Uma das principais séries da Apple TV nos últimos anos, Silo fez fãs no mundo inteiro ao contar a história de uma comunidade que vive em um abrigo de concreto debaixo da terra, mas que não tem direito à curiosidade. Uma narrativa misteriosa e tensa que passeia sobre temas atuais e discute, por meio de uma realidade distópica, questões importantes, principalmente no que diz respeito a como viver em sociedade. A produção foi um sucesso nacional e internacionalmente e estreou a segunda temporada na última sexta-feira, na plataforma de streaming da Apple.
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Conduzida pelo showrunner Graham Yost, conhecido pelo grandioso trabalho na minissérie da HBO Irmãos de guerra, Silo adapta uma trilogia de livros de Hugh Howey. Segundo a produção da série, a história contada pelas duas primeiras temporadas é baseada majoritariamente na primeira das três obras, conhecida no Brasil pelo título Silo: Mentiras podem ser fatais: a verdade também. "Temos a esperança que os fãs dos livros entendam que é diferente, como em uma versão jazzística da história. É a mesma música só que tocada de forma diferente", conta Yost, em coletiva de imprensa da Apple em que o Correio teve a oportunidade de conversar com elenco e equipe.
A nova temporada narra as consequências imediatas do final da antecessora. Juliette, protagonista vivida por Rebecca Ferguson, está fora do Silo, agora conhecido como 18, e se aventura em um novo bunker, numerado como 17, que não tem mais uma sociedade após uma rebelião. Lá, ela encontra Solo, vivido por Steve Zahn, um personagem que está preso há décadas no cofre e tem respostas para perguntas que não poderiam ser feitas na antiga casa da personagem principal. Enquanto isso, no 18, quem ficou busca entender o motivo de Juliette ter permanecido viva, e uma revolução começa a tomar forma em uma sociedade em ebulição.
Um dos poucos estreantes do novo ano, Steve Zahn faz uma análise sucinta das duas linhas narrativas que a série apresenta no novo ano. "Nessa temporada, as coisas estão começando a ferver no Silo principal. É a hora que os personagens entendem que precisam questionar o motivo de viverem como vivem e buscar respostas", explica o ator. Zahn também fez questão de apresentar o próprio personagem. "Enquanto isso, o público conhece Solo, que representa algo completamente diferente. Ele revela que o mundo é maior do que todos imaginam", antecipa.
O momento do seriado agora é de dar início ao embate principal dentro do silo que trata a curiosidade como problema. "É sobre acreditar em si mesmo, porque é muito fácil acreditar em uma história que nos foi dada. A religião faz isso com a gente. A primeira temporada aponta: isso é errado, isso é certo, e esse é o jeito de viver a sua vida'. Está na hora de perguntar: 'Isso é errado? Isso é certo? Esse é o jeito de eu viver minha vida?'", analisa Clare Perkins, responsável por dar vida a Carla, personagem que tem pouquíssimo tempo de tela na primeira temporada, mas que ganha importância na segunda.
Ordem e revolução
Desde o primeiro capítulo, apresentado esta semana, a série tem dois temas principais no núcleo do Silo 18: ordem e revolução. Assim como qualquer pirâmide social, quem está em cima no bunker subterrâneo é privilegiado, e quem está embaixo trabalha para tudo funcionar. Enquanto as pessoas do topo discutem relíquias do mundo pré-silo, as de baixo se preocupam em como manter o gerador funcionando para que haja vida nos mais de 140 andares ligados por escadas.
Bernard Holland e Robert Sims, interpretados, respectivamente, pelos vencedores do Oscar Tim Robbins e Common, representam a parte alta da casta. Enquanto Bernard precisa manter as 10 mil pessoas que vivem no silo vivas, e a estrutura operante, Sims é fiel a todo o sistema que foi criado. Ambos têm em comum o fato de que fariam tudo pelo silo. Na outra ponta estão personagens como Shirley e Knox, vividos por Remmie Milner e Shane McRae, que dão a vida pelo silo de forma física. Porém, estão cansados de viver sem respostas para as perguntas básicas da vida. Afinal de contas, não é claro o motivo de estarem ali, nem por que fazem o que fazem.
"Uma das lições que a gente aprende com Silo é que tanto a ordem quanto a revolução têm consequências. Não é necessariamente um ou outro", acredita Shane McRae. "Os personagens estão em um meio em que se vive a ordem, acredita na revolução e, ao mesmo tempo, é humano e, às vezes, não sabe exatamente o que fazer", acrescenta o artista.
No entanto, as concepções pessoais de ordem e revolução pessoais dos atores convergem fora das telas. "Eu entendo ordem da melhor forma, da forma mais divina. Para mim, há paz na ordem, mas essa paz não significa que não haja estresse ou problemas. Ordem é uma paz que vem de um método universal de lidar com os desafios, o caos e os desentendimentos", explana Common, que enxerga a revolução de dentro para fora. "É uma mudança que ocorre e você precisa decidir quem você é e quais são seus propósitos. Parar de buscar qualquer coisa e se entregar com todo o coração. A revolução se espalha porque a pessoa se torna um exemplo para os outros quando atinge o auge", pontua o ator, que também é rapper.
Distópico e real
A série é um sucesso porque esses temas levantados têm um caráter que dialoga muito com a realidade. "Os paralelos da série com o mundo em que vivemos são muito relevantes", diz Remmie Milner que entende os paradoxos como fragmentos de realidade. "É uma série que fala de individualismo e, ao mesmo tempo, sobre saber que faz parte de uma comunidade. Pessoas tendo voz e se sentindo presas em uma ordem que pode se tornar uma ditadura", reflete.
Dessa forma, há uma mensagem relevante mascarada dentro de metáforas. "Há algo confortável de entender o mundo por meio das alegorias. O ser humano faz isso há séculos, e funciona para a nossa mente compreender", explica Harriet Walter, responsável por interpretar Walker, uma das personagens-chave para o desenrolar da segunda temporada. "Silo apresenta analogias muito claras, que temos certeza que todo o público consegue ver. É uma versão simples do nosso mundo, que é mais complexo e desordenado", diz Harriet.
A artista vê que a série dá ao público uma demanda urgente. "O que todos queremos é simplificar o mundo como ele é. Não é como se quiséssemos ser redutivos, mas querendo ver o essencial. O que está realmente acontecendo, quem verdadeiramente tem o poder, como conseguiram isso e o que querem. Isso que a gente quer saber.
Contudo, a mensagem que a série deixa é o que o público realmente precisa em tempos tão tensos. "Nós somos levados a brigar uns com os outros, porque enquanto fazemos isso não identificamos o verdadeiro inimigo", afirma Tim Robbins. "Eu sinto que agressão, guerra e violência são um ciclo. Se você é dominante agora, pode ser que depois outras pessoas se tornem dominantes. Sempre vai existir vingança, não importa se vai demorar 5 ou 50 anos, sempre terá uma retaliação para um ato violento", adiciona Harriet Walter.
Para os dois atores, existe uma forma de agir em comunidade. "Não sei como parar esse ciclo, mas a única esperança é acabar com ele. Precisamos baixar as armas e trabalhar em algo conjunto. Parece loucura, mas não é mais estúpido do que o que estão fazendo", comenta Harriet. "A verdadeira revolução está em encontrar algo em comum com os outros, mesmo que sejamos ensinados a ser opositores", completa Tim.