
O sensor ingerível foi testado em porcos porque, segundo os pesquisadores da Universidade da Califórnia (UC), o trato gastrointestinal suíno tem muitas semelhanças anatômicas e fisiológicas com o humano. Nos experimentos, inicialmente, as cobaias foram alimentadas com soluções ricas em glicose, para simular o consumo de alimentos. Depois, foram submetidas a jejum noturno durante a administração oral da cápsula. A equipe utilizou imagens de raios X para saber se a pílula havia chegado ao estômago dos animais e ao intestino.
Patrick Mercier, um dos autores do estudo, explica que o sensor permanece no sistema digestivo por um período semelhante ao de alimentos comuns. "Depois, é eliminado normalmente pelas fezes", diz. Em relação às próximas etapas da pesquisa, Mercier conta que ele e os colegas pretendem diminuir o tamanho da cápsula, para que possa ser engolida facilmente por seres humanos. A equipe também aposta que o dispositivo poderá ajudar em estudos sobre o funcionamento do trato gastrointestinal de diversos tipos de pacientes. "Aqueles que sofrem de doença do refluxo gastroesofágico, de síndrome do intestino irritável, pessoas com problemas nutricionais e mais além", projeta o pesquisador norte-americano.
Bernardo Martins, gastroenterologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, pontua que a medicina sem fio tem proporcionado avanços nos procedimentos de diagnóstico no trato gastrointestinal. Segundo ele, existem, no mercado, tecnologias, como a cápsula endoscópica, que, através de microcâmeras, capturam fotos, durante horas, para registrar as imagens do trato gastrointestinal em 360 graus. "São níveis que a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia, que é a baixa, não alcançam", exemplifica.
De acordo com o médico, apesar dos benefícios, essa tecnologia ainda tem um preço alto. Além disso, Martins aponta que dispositivos movidos à bateria feita de metais pesados podem impactar negativamente a natureza. "Como estão na parte digestiva, acaba que são eliminados e podem ir parar no esgoto, contaminando o meio ambiente", alerta. "Por outro lado, a pílula desenvolvida na pesquisa da universidade americana não utiliza baterias e é autoalimentada pela própria glicose do intestino."
Complemento
Para o gastroenterologista, esse tipo de tecnologia ingerível não busca substituir os métodos de avaliação convencionais, mas se tornar um complemento. "Elas facilitam o diagnóstico, mas não substituem a parte terapêutica", diz. Martins menciona que as cápsulas são úteis para adquirir uma imagem ou dado que, dificilmente, os exames convencionais alcançariam. "O dispositivo encontrou uma lesão, nós (médicos) entramos com o aparelho endoscópico normal para coletar o material e, a partir dali, tratá-la da melhor forma", elucida.
Outra vantagem é que exames tradicionais registram informações apenas do momento em que são realizados. Dispositivos como o criado pela equipe da UC, por sua vez, poderão ampliar a capacidade de monitoramento. "Em nossos experimentos, a tecnologia de biossensor sem bateria acompanhou os níveis de glicose no intestino delgado de porcos 14 horas após a ingestão, produzindo medições a cada cinco segundos, por duas a cinco horas", detalha, em nota, Ernesto De La Paz Andres, um dos autores principais do artigo.
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