O concreto geralmente começa a rachar e a desmoronar depois de algumas décadas de vida — mas, curiosamente, esse não era o caso de muitas estruturas da Roma antiga. Passam-se séculos e elas continuam de pé, exibindo durabilidade significativa, apesar de sujeitas às mesmas condições ambientais que destruiriam os materiais modernos. Para especialistas, a tecnologia pode ajudar no desenvolvimento de construções modernas mais sustentáveis.
Uma estrutura de durabilidade particular é a grande tumba cilíndrica da nobre Caecilia Metella, do século 1 a.C. Uma nova pesquisa do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) publicada no Journal of the American Ceramic Society mostra que a qualidade do concreto dessa construção pode exceder à dos monumentos de seus contemporâneos devido ao agregado vulcânico que os construtores escolheram e às interações químicas incomuns, com a chuva e os lençóis freáticos que se acumulam ao longo de dois milênios.
Esse material foi utilizado pela equipe estadunidense para entender a formação mineral antiga da estrutura de concreto. “Compreender a composição e os processos de fabricação de materiais antigos pode informar os pesquisadores sobre novas maneiras de criar materiais de construção duráveis e sustentáveis para o futuro”, diz Admir Masic, professor de engenharia civil e ambiental do MIT. “O túmulo de Caecilia Metella é uma das estruturas mais antigas ainda de pé, oferecendo ideias que podem inspirar a construção moderna.”
Localizada em uma antiga estrada romana também conhecida como Via Ápia, a tumba de Caecilia Metella é um marco dessa região. Consiste em uma torre em forma de rotunda, que fica em uma base quadrada, com 21m de altura e 29m de diâmetro. Construída por volta de 30 a.C., na transformação da República Romana em Império, liderada pelo Imperador Augusto, a tumba é considerada um dos monumentos mais bem preservados do local.
A própria Caecilia pertencia a uma família aristocrática. Ela se casou com um membro da família de Marco Crasso, que formou uma famosa aliança com Júlio César e Pompeu. “A construção de um monumento desse em um ponto de referência muito inovador e robusto na Via Appia Antica indica que ela era muito respeitada”, diz Marie Jackson, professora-associada de pesquisa em geologia e geofísica na Universidade de Utah e coautora do artigo. “O tecido de concreto 2.050 anos depois reflete uma presença forte e resiliente.”
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Forte coesão
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A tumba é um exemplo das tecnologias refinadas de construção de concreto no fim da Roma republicana. Os métodos foram descritos pelo arquiteto Vitruvius durante a construção da Tumba de Caecilia Metella. Erguer paredes espessas de tijolo grosso ou agregado de rocha vulcânica ligado com argamassa feita com cal e tefra vulcânica (fragmentos porosos de vidro e cristais de erupções explosivas) resultaria em estruturas que, “com o passar do tempo, não caem em ruínas”.
As palavras de Vitruvius são comprovadas pelas muitas estruturas romanas existentes hoje, incluindo os Mercados de Trajano (construídos entre 100 e 110 d.C., mais de um século após a tumba) e construções marinhas, como cais e quebra-mares. O que os antigos romanos não sabiam, porém, é que, com o tempo, os cristais do mineral leucita, rica em potássio e presente no agregado vulcânico, acabam se dissolvendo. Esse processo remodela e reorganiza de forma positiva a maneira como eles se associam em ligação cimentícia, e isso melhora a coesão do concreto.
“Focar no projeto de concretos modernos com zonas interfaciais de reforço pode nos fornecer mais uma estratégia para melhorar a durabilidade dos materiais de construção modernos”, diz Masic. “Fazer isso por meio da integração da comprovada ‘sabedoria romana’ fornece uma estratégia sustentável que pode melhorar a longevidade de nossas soluções modernas em ordens de magnitude.”
Varreduras
Linda Seymour, que participou do estudo como estudante de doutorado no laboratório de Masic, do MIT, investigou a microestrutura do concreto com ferramentas científicas. “Cada uma das ferramentas que usamos adicionou uma pista para os processos na argamassa”, diz. A microscopia eletrônica de varredura mostrou as microestruturas dos blocos de construção de argamassa na escala de mícrons.
A espectrometria de raios X por dispersão de energia revelou os elementos que compõem cada um desses blocos de construção. “Essas informações nos permitem explorar diferentes áreas da argamassa rapidamente, e podemos escolher os blocos de construção relacionados às nossas questões”, diz ela.