O luto é um conjunto de sentimentos ocasionado pela perda significativa, geralmente pela morte de outro ser, um familiar, um amigo ou, até mesmo, um artista querido. Em outubro deste ano, a morte do cantor Liam Payne, um dos ex-integrantes da banda One Direction, aos 31 anos, gerou uma onda de comoção nos fãs.
Em Brasília, uma homenagem reuniu dezenas de admiradores, tanto do grupo quanto da carreira solo do cantor, que se emocionaram diante da partida repentina do astro. O memorial simbólico para Liam, na Biblioteca Nacional de Brasília, foi organizado por Helena Alcântara, 24 anos, e Catarina Mourão, 17, que são fãs da banda há anos.
Já no início de novembro, uma legião de admiradores de Ayrton Senna se encontram no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, para uma homenagem ao piloto de Fórmula 1, morto em 1994. O desfile foi aplaudido de pé pela torcida da arquibancada e contou com a presença do britânico Lewis Hamilton, que já declarou que se inspira no brasileiro nas pistas de corrida.
Fã de Senna, Márcia Cristiane Barreto, 53, relata dificuldades em lidar com o luto do piloto. "No começo, eu demorei a aceitar, passei pela fase de negação. Assisti à chegada do corpo pela tevê e alguns momentos do velório. Mas não consegui acompanhar porque chorava muito", relembrou.
O luto dos fãs, como as entrevistadas pelo Correio, na morte dos artistas é real. Já o sentimento é o processo de enfrentamento das nossas perdas, explica a psicóloga Juliana Marcondes, coordenadora do curso de psicologia da Estácio BH. Assim, a profissional completa que, dependendo da importância dada a uma pessoa ou um objeto, a perda pode gerar uma dor "até maior do que por um parente".
Ou seja, o luto pode ser de algo, de alguém ou até o sentimento quando um projeto de vida muito esperado não dá certo, como um casamento, por exemplo. Juliana enfatiza a importância de buscar ajuda e alerta que o não enfrentamento desse sentimento pode pesar em outras áreas da vida.
A psicóloga Natália Aguilar ressalta a importância do apoio de amigos e familiares a quem está lidando com a perda de um artista querido. "É importante que as pessoas que estão no entorno desse fã possam compreender que o sofrimento dele é real, é legítimo. É importante que a gente tenha esse entendimento, porque isso vai nos ajudar a ocupar um lugar de mais respeito a esse luto", justifica.
Ela acrescenta que, dependendo do contexto, o ídolo é a pessoa mais próxima que esse fã tem na vida. "Às vezes, por um tempo, vai ser a companhia dele. Então, a gente não pode diminuir esse tipo de luto, a gente precisa validar e dar lugar de fala, dar espaço para choro e para sofrimento, porque é legítimo, principalmente quando a gente fala de adolescentes."
Natália esclarece que a falta de validação desses sentimentos podem gerar ansiedade e sensação de solidão. "A longo prazo, quando eu tenho qualquer tipo de luto não validado, a tendência é me isolar e acreditar que não posso contar com as pessoas, então vou me fechando mais ali na minha bolinha. E gente sabe que, cada vez mais que me fechar, vai se tornar mais difícil lidar com as situações", finaliza.
"O ronco dos motores perdeu a graça"
Mesmo após 30 anos da morte de Ayrton, Márcia Barreto diz que não consegue mais acompanhar as disputas de Fórmula 1. "Fica aquela sensação de que o Senna ia aparecer com todo seu encanto e talento a qualquer momento. O ronco dos motores perdeu a graça", afirma.
Ela, que costumava assistir às corridas junto à família, contou que estava sozinha no dia da morte do ídolo. "Foi uma fase muito triste logo após o falecimento, senti como se fosse um ente querido, como se ele fizesse parte da família", contou na entrevista ao Correio.
A advogada Glycídia Leão Barreto Galdino também chorou quando o astro da Fórmula 1 morreu. "Perder um ídolo dói, é um luto doloroso, especialmente quando se tem que acompanhar tudo a distância... A incredulidade e a tristeza são imensos. O tempo transforma a dor em saudade, mas seu lugar em meu coração jamais será ocupado por outro ídolo, até porque sei que não existirá outro. Ídolo é insubstituível", expressou.
Proximidade de fã e ídolo
Apesar da distância física, os fãs se sentem próximos aos ídolos. "A gente consegue se conectar com o artista em uma letra de uma música... É como se eles pudessem descrever um sentimento que a gente não consegue colocar em palavras, ou que, às vezes, nem sabe o que está sentindo", diz Helena Alcântara, que acompanhava a carreira solo de Liam Payne e dos outros integrantes do One Direction.
Catarina Mourão completa que o sentimento de ser fã "é mágico". "É sentir que você tem alguém sempre, mesmo que a gente não conheça pessoalmente. E eu conhecia a pessoa dele, conhecia as músicas dele e as músicas dele me conheciam. É você ter um amor por alguém tão grande que serve como uma âncora, alguém pra se apoiar", diz.
Já Hyuka Acioli Botelho, de 19 anos, afirma que há "um momento que a gente sente como se fosse parte da família, do ciclo social (do ídolo), porque a gente acaba tendo muito contato com a vida daquela pessoa, mesmo ela não sendo, de fato, um conhecido".
Vida de Senna na telinha
Desde 29 de novembro, a Netflix disponibilizou a série Senna, uma super produção em seis episódios que conta a trajetória profissional do piloto desde o início, ainda criança, no kart, passando pelos diversos títulos nas competições que participou, até sua trágica morte, nas pistas, em 1º de maio de 1994. Também acompanha a história pessoal do homem que virou um herói nacional. O ator Gabriel Leone dá via a Ayrton Senna na telinha.
Nunca esquecidos
A Forbes publicou, em outubro deste ano, a lista com as 13 celebridades que mais faturam mesmo após a morte. A revista analisou os rendimentos acumulados entre outubro de 2023 e 30 de setembro de 2024. A receita de catálogos musicais e acordos de espólio permanecem as principais fontes de renda para artistas falecidos. Confira a lista:
1. Michael Jackson
25 de junho de 2009 (50 anos) // Causa da morte: overdose
US$ 600 milhões (R$ 3,42 bilhões)
2. Freddie Mercury
24 de novembro de 1991 (45 anos) // Causa da morte: aids
US$ 250 milhões (R$ 1,43 bilhão)
3. Dr. Seuss
24 de setembro de 1991 (87 anos) // Causa da morte: câncer
US$ 75 milhões (R$ 427,5 milhões)
4. Elvis Presley
16 de agosto de 1977 (42 anos) // Causa da morte: ataque cardíaco
US$ 50 milhões (R$ 285 milhões)
5. Ric Ocasek
15 de setembro de 2019 (75) // Causa da morte: doença cardiovascular
US$ 45 milhões (R$ 256,5 milhões)
6. Prince
21 de abril de 2016 (57) // Causa da morte: overdose
US$ 35 milhões (R$ 199,5 milhões)
7. Bob Marley
11 de maio de 1981 (36) // Causa da morte: câncer
US$ 34 milhões (R$ 193,8 milhões)
8. Charles M. Schulz
12 de fevereiro de 2000 (77) // Causa da morte: câncer
US$ 30 milhões (R$ 171 milhões)
9. Matthew Perry
28 de outubro de 2023 (54) | Causa da morte: overdose
US$ 18 milhões (R$ 102,6 milhões)
10. John Lennon
8 de dezembro de 1980 (40) // Causa da morte: homicídio
US$ 17 milhões (R$ 96,9 milhões)
11. James Brown
25 de dezembro de 2006 (73) // Causa da morte: insuficiência cardíaca
US$ 15 milhões (R$ 85,5 milhões)
12. Arnold Palmer
25 de setembro de 2016 (87) // Causa da morte: doença cardiovascular
US$ 14 milhões (R$ 79,8 milhões)
13. Whitney Houston
11 de fevereiro de 2012 (48) // Causa da morte: afogamento
US$ 13 milhões (R$ 74,1 milhões)