Jornal Correio Braziliense

Bons resultados com pâncreas artificial

Cientistas do Centro de Tecnologia de Diabetes da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, também trabalham em um projeto para facilitar a vida de pessoas com a doença. Nesse caso, a intenção é ter um pâncreas artificial que melhore o controle do açúcar no sangue de pessoas com diabetes tipo 1. A solução tecnológica foi apresentada em um artigo publicado na revista científica Diabetes Technology & Therapeutics.

O pâncreas artificial é uma tecnologia de gerenciamento de diabetes que monitora e regula automaticamente a glicose no sangue, segundo os criadores. O dispositivo, nomeado Control-IQ, tem uma bomba de insulina que usa algoritmos avançados, alimentados por informações de monitoramento de glicose do paciente, para ajustar a dose de insulina conforme necessário.

O dispositivo foi testado em 369 voluntários com idade entre 2 e 72 anos. Dos participantes, moradores de oito cidades dos Estados Unidos, 256 receberam o sistema de pâncreas artificial e 113 montaram o grupo de controle. Ao longo de três ensaios, aqueles que usaram o Control-IQ permaneceram, em média, 2,8 horas a mais por dia dentro da meta de açúcar ideal no sangue, comparados aos não submetidos à terapia experimental para controle de glicose.

Os testes mostraram que o dispositivo diminuiu os índices da hemoglobina A1c dos participantes — de 7,5% para 7%. No grupo de controle, a variação foi de 7,6% para 7,5%. Conhecida como hemoglobina glicada, a A1c é responsável por indicar os níveis de açúcar no sangue. Esse efeito foi consistente em todas as idades, bem como em grupos raciais e étnicos diversos e independentemente de como os participantes haviam gerenciado o diabetes anteriormente.

"Todos os subgrupos nesses estudos, independentemente de idade, etnia, educação ou experiência anterior com bombas de insulina, se beneficiaram da tecnologia Control-IQ", relata, em nota, Boris Kovatchev, coautor do estudo e pesquisador do Centro de Tecnologia de Diabetes da Universidade da Virgínia. "Fica claro, a partir desses resultados, que essa tecnologia deve ser fortemente considerada como uma opção para qualquer pessoa que vive com diabetes tipo 1".

Automatizado

Denise Iezzi, endocrinologista do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, explica que as bombas de insulina tradicionais funcionam a partir de cálculos feitos por um profissional de saúde, que considera a relação entre carboidrato e insulina necessária para o paciente, assim com metas glicêmicas. No sistema proposto pelos americanos, o monitoramento e a regulação da glicose são feitos automaticamente, simulando a função do pâncreas. "Essa tecnologia é fundamental no tratamento do diabetes tipo 1 porque, na falta de produção de insulina pela ilhota beta pancreática, o tratamento deve simular o funcionamento de um pâncreas normal", avalia.

Érika Fernandes, médica endocrinologista do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, acredita que essa automaticidade poderá trazer praticidade aos pacientes. "É uma tecnologia que, além da bomba de insulina, avalia os níveis de glicemia no sangue e, pelo resultado, o software entende o quanto de insulina ele vai ter que aplicar", diz. "Para os pacientes que fazem uso de insulina, principalmente aqueles que têm essa demanda desde muito cedo, é algo muito prático."