A gigante de tecnologia americana Apple apresentou uma ação judicial nesta terça-feira (23) contra a NSO, fabricante de programas espiões, por ter como alvo os usuários de seus dispositivos, alegando que a empresa israelense no centro do escândalo Pegasus deve ser responsabilizada.
O processo da gigante do Vale do Silício gera novos problemas para a NSO, que está envolvida em controvérsias sobre relatos de que dezenas de milhares de ativistas, jornalistas e políticos foram alvos potenciais do Pegasus.
Há apenas algumas semanas, as autoridades dos Estados Unidos restringiram as relações entre a NSO e grupos americanos sob acusações de que a empresa israelense "permitiu que governos estrangeiros realizassem uma repressão transnacional".
"Para evitar mais abusos e danos a seus usuários, a Apple também está buscando uma ordem judicial permanente para proibir a NSO Group de usar qualquer programa, serviço ou dispositivo da Apple", disse a empresa californiana em nota divulgada para anunciar o processo.
"Os acusados são hackers notórios, mercenários amorais do século 21, que criaram uma engrenagem de cibervigilância altamente sofisticada, que convida ao abuso rotineiro e flagrante", afirmou a companhia na demanda judicial.
Vigilância vs. verdade
"Os atores patrocinados pelo Estado, como a NSO Group, gastam milhões de dólares em tecnologias sofisticadas de vigilância sem responsabilidade efetiva. Isso deve mudar", disse Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software da Apple.
A NSO, por sua vez, negou sistematicamente qualquer irregularidade e reagiu ao anúncio insistindo que seu software está destinado ao uso das autoridades somente na luta contra o terrorismo e outros delitos.
"Os pedófilos e terroristas podem operar livremente em refúgios tecnológicos seguros, e proporcionamos aos governos as ferramentas legais para combatê-los. A NSO Group continuará defendendo a verdade", afirmou a companhia em uma nota enviada à AFP.
"Isso não pode ser uma boa notícia para a NSO, que, segundo os relatos, está em risco de inadimplência com mais de 500 milhões de dólares em dívidas, uma restruturação recente de sua liderança com seu CEO e, além disso, a desistência da França de uma compra planejada depois das sanções dos Estados Unidos", assinalou Jake Williams, da empresa de cibersegurança BreachQuest.
'Empresas mercenárias'
Em 2019, o Facebook processou a NSO Group, acusando-a de usar o WhatsApp para realizar espionagem cibernética contra jornalistas, ativistas de direitos humanos e outros.
Essa ação, movida em um tribunal federal da Califórnia, alegou que aproximadamente 1.400 dispositivos foram atacados com software malicioso para roubar informações valiosas de usuários do aplicativo de mensagens.
Os smartphones infectados com Pegasus se tornam essencialmente dispositivos espiões de bolso, permitindo que os usuários leiam as mensagens do usuário-alvo, vejam suas fotos, rastreiem sua localização e até mesmo liguem suas câmeras sem que eles saibam.
Especialistas da ONU pediram uma moratória internacional na venda de tecnologia de vigilância até que as regulamentações para proteger os direitos humanos sejam implementadas.
Após as preocupações iniciais sobre a Pegasus, uma onda subsequente de temores surgiu quando o fabricante do iPhone lançou uma correção em setembro para uma falha que permitia que um software-espião infectasse os dispositivos sem que os usuários clicassem em um link ou mensagem maliciosa.
O chamado "clique zero" pode corromper silenciosamente o dispositivo alvo e foi identificado por pesquisadores do Citizen Lab, uma organização de vigilância da segurança cibernética no Canadá.
"Empresas mercenárias de spyware, como a NSO Group, facilitaram alguns dos piores abusos dos direitos humanos e atos de repressão transnacional, enquanto enriqueciam a si próprios e a seus investidores", disse Ron Deibert, diretor do Citizen Lab.
Uma investigação feita por um grupo de direitos humanos europeu publicada no início de novembro descobriu que o spyware Pegasus foi usado para hackear os telefones de equipes de grupos da sociedade civil palestina visados pelo governo israelense.
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