Os drones foram desenvolvidos com objetivo de guerra, para servirem como plataformas de ataques feitos a distância ou como vigias de territórios inimigos. Nos últimos anos, porém, esse dispositivo foi “resgatado” por especialistas, e sua tecnologia vem sendo aprimorada para que ele possa ser usado em uma série de funcionalidades. Com essa missão, pesquisadores espanhóis desenvolveram uma versão da pequena aeronave não tripulada capaz de monitorar odores, o que pode ajudar na vigilância de estações de tratamento de águas residuais. Já cientistas da Alemanha incorporaram ao aparelho aparatos de som para identificar gritos de vítimas de desastres, como desabamentos. Os novos drones ainda estão em desenvolvimento, mas, caso evoluam, podem ser de grande ajuda ao realizar tarefas difíceis e perigosas para os humanos.
“Os maus odores produzidos pelas estações de tratamento de águas residuais têm se tornado uma preocupação crescente nas cidades que albergam essas instalações e são considerados pelos cidadãos a principal causa da percepção da poluição, juntamente com a poeira e o ruído”, explica, em comunicado, Santi Marco, professor da Universidade de Barcelona. Em parceria com o Instituto de Bioengenharia da Catalunha (IBEC), Marco e sua equipe incluíram, em um drone tradicional, uma espécie de nariz eletrônico, composto por 21 sensores químicos, além de sensores de temperatura, umidade e pressão. O aparelho também foi equipado com uma espécie de tubo, no qual o ar entra para ser avaliado.
Com esse sistema, os pesquisadores conseguem avaliar a composição das amostras analisadas, detectar possíveis falhas no sistema de tratamento e corrigi-las rapidamente. “Os odores que indicam problemas são identificados a partir das leituras minuciosas feitas pelos sensores químicos. Com todo esse aparato, criamos um sistema que fornece mapas de concentração de odores completos e que são transmitidos, em tempo real, para nossa base de controle, local onde damos as nossas ordens ao aparelho”, detalham os responsáveis pela tecnologia.
Uma série de testes foi feita com o novo dispositivo, e, de acordo com os criadores da solução tecnológica, os resultados são bastante animadores. “Conseguimos ter dados colhidos em poucos minutos. Identificamos e quantificamos a intensidade do odor em amostras de ar avaliadas em laboratório e em testes feitos durante uma série de voos experimentais”, conta Marco. “Recentemente, testamos a realização do mesmo tipo de tarefa com robôs de detecção de odores que andam apenas em ambientes terrestres, porém o acesso que esse dispositivo dispõe é limitado. Ainda precisamos realizar mais testes, mas acreditamos que, com esse drone, teremos todo um novo universo para ser avaliado dentro das estações de tratamento”, frisam os especialistas.
Minilaboratórios
Para Antonio Pedro Timoszczuk, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e CEO da empresa de consultoria Guidengen, em São Paulo, os pesquisadores europeus fizeram uma escolha inteligente ao eleger o drone como tecnologia de monitoramento de redes de tratamento de águas. “Esse sistema sensorial para avaliar gases já é algo que funcionava e foi incorporado a essa pequena aeronave. É uma espécie de minilaboratório acoplado ao drone, que consegue viajar por aí e fazer essas análises mais apuradas. Sabemos que, nesses ambientes, temos uma série de gases nocivos sendo produzidos, e eles precisam ser monitorados para evitar que complicações mais sérias ocorram”, afirma.
O especialista acredita que o dispositivo pode funcionar até como um sistema de reforço de segurança. “Essas estações já têm sensores de monitoramento em sua estrutura, mas esse trabalho mais aprimorado, que é feito pelos ares, pode render resultados muito mais apurados e evitar que algo passe despercebido”, justifica. Para Timoszczuk, a tecnologia de monitoramento de gases nocivos poderá ser aproveitada em outras áreas que ofereçam esse tipo de perigo. “É um sistema que ajuda bastante a proteger o meio ambiente, podemos usá-lo para saber se esses elementos tóxicos estão presentes em mares, por exemplo.”