Essa reportagem começa com um desafio: será que existe algum brasileiro que não conhece uma Maria ou um José? Sejam em suas formas originais ou em composições com outros nomes? Difícil, já que estes, segundo o Censo 2010, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são os nomes mais populares no Brasil, com, respectivamente, mais de 11,7 milhões e 5,7 milhões de ocorrências.
Quando falamos em bebês ou crianças mais jovens, os nomes mais registrados atualmente são Helena e Miguel. De acordo com dados do Portal da Transparência de Registro Civil, em 2024, dos 4.806.701 registros de nascimento emitidos no Brasil, 25.061 foram com o nome Helena, o mais popular; seguidos por 24.362 com o nome Miguel, segundo no ranking.
- Corpo em harmonia! Conheça os benefícios dos treinos funcionais
- Beleza na transição: mudanças na pele e cabelo na menopausa
No DF, o primeiro lugar se manteve. Entre os 82.315 bebês que nasceram, 470 se chamam Helena, seguidos por Ravi, com 431 registros; Maitê, com 416; e Miguel, que ficou em quarto lugar com 408 registros.
E, apesar das tendências, existem muitos pais e mães que preferem escolher nomes incomuns ou pelo menos não tão badalados para seus filhos. Enquanto alguns voltam ao passado e escolhem nomes que fizeram sucesso em outras décadas ou optam por nomes usados em outros países, mas não tão populares no Brasil, outros realmente querem se diferenciar e escolhem nomes quase únicos ou até mesmo completamente inéditos.
- Cuidado com a exposição solar: saiba mais sobre o câncer de pele
- Maximalismo, o estilo de design que abraça o excesso com personalidade
Em 2013, a partir de um levantamento feito com 165 milhões de CPFs, a ProScore, empresa especializada em análise de crédito de CPFs cadastrados no Brasil que usa a base de dados da Receita Federal e de cartórios, divulgou que, na época, existiam 1.169 nomes únicos no Brasil.
O feminino de amor
"Eu sempre fui Amora, nunca tive outro nome nem uma opção caso fosse menino", conta a advogada e professora Amora Nogueira Oliveira, 34. O nome já estava escolhido desde a adolescência de sua futura mãe, a terapeuta ocupacional Fernanda Nogueira, 63.
Na juventude, Fernanda ouviu que alguém tinha esse nome e se encantou. Na hora decidiu que quando tivesse uma filha, esse seria seu nome. Para ela, a palavra era ainda o equivalente a uma forma feminina de amor, que é o significado que mãe e filha carregam e contam até hoje.
Amora sempre gostou de seu nome e conta com afeto sobre o significado atribuído por sua mãe. Na adolescência, aconteceu com ela o mesmo que a grande maioria das pessoas com nomes diferentes, piadinhas sem graça e algumas que passavam do tom.
Isso fez com que ela, por um breve período, tivesse um pouco de vergonha quando perguntavam seu nome ou na hora da chamada quando todos olhavam para ela, que sempre foi mais tímida.
Mas o desconforto não era grande e, como ela costumava ignorar, logo as brincadeiras perdiam a graça e desapareciam. "E mesmo assim, eu nunca tive um problema com meu nome ou quis mudar, essa vergonha era coisa de fase mesmo", comenta.
Amora conta que sempre se sentiu muito única e gosta da sensação. E, embora, atualmente o nome tenha se tornado mais popular e na escola em que dá aulas conheça três crianças que são suas xarás, ela acredita que na sua idade, segue sendo inédita.
"Me encaixo com meu nome, sinto que é minha cara e quem eu sou. Nunca pensei em mudar, mas quando me perguntam que nome escolheria, não consigo pensar em nada que me represente tão bem", revela.
Indecisa, Amora ainda não tem nomes em mente para seus filhos, mas a ideia é que eles comecem com a letra A, inicial que divide com a irmã caçula, Alice. A ideia é manter o A e dar um nome diferente, mas não tão incomum ao ponto que possa causar desconfortos para as crianças. "Quero que, assim como o meu, eles tenham uma potência e um significado especial", completa.
Família unida
Os quatro irmãos Ludgero têm nomes compostos, todos eles compartilham um segundo nome bíblico, escolha do pai, o lutador e treinador Ataíde Ludgero Júnior. O mais velho, Ian Lucas Ludgero, 34 anos, escapou de ter o primeiro nome incomum por intervenção da mãe.
Já os três mais novos foram premiados com as escolhas do pai. O lutador formado em educação física, professor de jiu jitsu e modelo Kim Gabriel Lemes Ludgero, 23, quase foi o terceiro da linhagem: Ataíde Neto, mas sua mãe vetou. Em seguida, veio a ideia de Gohan. "Sim, exatamente como o filho do Goku, mas ainda bem minha não quis, porque o bullying ia ser ainda pior", conta rindo.
Chefe guerreiro
Por fim, os pais concordaram em Kim. A simbologia é especial, Kim significa chefe e o sobrenome Ludgero é guerreiro. "É muito forte, hoje tenho orgulho e combina muito comigo, que tenho essa trajetória na luta assim como meu pai e irmãos, mas até eu me adaptar demorou", conta.
Quando era criança, o bullying era constante. O nome Kimberly, comum nos Estados Unidos, era um dos motivos que as crianças usavam para perturbar o jovem, dizendo que ele tinha "nome de menina".
Nessa época, ele tinha vontade de trocar de nome e vergonha de ter que explicar e ser diferente de todo mundo. Mas depois de amadurecer, percebeu que ser diferente, o que na infância causava incômodo, é muito bom.
"Você já começa tendo um diferencial. É espetacular ter um nome diferente e depois que você cresce e para de se importar com a opinião dos outros, se orgulha de não ser só mais um no meio da multidão", completa.
Depois de Kim, veio o estudante Thor Daniel Lemes Ludgero, 20. Ele conta que a mãe, apesar de não ser tão fã da ideia, já estava acostumada com o nome incomum do irmão e embarcou na ideia.
Para o jovem, a experiência foi mais tranquila do que para o irmão mais velho. "Sempre achei maneiro e mesmo com as brincadeiras na escola, eu era mais na minha e não ligava. Não tinha ninguém com nome parecido e achava legal eu e o Kim sermos únicos".
Mas mesmo sendo tranquilo, ele não ficou imune à descrença das pessoas. Muitos, ao perguntar como ele se chama, duvidam da resposta e acham que Thor está brincando. Ele e Kim têm um irmão apenas por parte de mãe que se chama Pedro, o que aumenta a desconfiança quando ele revela seu nome.
Por fim, veio o caçula de Ataíde, irmão de Ian, Kim e Thor pelo lado paterno: Kron Samuel Benon Ludgero, de 12 anos. A escolha é uma variação do nome Kronos, deus grego do tempo e finaliza, por enquanto, uma prole de rapazes com nomes únicos e que homenageiam a mitologia e os deuses de diversas culturas.
Saiba Mais
-
Revista do Correio 12 nomes de personagens de contos de fadas para cachorro
-
Revista do Correio 6 dicas para planejar o espaço do home office
-
Flipar Califórnia registra avistamentos de "peixe do juízo final"
-
Flipar Criatividade e expressão de talento do artesanato brasileiro
-
Flipar Cidades que ficam abaixo do nível do mar