À medida que próteses humanas realistas e robôs humanoides sofisticados começam a sair do campo da ficção científica, pesquisadores estão atrás de materiais que, como a pele, tenham alto grau de sensibilidade, com objetivo de revesti-los e torná-los mais funcionais. Com potencial, também, de melhorar o desempenho de tecnologias vestíveis e de interfaces táteis, os chamados sensores suaves, porém, têm baixa durabilidade e consomem uma grande quantidade de energia, o que os torna impraticáveis.
Agora, pesquisadores da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos, desenvolveram materiais gelatinosos de baixo custo, capazes de detectar tensão, temperatura e umidade. Eles também são autorregeneráveis e biodegradáveis, além de impressos em 3D. A equipe descreveu a descoberta na edição mais recente da revista NPG Asia Materials.
David Hardman, do Departamento de Engenharia de Cambridge e primeiro autor do artigo, conta que ele e os colegas têm trabalhado, há anos, para desenvolver materiais autorregeneráveis, de detecção suave, destinados a mãos e braços robóticos. Esses tecidos artificiais percebem quando estão danificados, tomam as medidas necessárias para se recuperar temporariamente e, depois, retomar o trabalho. Tudo isso, ressalta Hardman, sem a necessidade de interação humana. "Agora, estamos procurando maneiras mais rápidas e baratas de fazer robôs de autorrecuperação", diz o coautor Thomas George-Thuruthel, do mesmo departamento.
Os pesquisadores explicam que versões anteriores dos robôs revestidos por materiais de autocura precisavam ser aquecidos para se regenerarem. Porém, os cientistas de Cambridge estão desenvolvendo, atualmente, materiais que podem se recuperar à temperatura ambiente, o que os tornaria mais úteis para aplicações no mundo real. "Começamos com um material elástico à base de gelatina, que é barato, biodegradável e biocompatível, e realizamos diferentes testes sobre como incorporar sensores ao material, adicionando muitos componentes condutores", diz Hardman.
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Íons
Os cientistas descobriram que sensores de impressão contendo cloreto de sódio, em vez de tinta de carbono, resultaram em um material com as propriedades que buscavam. Como o sal é solúvel no hidrogel, ele fornece um canal uniforme para a condução iônica — o movimento dos íons.
Ao medir a resistência elétrica dos materiais impressos, os pesquisadores descobriram que as mudanças na tensão resultaram em uma resposta altamente linear, que eles poderiam usar para calcular as deformações do revestimento. A adição de sal também possibilitou a detecção de trechos com mais de três vezes o comprimento original do sensor, permitindo a incorporação em dispositivos robóticos flexíveis e esticáveis.
Os materiais autorregenerativos são baratos e fáceis de fazer, seja por impressão 3D ou por fundição, diz George-Thuruthel. Eles são mais vantajosos que muitas alternativas existentes, segundo o pesquisador, porque mostram resistência e estabilidade a longo prazo sem secar e são feitos inteiramente de materiais amplamente disponíveis e seguros. "É um sensor muito bom, considerando o quão barato e fácil de fabricar. Poderíamos fazer um robô inteiro de gelatina e imprimir os sensores onde quer que precisemos deles."
Os hidrogéis autorregenerativos se ligam bem a uma variedade de materiais, o que significa que podem ser facilmente incorporados a outros tipos de robótica. Por exemplo, grande parte da pesquisa no Laboratório de Robótica Bio-inspirada, onde a equipe trabalha, é focada no desenvolvimento de mãos artificiais. "Embora esse material seja uma prova de conceito, se desenvolvido, pode ser incorporado em peles artificiais e sensores vestíveis e biodegradáveis feitos sob medida", esclarece Hardman.