INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Empresa do ChatGPT apresenta Sora, ferramenta que gera vídeos de textos

Novo modelo de inteligência artificial generativa levanta debates sobre a segurança e riscos que os novos "vídeos" podem trazer sobre o que é real

Anunciado nesta quinta-feira (15/2) pela OpenAI, empresa criadora do ChatGPT, um novo modelo de inteligência artificial batizado de Sora promete gerar vídeos realistas de até 1 minuto a partir de textos. O anúncio, feito pelo X (antigo Twitter) da empresa, impressiona pelo realismo dos vídeos gerados. A postagem foi acompanhada do anúncio de lançamento de um site dedicado a informações sobre a nova tecnologia.

Segundo informações da OpenAI, a "empresa está trabalhando para entender e simular o mundo físico em movimento, com o objetivo de treinar modelos que possam ajudar as pessoas a resolver problemas que requerem interações do mundo real".

No anúncio, a empresa destaca que a Sora já está disponível para red teamers (uma espécie de "hacker do bem" contratado por uma empresa para descobrir pontos fracos na segurança digital do contratante), com o intuito de avaliar os riscos e ameaças do novo modelo de inteligência artificial.

A empresa também afirmou estar em contato com artistas visuais, designers e cineastas, para receber feedbacks sobre como desenvolver a IA para que ela seja benéfica para profissionais criativos. “Estamos compartilhando o progresso inicial de nossas pesquisas e recebendo feedbacks de pessoas de fora da OpenAI para dar ao público uma noção do que a Inteligência Artificial será capaz no futuro”, destacou a empresa.

O que promete a Sora no mundo da inteligência artificial 

Segundo informações da OpenAI, a Sora será capaz de gerar cenas complexas, com diferentes personagens, tipos específicos de movimentos, e detalhes precisos do objeto principal e do fundo. Tudo será gerado a partir do comando de texto que o usuário envia. A nova tecnologia também permitirá criar diferentes planos de uma cena em um único vídeo. A empresa também esclarece que, até o momento, existem muitas falhas, principalmente relacionadas à continuidade de uma cena.

A empresa afirma que também está trabalhando em outro modelo de inteligência artificial especializada em identificar vídeos gerados artificialmente, e também planeja disponibilizar o modelo verificador ao público. “Estamos engajando políticos, educadores e artistas ao redor do mundo para entender as preocupações e identificar usos positivos da nova tecnologia. Apesar da extensa pesquisa e testagem, não podemos prever todos os benefícios que a tecnologia pode trazer para as pessoas, nem todos os usos abusivos.”

Inteligência artificial e debates éticos

Modelos de inteligência artificial, como o ChatGPT e a Sora, funcionam a partir de um modelo computacional que é treinado com um enorme banco de dados. No caso do ChatGPT, textos, e no caso da Sora, vídeos. A OpenAI, entretanto, não é clara quanto à origem dos conteúdos utilizados para compor a base de dados deste treinamento. A empresa, inclusive, já chegou a ser processada por escritores que alegaram terem obras utilizadas no treinamento do ChatGPT sem que eles fossem avisados ou recebessem algum tipo de compensação financeira.

Além da origem das obras utilizadas no treinamento dos modelos, uma questão preocupante é também a facilitação que a Sora trará na geração de conteúdo potencialmente criminoso. No caso das IAs geradoras de imagens estáticas, como o Midjourney, já existem casos de crimes reportados relacionados ao uso deste tipo de tecnologia. Recentemente, a cantora norte-americana Taylor Swift foi vítima de um ataque virtual, onde usuários da rede X realizaram um compartilhamento em massa de imagens pornográficas da cantora geradas artificialmente.

Outro ponto frequentemente levantado pelos críticos às tecnologias generativas é em relação à desvalorização do trabalho dos artistas. Com a popularização de modelos de inteligência artificial como a Sora, trabalhadores da indústria audiovisual deverão disputar espaço com este tipo de tecnologia, uma vez que os custos empregados no uso de uma IA seriam menores do que os custos para a contratação de atores, por exemplo.

Greve de Hollywood e a questão da IA

Em meados de 2023, Hollywood foi palco de greves organizadas por atores e roteiristas, que se opunham às ameaças que os novos modelos de inteligência generativa representavam para as profissões. No caso dos roteiristas, após 148 dias de greve, o Sindicato dos Roteiristas da America (WGA), acatou uma proposta da Aliança de Produtores de Televisão e Cinema (AMPTP), entidade que representa produtoras como a Netflix e a Disney. Entre os pontos principais do acordo, as produtoras concordaram em não utilizar materiais produzidos por IA sem que isso fosse informado antes. Também se comprometeram a não utilizar IAs para escrever ou reescrever textos de cunho literário.

Nos últimos anos, alguns estúdios já têm adotado testes com a recriação de atores mortos, bem como a utilização de computação gráfica para substituir figurantes. Com medo da adoção de cópias digitais para substituir atores e assim cortar custos, e para preservar os trabalhos dos atores figurantes, o Sindicato dos Atores de Hollywood dos atores conseguiu que fosse acordado duas importantes resoluções: ficam proibidos o uso de réplicas digitais para evitar a contratação e pagamento de atores coadjuvantes, assim como a necessidade de obtenção do consentimento dos atores para o emprego de cópias digitais. Além disso, os estúdios também deverão pagar aos atores “replicados” o equivalente ao que eles receberiam trabalhando por cada aparição da réplica.

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