. El Albani/Univ. Poitiers/Júlia d'Oliveira)
Trilobita Pompeia pré-histórica - (crédito: Prof. A. El Albani/Univ. Poitiers/Júlia d'Oliveira)
Augusto Dala Costa - Canaltech
postado em 28/06/2024 18:35

Os trilobitas já foram os grandes reis dos mares do mundo, vivendo em todos os oceanos e exibindo suas carapaças através de uma diversa gama de espécies. Mesmo com todos os fósseis deixados para trás, os cientistas ainda não conhecem toda a anatomia dessas criaturas com centenas de milhões de anos — um achado no Marrocos, no entanto, revelou diversos segredos sobre esses antigos artrópodes, incluindo alguns de seus tecidos moles.

Publicada na revista científica Science na última quinta-feira (27), a pesquisa dos novos fósseis teve a sorte de encontrar um grupo de trilobitas fossilizados sob as cinzas de um vulcão pré-histórico no Marrocos, ficando preservados de maneira semelhante às vítimas do monte Vesúvio, que atingiu as cidades de Pompeia e Herculano há quase 2.000 anos.

Novidades trilobitas

A escavação foi liderada por Abderrazak El Albani, geólogo da Universidade de Poitiers, na França. Os trilobitas estavam preservados nas Montanhas de Atlas, no Marrocos, e foram descobertos em 2015, apesar de estarem no local desde o Período Cambriano, 510 milhões de anos atrás.

Modelo gerado em 3D a partir de tomografia da espécie trilobita Gigoutella mauretanica, em detalhes nunca antes vistos (Imagem: Arnaud Mazurier/IC2MP/Universidade de Poitiers)

Na época, a região era composta por um mar raso, pontilhado por uma série de vulcões ativos. Foi o fluxo piroclástico da erupção de um deles que engolfou diversos espécimes.

Os antigos artrópodes estavam dentro de rochas vulcânicas, ou melhor, seus formatos, gravados nos minerais derivados das cinzas. Elas eram tão finas — como talco, nas palavras dos paleontólogos responsáveis — que a anatomia interna dos animais acabou preservada, incluindo o trato digestivo.

Em um deles, havia até mesmo sedimento no estômago, provavelmente ingerido logo antes da morte. Em outros, pequenos bivalves (braquiópodes) estavam grudados à carapaça, em uma relação de comensalismo congelada no tempo. Isso indica que o “enterro” foi bastante rápido.

Análises com raios-x e tomografia computadorizada geraram modelos 3D dos trilobitas, revelando estruturas já conhecidas, como as antenas e cerdas das patas, em grande detalhe, bem como novidades corporais.

Uma delas é o labrum, um tecido mole grudado próximo da parte dura da boca em fenda do animal, algo comum nos artrópodes modernos. Teorizava-se que os trilobitas teriam possuído a estrutura, mas é a primeira vez que ela se mostra em um fóssil.

O achado deve ajudar a classificar melhor esses antigos animais, mostrando à ciência onde ficam na família dos artrópodes e quais dos animais modernos são mais próximos deles, mas também pode levar a uma proteção melhor da herança paleontológica do Marrocos, altamente explorada por contrabandistas de fósseis. A situação é tão séria que o mercado é chamado de “economia trilobítica”.

Fonte: Science

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