A presença de tecnologias tem transformado cenários dentro da área da medicina. Um estudo realizado no Brasil e conduzido por dois especialistas brasileiros destaca como a inteligência artificial (IA) pode desempenhar um papel crucial para apontar o tamanho ideal das próteses mamárias em cirurgias plásticas.
A pesquisa, publicada em setembro de 2024 na revista científica Plastic and Reconstructive Surgery, analisou dados de 1000 pacientes, mulheres de 18 anos ou mais, que passaram por aumento mamário bilateral entre 2016 e 2022. Os responsáveis pelo estudo, o cirurgião plástico Filipe Basile e a médica Thaís Oliveira, coletaram dados pessoais das pacientes, como peso, altura, largura da base mamária e histórico médico, para serem utilizados como método da inteligência artificial, no qual um código com uma linguagem de computação foi escrito, o python, e treinado, sob supervisão, para indicar o tamanho ideal da prótese.
O algoritmo posto em prática alcançou 86% de eficiência dos casos, com uma pequena margem de erro de 27,10ml. Pacientes com histórico de alguma cirurgia mamária precedente e aquelas que necessitaram de tamanhos diferentes para cada seio foram excluídas.
Fator decisivo
A escolha do tamanho da prótese é uma das etapas mais importantes para garantir o resultado esperado. Tradicionalmente, essa escolha depende da experiência do cirurgião e das preferências pessoais da paciente, sem nenhum protocolo prévio específico. Por meio dos algoritmos treinados na pesquisa, é possível diminuir as chances de reoperações causadas pela insatisfação e quebra de expectativa das pacientes.
Durante o processo, 57 pacientes se arrependeram da escolha inicial e 36 delas (63%) teriam recebido um tamanho de implante mais adequado se a sugestão do modelo tivesse sido aplicada, reforçando a importância do método. A diferença entre a previsão e a nova escolha foi de -37ml, indicando que o modelo sugeriu um tamanho ligeiramente menor do que o escolhido inicialmente. Resultado: o modelo selecionou um tamanho mais próximo para a segunda escolha do que a escolha inicial do médico. Segundo Filipe Basile, um dos autores da pesquisa, a inteligência artificial atua como uma ferramenta complementar, mas a decisão final sempre será da paciente.
A implementação desse método na prática pode fornecer suporte aos cirurgiões e aperfeiçoar os resultados, melhorando o planejamento pré-operatório e aumentando a satisfação da paciente. O maior benefício seria a paciente não se submeter a outro procedimento cirúrgico.
Expandindo a área
A perspectiva futura do estudo é usar essa metodologia em procedimentos de reconstrução mamária para pacientes pós-câncer e expandir para outras áreas da cirurgia plástica. "A aplicação na reconstrução mamária é um dos próximos passos que estamos explorando. A metodologia pode ser aplicada em diversas áreas, por exemplo, para planejar intervenções faciais, como rinoplastias, ou na escolha de volumes e simetria para gluteoplastias. Além disso, a integração da IA em procedimentos reconstrutivos mais complexos, como reconstruções faciais após traumas ou câncer, é uma possibilidade promissora", relata o cirurgião.
Para Basile, apesar dos avanços, ainda faltam etapas importantes, como testes clínicos ampliados e regulamentação. "Nossa expectativa é que, dentro de dois a três anos, a técnica esteja amplamente disponível, inicialmente em centros de excelência, e depois seja gradualmente incorporada à prática clínica", completa.
*Estagiária sob a supervisão
de Sibele Negromonte