Neurônios em dia

Derrame cerebral entre jovens não é raro. Mulheres devem ser mais cautelosas

Estudos apontam que os jovens chegam a representar uma fatia de quase 15% a 20% de todos os casos de derrame cerebral, principal causa de morte no Brasil

Mulheres com 35 anos ou menos são 44% mais propensas a ter um AVC isquêmico do que os homens, segundo a American Heart Association -  (crédito: Reprodução/American Heart Association)
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Mulheres com 35 anos ou menos são 44% mais propensas a ter um AVC isquêmico do que os homens, segundo a American Heart Association - (crédito: Reprodução/American Heart Association)

O derrame cerebral, principal causa de morte em nosso país, é mais comum entre os idosos, mas tem ocorrido cada vez mais precocemente. Estudos apontam que os jovens chegam a representar uma fatia de quase 15% a 20% de todos os casos.

As mulheres têm alguns fatores de risco que os homens não têm e outros que elas apresentam de forma bem mais frequente.

Pílula anticoncepcional.

O tempo de exposição ao estrogênio pode ser estimado, em uma mulher, antes da menopausa, pelo tempo entre a primeira menstruação e a menopausa adicionado ao tempo em que usou estrogênio como anticoncepcional. Uma pergunta muito comum no consultório neurológico é se o tempo prolongado do uso de anticoncepcionais pode aumentar o risco de derrame cerebral, e uma grande pesquisa publicada em 2023 mostrou que maior exposição de estrogênio antes da menopausa, na verdade, reduz esse risco.

O estudo envolveu mais de 120 mil mulheres já na menopausa com acompanhamento por nove anos em média. Tanto o tempo de fertilidade, da primeira menstruação à menopausa, como o tempo de uso de estrogênio como pílula anticoncepcional conferiram proteção contra a ocorrência de derrame cerebral.

Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que o estrogênio tem um certo grau de proteção vascular no coração e no cérebro por suas propriedades vasodilatadoras, antioxidantes e de regulação no metabolismo do colesterol e glicose. Quando se pensa em reposição de estrogênio após a menopausa, essa proteção ocorre com o uso até os 60 anos de idade ou dentro de um período de dez anos após a menopausa. Após esse tempo, a resposta é indiferente ou o risco pode até aumentar.

Gravidez.

O terceiro trimestre da gravidez e o puerpério são períodos em que a mulher tem mais chance de apresentar eventos vasculares, incluindo o derrame cerebral. As mudanças hormonais, na circulação e na coagulação sanguínea podem responder por esse maior risco.

Enxaqueca com aura.

Vale lembrar que as mulheres têm três vezes mais enxaqueca que os homens. Cerca de 25% das pessoas que sofrem de enxaqueca também apresentam sintomas que precedem as crises de dor de cabeça, como flashes visuais e formigamento de um lado do corpo. A esses sintomas dá-se o nome de aura e há inúmeras evidências de que a enxaqueca com aura aumenta a chance de derrame, e o risco é ainda maior quando outros fatores estão presentes.

A relação entre a enxaqueca e o derrame cerebral envolve uma complexa interação de particularidades do cérebro, vasos sanguíneos, coagulação, e até mesmo do coração de que tem enxaqueca. Os derrames costumam ocorrer mais nas regiões posteriores do cérebro e naqueles com crises mais frequentes. O risco é ainda maior quando existem outros fatores, como uso de pílula anticoncepcional, dislipidemia, hipertensão arterial, obesidade e tabagismo. Mulheres com enxaqueca com aura devem evitar as pílulas anticoncepcionais que contêm o hormônio estradiol.

No caso do tabagismo, ele está associado ao derrame cerebral mesmo entre os jovens. Uma pesquisa acaba de ser publicada pela Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, demonstrando que o risco de derrame cerebral é duas a cinco vezes maior entre fumantes entre 18 e 49 anos de idade. É claro que esse risco é ainda maior quando o indivíduo tem enxaqueca com aura.

Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
RA
postado em 19/02/2025 18:59