O CEO e dono do Twitter, Elon Musk, anunciou uma reformulação do Twitter Blue — o serviço pago da plataforma de mídia social, que dá alguns privilégios aos assinantes. Os assinantes recebem um selo azul nas suas contas.
A partir de 15 de abril, apenas assinantes do Twitter Blue terão suas postagens recomendadas a outros usuários. Os assinantes também serão os únicos que poderão votar em enquetes.
De acordo com a nova política, postagens de contas que não pagam pelo Twitter Blue não serão incluídas na seção "Para você", onde são colocados os tuítes recomendados.
Na semana passada, a empresa disse que removeria o selo de conta verificada que foi dado a alguns usuários antes de Musk comprar a empresa.
No Brasil, o Twitter Blue custa no mínimo R$ 36,67 por mês.
Musk disse que as mudanças são "a única maneira realista de lidar com o enxame de bots de inteligência artificial que estão tomando conta da rede. Caso contrário, esta é uma batalha perdida sem esperança".
"Votar nas enquetes exigirá verificação pelo mesmo motivo", acrescentou.
Em um post anterior, Musk disse que a verificação paga aumenta significativamente os custos de operação para quem cria bots e torna mais fácil para o Twitter identificá-los.
No entanto, a mudança foi criticada por alguns usuários da rede.
Um ex-funcionário da equipe de verificação do Twitter — que pediu anonimato — disse à BBC: "O objetivo número um da minha equipe era proteger os usuários de danos no mundo real e isso parece ser o completo oposto".
"Os usuários verificados usarão seu poder e sua presença na plataforma para influenciar qualquer coisa, desde desinformação até danos reais para usuários em todo o mundo. É uma ameaça silenciosa que ninguém está vendo."
O Twitter Blue teve um lançamento caótico em novembro. Na ocasião, muitas pessoas usaram o serviço pago para se passar por grandes marcas e celebridades, já que bastava pagar pelo selo azul para ser considerado "verificado" pela plataforma. Muitos fingiram ser o próprio Musk.
Isso forçou o Twitter a interromper o Twitter Blue depois de menos de uma semana do lançamento. O serviço foi relançado no mês seguinte.
Desde então, o Twitter Blue tem sido usado por grupos polêmicos, incluindo autoridades do Talebã e seus apoiadores no Afeganistão.
Usuários verificados têm seus tuítes mais promovidos do que os de outras contas. Os assinantes também têm acesso a recursos exclusivos, como ao botão de edição.
Antes do serviço Twitter Blue lançado por Elon Musk, o selo azul era usado para indicar a autenticidade de contas de pessoas. O selo era distribuído pelo próprio Twitter sem taxa de assinatura.
Na semana passada, o Twitter disse que também começará a partir de 1º de abril a eliminar gradualmente os selos dados a contas antigas.
A empresa acrescentou que os usuários precisam pagar para "manter sua marca azul no Twitter".
Musk sempre expressou preocupação sobre o número excessivo de contas falsas ou de spam no Twitter. A certa altura, ele suspendeu seu plano de US$ 44 bilhões para comprar a plataforma de mídia social enquanto questionava o número de bots divulgados pela gestão anterior da empresa.
Análise
De James Clayton, repórter de tecnologia da BBC News nos EUA
Quando Elon Musk assumiu o Twitter, ele dizia ter grandes ambições de devolver à internet a "liberdade de expressão".
Ele queria que a plataforma fosse "confiável ao máximo" e disse que ela "não é uma forma de ganhar dinheiro".
No entanto, a política do Twitter agora parece muito diferente desses ideais.
Percebendo que era difícil aumentar a receita de publicidade, Musk voltou-se para um modelo baseado em assinatura.
A ideia inicial era para dar selos azuis a usuários que pagassem uma taxa mensal.
Mas não houve adesão em massa ao serviço pago. Com queda da receita de publicidade e um modelo de assinatura cambaleante, Musk decidiu ir além.
Existem dois algoritmos no Twitter — a aba "Para você", de tuítes recomendados, e o fluxo de tuítes de pessoas que você segue.
A nova política de Elon Musk agora impedirá que usuários não pagantes participem de uma dessas abas.
Isso significa que os usuários não verificados do Twitter terão muito menos probabilidade de ter seus tuítes curtidos ou retuitados.
Este pode ser um momento extremamente perigoso para o Twitter, que já reduziu bastante as verificações de desinformação.
Alguns ex-funcionários me disseram que essa mudança pode beneficiar exatamente os trolls e as pessoas que divulgam desinformação.
E a mudança também levanta uma questão existencial para o Twitter. Esse deveria ser um espaço de meritocracia — onde tuítes ganhariam mais destaque por causa da qualidade de seu conteúdo.
Esse sempre foi uma parte grande do sucesso do Twitter. Mas agora, isso parece ter terminado.