Sustentabilidade

Tinta pode ajudar a controlar temperatura de prédios, casas e carros

Buscar formas alternativas de controlar a temperatura dos ambientes tem sido um desafio para cientistas de diferentes partes do mundo

*Correio Braziliense
postado em 17/04/2023 03:55
 (crédito: Mohammad Taha, Universidade de Melbourne)
(crédito: Mohammad Taha, Universidade de Melbourne)

Os aparelhos de ar-condicionado têm ganhado cada vez mais espaço nos debates climáticos devido às projeções de aumento de uso e, consequentemente, da demanda de energia. Por isso, buscar formas alternativas de controlar a temperatura dos ambientes tem sido um desafio para cientistas de diferentes partes do mundo. Uma equipe da Universidade de Melbourne, na Austrália, trabalha em um projeto de resfriamento passivo. A ideia é usar tintas nanotecnológicas que, usadas no revestimento de prédios, casas e carros, também tornem os ambientes mais quentes ou frios.

A solução tecnológica foi desenvolvida a partir da modificação do óxido de vanádio (VO2), um dos principais componentes dos chamados materiais de mudança de fase (PCMs, em inglês). O VO2 é promissor para retardar o calor porque pode sofrer transição de isolador para metal, funcionando como um interruptor que bloqueia o calor que está além de uma determinada temperatura. No caso dos protótipos de tintas, elas mudam de fase para alterar o clima de ambientes.

Projetos já desenvolvidos dependem de altas temperaturas para que isso aconteça. O da equipe australiana, não: a substância responde a temperaturas de 30 a 40ºC, em vez dos 68ºC convencionais. "As nanotintas são únicas porque podem ser aplicadas em temperatura ambiente sem a necessidade de altas temperaturas de ativação", enfatiza Mohammad Taha, líder da pesquisa.

Para fornecer um aquecimento confortável no inverno, as tintas aplicadas na fachada de um edifício, por exemplo, podem se transformar automaticamente para permitir a passagem de maior radiação solar durante o dia e maior isolamento para manter o calor durante a noite. No verão, podem se transformar para formar uma barreira e bloquear a radiação de calor do Sol e do ambiente ao redor.

"Esse controle passivo do clima é muito importante na construção sustentável porque pode-se diminuir o consumo energético desses locais para ter temperaturas de conforto térmico dentro delas. E sempre que a gente consegue diminuir o consumo energético, estamos contribuindo para redução de emissão de gases de efeito estufa", avalia Silvia Teles Viana, professora adjunta na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Até em roupas

Outra vantagem do protótipo de Melbourne é que a substância pode ser laminada, pulverizada ou adicionada a tintas disponíveis no mercado. "Nossa pesquisa remove as restrições anteriores sobre a aplicação dessas tintas em larga escala de forma barata. Isso significa que estruturas existentes e materiais de construção podem ser adaptados. Com o interesse da fabricação, as tintas podem chegar ao mercado em cinco a 10 anos", estima, em nota, Taha.

A equipe planeja incorporar a solução a tecidos de roupa — nesse caso, ela ajudaria na regulação da temperatura do corpo em ambientes extremos — e também na criação de dispositivos eletrônicos flexíveis e vestíveis em grande escala, como circuitos dobráveis, câmeras e sensores de gás. "O potencial desse material é enorme, pois ele pode ser usado para muitos propósitos diferentes, como evitar o acúmulo de calor em eletrônicos de laptops ou em parabrisas de carros", ilustra o líder do estudo.(AG)

 

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