O dióxido de carbono (CO2) — ou gás carbônico — é um elemento indispensável à vida no planeta, por participar da respiração e da fotossíntese. No entanto, quando ocorre em grandes concentrações na atmosfera, torna-se extremamente nocivo, contribuindo com a poluição atmosférica e o aquecimento global. Para solucionar o problema, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Tóquio (Tokyo Tech) desenvolveram o KGF-9, um catalisador de baixo custo e eficiente para reduzir o CO2. Detalhes do estudo, com potencial para ser usado na mitigação das mudanças climáticas, foram publicados pelo jornal científico ACS Catalysis.
Catalisadores são materiais ou substâncias que aceleram reações químicas. Eles costumam ser empregados para agilizar a ação de reagentes — quaisquer elementos químicos — em produtos. Os japoneses Yoshinobu Kamakura e Kazuhiko Maeda, professores do Instituto de Tecnologia de Tóquio (Tokyo Tech), desenvolveram um fotocalisador capaz de converter CO2 em formiato (HCOO) e carbono (C). Utilizado em diversas aplicações, o formiato é um sal útil para a conservação de depósitos de alimentos e rações, além de ser um aditivo em produtos de limpeza. Por sua vez, o carbono é um dos elementos mais abundantes na natureza, além de essencial na respiração de organismos vivos.
O fotocatalisador recebe esse nome pelo fato de ser ativado por meio de luz visível — os raios emitidos pelo Sol. Antes do estudo da Tokyo Tech, os fotocatalisadores apresentavam inúmeros obstáculos, desde operações complexas nas composições químicas até a necessidade de outras modificações para responder a possíveis adversidades. A equipe japonesa observou que um componente químico em particular, conhecido como polímero de coordenação (CPs) não-poroso, foi substancial para a conversão das moléculas do dióxido de carbono. Os CPs não porosos consistem em íons de chumbo e ligantes de tiadiazol, os quais formam ligações de chumbo-enxofre.
Com propriedades químicas diferentes de qualquer outro fotocatalisador desenvolvido, o novo CP, denominado KGF-9, sintetiza o CO2 com muito mais facilidade. Ele dispensa a realização de alterações químicas prévias — como o uso de um cocatalisador, isto é, um sistema específico para converter o carbono ou realizar tratamentos pós-síntese, de forma que o catalisador trabalhe sob luz visível e temperatura ambiente.
Pesquisador do instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Júnior explicou ao Correio que, a depender das particularidades, os fotocatalisadores anteriores necessitavam de diversas modificações, antes e após o uso. "Por exemplo, você pode ter que tratar o material resultante para recuperar o catalisador ou ter que submeter o material obtido por outras reações para retirar o ácido fórmico de outros resíduos contaminantes que ficaram. Podem, também, haver reações que precisam ser realizadas em ambientes inertes", afirmou o físico e especialista em mudanças climáticas.
A pesquisa japonesa é pioneira por criar fotocatalisadores de baixo custo que, ao contrário dos antigos, não necessitam de metais preciosos no processo de fabricação. Kazuhiko Maeda destaca a vantagem do estudo: "A maior parte da conversão anterior de CO2, usando fotocatalisadores acionados por luz visível, geralmente incluía metais preciosos. Do ponto de vista do custo e dos recursos naturais, foi importante desenvolver esse sistema", ressaltou.
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Futuro
Watanabe Júnior aponta que o estudo chamou a atenção da mídia, em razão da emergência climática que o mundo atravessa. "A importância da pesquisa é remover da atmosfera o mais importante gás causador do efeito estufa — o dióxido de carbono", pontuou. Embora a pesquisa esteja em fase inicial e o desenvolvimento de um produto comercial em grande escala exija tempo e investimento, o grupo vislumbra que a tecnologia tem potencial de frear as consequências do efeito estufa, provocado pelas altas emissões do gás poluidor no meio ambiente. "A conversão de CO2 em produtos químicos úteis, usando fotocatalisador, é uma tecnologia promissora, porque as emissões provenientes do desenfreado consumo de combustíveis fósseis contribuem para o aquecimento global", pontuou Kazuhiko Maeda.
Em relação às próximas etapas do estudo, o grupo destaca que pretende desenvolver mais polímeros de coordenação, a fim de compreender melhor os fenômenos que envolvem a decomposição do dióxido de carbono pela substância química. Mesmo que ainda não seja possível traçar perspectivas exatas de quando a pesquisa sairá do laboratório, Maeda mostra otimismo. "A tecnologia de conversão de carbono, sem uso de metais preciosos, é especialmente importante do ponto de vista do preço e dos recursos naturais. Embora ainda existam áreas que precisam de melhorias no aspecto de produção, acreditamos que a tecnologia chegará lá", estimou.