
Explosão de cores, passos ágeis, acrobáticos e sombrinhas que dançam no ar. O frevo, que nasceu em Recife entre o fervor do carnaval e as ruas cheias de orquestras, é mais do que um símbolo cultural: é um convite ao movimento, à liberdade e ao prazer de se expressar por meio do corpo. Em 2012, o frevo foi reconhecido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, consolidando sua importância como manifestação cultural de relevância global. Mas e se ele pudesse ir além da festa e se tornar uma prática constante, uma atividade física capaz de unir história, ritmo e bem-estar?
Foi pensando nisso que Otávio Bastos, professor de frevo há 24 anos, transformou a dança em uma experiência acessível para todos, dentro e fora do Brasil. Para ele, o frevo não é apenas aquele espetáculo visto nas apresentações carnavalescas, com saltos impressionantes e acrobacias. "Geralmente, quando a gente tem essa ideia de dançar para o olho do outro, nos aproximamos muito da estética do balé ou da beleza que vem de fora, mas o frevo vai além disso. Você não dança para ser aplaudido, dança para buscar prazer no próprio movimento", acredita.
Em todo o lugar
O pernambucano já levou o frevo para diferentes partes do mundo e, com a pandemia, viu uma nova possibilidade surgir: criar o projeto on-line Mexe com Tudo (@mexecomtudo), conectando pessoas de diversos países a essa manifestação cultural brasileira. "A pandemia fez com que tudo fosse para o on-line. Comecei a atrair olhares de pessoas de outros estados do Brasil e de outros países, e hoje temos professores ensinando frevo nos Estados Unidos, na Suíça e em Portugal", conta.
Mas sua abordagem vai além do ensino técnico da dança: o foco é permitir que cada aluno descubra o frevo dentro das próprias possibilidades. "Tenho alunos de diferentes idades, corpos e experiências. A ideia não é se aproximar do corpo que a gente vê no espetáculo ou na TV, mas do corpo que sente prazer no próprio movimento. Assim, quebramos um monte de objeções e transformamos o frevo em uma atividade física divertida e acessível."

As aulas são ao vivo, e ele acrescenta que pessoas tímidas são mais do que bem-vindas. "Uma das principais vantagens das aulas on-line seria principalmente para as pessoas mais tímidas, que acabam se soltando e desenvolvendo uma coragem de dançar por ninguém estar olhando", analisa.
Sem coreografias rígidas ou passos obrigatórios, Otávio defende que a dança deve ser uma experiência individualizada. "Nas minhas aulas, não existe a ideia de 'dois passos para um lado e dois para o outro'. Cada um desenvolve sua própria lógica e encontra o próprio ritmo."
E se engana quem pensa que frevo é só no carnaval. Segundo Otávio, a demanda pela dança acontece o ano inteiro. "Aqui é frevo de janeiro a janeiro, sem parar. Isso se deve muito ao trabalho de relacionar o frevo à atividade física, à criatividade e à desinibição", relata.
Benefícios e cuidados
Assim como qualquer atividade física, a prática do frevo proporciona diversos benefícios físicos e mentais, e se feita com intensidade e execução corretas, torna-se uma ótima forma de fortalecer o corpo e se exercitar. Na dança, cada um consegue se divertir e se adaptar e construir seu próprio modo de dançar. Segundo o fisioterapeuta André Pêgas, o exercício, desde que respeite as limitações e a idade do paciente, pode também prevenir lesões e auxiliar nas dores crônicas e posturais. "Se você respeitar a sua condição física, as suas articulações e a sua capacidade musculoesquelética, ela pode funcionar como uma prevenção. A gente fala que a atividade na dose certa é remédio; na dose errada, vira veneno", explica.
Mas atenção! É recomendável se consultar com um fisioterapeuta antes, pois é preciso levar em conta sua predisposição. "Por ser uma atividade que exige muito corporalmente, é importante verificar se você tem propensão a hérnias de disco e problemas de coluna. Se sim, é indicado não fazer mais as aulas", alerta André.
Um pedacinho de Pernambuco na capital
Com uma procura muito alta, não só na época de carnaval mas durante o ano todo, o frevo se encontra como uma identidade para muitos pernambucanos que moram em Brasília e como uma nova paixão para aqueles que se interessam pelo ritmo. Uma forma de trazer um pouco da cultura de Pernambuco para a capital encontrada por Jefferson Figueiredo, passista de frevo, professor, artista e pesquisador na área da dança, foi ministrar aulas de frevo.
Segundo o professor, há uma grande demanda de pernambucanos que moram no Distrito Federal, que têm essa relação de saudade do estado, e de pessoas que estão somente de passagem. "Tenho contato com o frevo desde meus 11 anos de idade, tudo que é ligado ao frevo me motiva bastante. Chegando a Brasília, uma amiga me instigou muito a abrir uma turma de frevo e unir a grande procura com meu interesse de dar aulas assim que me instalasse por aqui, e aconteceu", conta.

As aulas se iniciaram em abril de 2024, após o carnaval do ano passado, mas a procura foi tanta que a turma se mantém firme desde o começo. "Agora em janeiro e fevereiro teve uma procura maior de pessoas que estão com passagens compradas para passar carnaval em Olinda ou Recife, por exemplo, e tem uma curiosidade de aprender um passo ou conhecer um pouco da história do frevo", compartilha. Um repertório rico e diferenciado é preparado para as aulas em Brasília: traz um pouco do contexto histórico, social e político dessa dança, para proporcionar uma melhor experiência aos alunos.
Uma das grandes dificuldades encontrada por Jefferson de ensinar frevo para quem não tem contato é ir para além do passo. Por conta da forte estética da desenvoltura dos saltos e dos agachamentos, muitas pessoas se sentem incapazes e têm receio de experimentar a prática. "O frevo se configurou muito esteticamente pelo seu virtuosismo, por ser uma dança que as pessoas dizem ser difícil de fazer e que faz muito malabarismo com a sombrinha. Mas esse é só um modo de dançar frevo, existem outras formas de dança que não exigem tudo isso", finaliza.
E quem disse que Brasília não tem carnaval?
Confira eventos que trazem o frevo para o Quadradinho!
Aulas com o professor Jefferson Figueiredo (@jefferson_figueiredo) — Aulas toda segunda-feira à noite, na 711 Norte
Galinho de Brasília — 3 de março, às 16h
Vassourinhas de Brasília — 1º de março, com a concentração no Sesi Lab, às 15h, e cortejo em direção ao Setor Carnavalesco Sul
Festival DNA Brasil — Hoje, às 18h
*Estagiárias sob a supervisão de Sibele Negromonte
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