Saúde

Atenção às doenças respiratórias que aparecem durante a seca

O período tem um aumento significativo de doenças respiratórias. Entenda a relação entre a baixa umidade e essas condições

Doenças respiratórias aparecem com a seca -  (crédito: Freepik)
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Doenças respiratórias aparecem com a seca - (crédito: Freepik)

Nariz escorrendo, olhos e garganta coçando e espirros que parecem infinitos. Essa é a realidade das manhãs e noites de muitos dos brasilienses durante o período da seca na capital. Quem sofre com alergias respiratórias e inflamações crônicas, como sinusite e rinite, e já enfrenta essas crises eventualmente, muitas vezes, precisa lidar com elas quase diariamente quando a umidade sofre quedas bruscas. 

Em Brasília, a partir de maio, algumas vezes já no fim de abril, começa o período da seca, que dura até setembro. No ano passado, a cidade viveu uma estiagem histórica, a maior desde 1963. Em uma contagem ansiosa, registramos 167 dias sem chuva, o que teve efeitos significativos na saúde da população. O sistema respiratório é um dos mais afetados e, enquanto ainda temos algumas chuvas, é importante nos prepararmos para a seca deste ano. 

Dados da rede Meu Doutor Novamed, do Grupo Bradesco Seguros, mostram que no outono e no inverno, o número de consultas médicas cresce, em média, 30%, assim como aumentam as internações por doenças respiratórias. 

Além do clima mais seco, as temperaturas mais baixas também favorecem o surgimento dessas intercorrências. Mas, ao mesmo tempo, sabemos — e ouvimos sempre dos profissionais de saúde —, que o frio, por si só, não causa doenças, sendo elas fruto de infecções e inflamações. 

Então qual a relação entre a seca da capital, o frio e as doenças respiratórias? Conversamos com alguns profissionais e trouxemos as respostas para os brasilienses que mais sofrem nesse período. 

Clima X saúde

— Larissa Camargo, médica otorrinolaringologista do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia, explica que a barreira primária de proteção das vias aéreas é a cavidade nasal, que filtra, aquece e umedece o ar que respiramos. 

— Os cílios, pequenas estruturas parecidas com os pelos localizadas tanto nas fossas nasais quanto na traqueia, nos brônquios e na garganta, são muito sensíveis e precisam estar bem hidratados para funcionar corretamente. 

— Durante a seca, o nosso organismo fica um pouco mais vulnerável. Além disso, quando a umidade do ar está baixa, há uma maior concentração de poluentes no ar, incluindo germes, bactérias e vírus.

— Ou seja, durante os próximos meses, além de o ar estar mais carregado de impurezas e com alta concentração de partículas que podem carregar agentes infecciosos, a barreira de proteção do organismo estará menos eficiente.

— Esse combo, sobretudo em Brasília, acaba causando um aumento grande nos casos de crises alérgicas e infecções e inflamações das vias aéreas. 

— Além disso, a seca na capital costuma ter temperaturas bem mais baixas durante a noite e a manhã, contrastando com tardes quentes, o que também é um fator de predisposição para problemas respiratórios. 

— Assim como na falta de umidade, os cílios não reagem bem a mudanças bruscas de temperatura. Por isso, durante as manhãs e noites, quando a temperatura externa costuma estar mais baixa que a corporal, as pessoas alérgicas e predispostas sofrem mais com muco excessivo, espirros e outros sintomas semelhantes. 

— Márcio Nakanishi, otorrinolaringologista  do Hospital DF Star, da Rede D'Or, afirma que as doenças respiratórias que aparecem nos períodos com baixa umidade do ar são as de origem inflamatória e alérgica. 

— O médico destaca rinite alérgica, sinusite, faringite, laringite, traqueobronquite, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). "Além dessas, é bastante frequente observarmos episódios de sangramento nasal, a epistaxe". 

— A solução para evitar tais enfermidades passa por medidas simples, como aumentar a ingestão de água e lavar bem as mãos. 

— Quando estamos bem hidratados, além das mucosas e cílios funcionarem melhor, as células de defesa do organismo têm mais facilidade para chegar às portas de entrada das infecções, como olhos, boca e nariz. 

— Fazer lavagens nas narinas ajuda na hidratação da mucosa nasal e na limpeza de impurezas, além de eliminar o excesso de muco. 

— O uso de equipamentos que umidificam o ar também pode ajudar, mas é importante estar atento à limpeza adequada, evitando a contaminação por fungos e bactérias. Manter a casa limpa e arejada, evitando o acúmulo de poeira, também é benéfico. 

— Existem ainda cuidados profiláticos para quem já sabe que sofre com problemas respiratórios. Entre eles, os médicos destacam a vacinação, principalmente as que protegem contra a gripe e pneumococo. 

— Os médicos explicam que existem medicamentos que podem ser usados de forma preventiva por quem tem problemas crônicos, mas ressaltam a importância de nunca se automedicar, sempre buscando orientação médica. 

PALAVRA DO ESPECIALISTA 

Existem pessoas mais predispostas aos efeitos da seca na saúde respiratória?

Pessoas com histórico de alergias respiratórias, asma ou outras condições pulmonares preexistentes são mais suscetíveis aos efeitos do tempo seco. Além disso, indivíduos que convivem em ambientes aglomerados, como escolas, prisões e hospitais, também estão em maior risco. Sem medidas preventivas adequadas, esses problemas podem se intensificar.

As consequências podem ser mais graves?

Se negligenciadas, as condições respiratórias podem evoluir para complicações mais graves, como infecções secundárias e problemas respiratórios persistentes. As consequências podem ser mais críticas para quem já possui doenças crônicas.

Crianças e idosos estão mais vulneráveis?

Os extremos de idades, como crianças mais novas e os idosos, são mais susceptíveis a adquirirem os quadros inflamatório-infecciosos devido à redução da imunidade e a apresentarem doenças crônicas de base. O sistema imunológico dos pequenos ainda está em desenvolvimento, enquanto, nos idosos, ele tende a ser menos eficiente. Ambos os grupos necessitam de atenção redobrada e medidas preventivas cuidadosamente implementadas.

Adriano D. Lima é médico otorrinolaringologia clínico do Hospital Santa Lúcia, de Brasília

AC
postado em 20/04/2025 07:00 / atualizado em 20/04/2025 18:56