
O artesanato nacional é um dos mais ricos do mundo e tem ganhado destaque em projetos de decoração no Brasil e no exterior. Por refletir a diversidade cultural do país, a arte popular brasileira apresenta uma variedade encantadora de formas, cores e texturas que conferem autenticidade e identidade aos ambientes. Assim, as peças artesanais são grandes aliadas para quem deseja criar espaços criativos e culturalmente ricos em casa.
Entretanto, o valor do artesanato vai muito além de sua função decorativa. Conforme explica a arquiteta e urbanista Maria Eduarda Novaes, essas peças representam a essência do Brasil enquanto nação, traduzindo a história, as tradições e a identidade de cada região. Mais do que um elemento estético, o artesanato é uma forma viva de preservação cultural.
Valorizar o artesanato, portanto, é essencial. "Essa valorização fortalece a economia local, preserva saberes ancestrais e enriquece culturalmente os espaços", afirma a arquiteta. Uma maneira prática de fazer isso é adquirir peças diretamente de artesãos durante viagens, feiras e mercados locais.
"Além disso, arquitetos podem — e devem — integrar o artesanato em seus projetos, trazendo autenticidade e personalidade aos ambientes", orienta Maria Eduarda. Criar composições com itens de diferentes regiões é uma forma não apenas de valorizar essa arte, mas também de conferir uma identidade única aos espaços decorados.
Ao incorporar peças artesanais na decoração, é possível transformar os ambientes em espaços cheios de vida e história, que refletem a riqueza cultural do Brasil. Seja em uma casa moderna, clássica ou rústica, o artesanato brasileiro encontra seu lugar como protagonista, unindo tradição e estilo em cada detalhe.

Colocando em casa
Incluir o artesanato brasileiro na decoração traz inúmeros benefícios e destaca a singularidade dos espaços. Segundo a decoradora Cláudia Mohn, dona da Cerrado Chic, loja de decoração localizada na 308 Sul, a exclusividade é um dos principais atrativos. "O legal da arte popular é justamente que a peça será única. Seja pela coloração, seja pelo material, ninguém terá nada igual", destaca.
Além disso, as peças artesanais têm o poder de deixar a casa mais acolhedora e cheia de personalidade. "A arte que você coloca no espaço expressa memórias de viagens, lembranças de pessoas queridas e de culturas diversas. Ou seja, essas peças não apenas decoram o espaço, mas também contam histórias", avalia Maria Eduarda.

Uma dica prática para utilizar o artesanato na decoração é destacá-lo como ponto focal. "Se você tem uma peça extremamente bonita, tente realçá-la com uma iluminação diferenciada. Um quadro especial, por exemplo, pode ganhar destaque em uma parede específica", aconselha Cláudia. Outra sugestão é combinar diferentes tipos de artesanato. "O segredo é equilibrar texturas e materiais, criando harmonia e fluidez no ambiente", ensina Maria Eduarda.

Com suas cores vibrantes e texturas marcantes, as peças artesanais também podem ser usadas para criar contrastes interessantes em ambientes com paletas neutras ou para adicionar toques de cor que complementem a decoração existente. "O importante é não ter medo de arriscar. O artesanato combina com muitos estilos. Mesmo em decorações mais modernas, ele pode ser integrado de forma incrível", garante Cláudia.
Saiba Mais
Conhecendo as peças
O artesanato brasileiro é o resultado de uma fascinante fusão de culturas. Influências indígenas, africanas e europeias se misturaram ao longo do tempo, criando um estilo único e diverso. "O artesanato se apresenta de formas distintas em cada região do Brasil. Cada local traz seus próprios estilos, técnicas, materiais e cores", explica Maria Eduarda.

Segundo Cláudia, em termos de volume, o Nordeste se destaca como o grande provedor de arte popular brasileira. Entre suas tradições mais conhecidas está a renda de bilro, uma técnica que resulta em delicados bordados usados em roupas, toalhas e outros objetos. Na decoração, essas rendas ganham vida em almofadas, centros de mesa e peças artísticas.
"Depois vem a região da Amazônia, onde as etnias indígenas produzem artesanato belíssimo, cheio de significado cultural. Aqui, no Centro-Oeste, também temos uma produção muito rica. Há colares de mesa, trabalhos em barro e cerâmica, entre outras criações incríveis. Tem de tudo", completa Cláudia.
Meio de transformação social
Além de enriquecer a identidade cultural do país, o artesanato desempenha um papel social crucial. "A arte dá visibilidade e transforma a vida de muitas pessoas. Existem famílias inteiras que dependem do artesanato para viver", ressalta Cláudia. Dessa forma, a arte popular é uma poderosa ferramenta de inclusão, contribuindo significativamente para a geração de renda, especialmente em regiões afastadas dos grandes centros urbanos. "O artesanato empodera grupos marginalizados, como mulheres e pessoas de baixa renda, além de gerar impactos positivos no setor de turismo", afirma Maria Eduarda.

Um dos grandes exemplos dessa transformação é a artista Cida Lima, que é famosa por suas cabeças de cerâmica. Nascida em Belo Jardim, no agreste de Pernambuco, começou a trabalhar com barro ainda criança, aos 8 anos, para ajudar a sustentar a família. Em 2005, a mestra teve contato com um projeto que tinha como objetivo estimular a potencialidade dos artesãos de Belo Jardim. A partir daí, começou a vender as famosas cabeças de barro no centro da cidade, resultando em reconhecimento e sucesso para sua criação.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte