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Câncer ginecológico: a prevenção e a informação podem salvar vidas

Os tumores que atingem o sistema reprodutor feminino são diversos. Entender os sintomas e os sinais, além de fazer exames rotineiros, é fundamental

pri-1508-eleitoradofeminino voto mulheres eleições -  (crédito: Caio Gomez)
pri-1508-eleitoradofeminino voto mulheres eleições - (crédito: Caio Gomez)

Existe uma série de tipos de câncer que podem afetar o sistema reprodutor feminino. Eles são chamados de cânceres ginecológicos e, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 30 mil mulheres são diagnosticadas com algum desses tumores anualmente no Brasil.

Um dos principais desafios no tratamento desse tipo de neoplasia, sobretudo as de colo de útero, é a ausência de sintomas, que dificultam o diagnóstico precoce, fundamental para o sucesso do tratamento.

De acordo dados do AC.Camargo Cancer Center, plataforma de atendimento a pacientes oncológicos, as taxas de sobrevida de mulheres com cânceres ginecológicos saltaram de 60,9%, em 2000, para 83,6%, em 2017, o que é possível graças ao aumento no número de mulheres que fazem exames preventivos.

“Abordar a prevenção é fundamental. É preciso fazer exames como o Papanicolau, especialmente porque alguns tipos de câncer, como o do colo do útero, podem ser evitados com o rastreamento adequado”, alerta Glauco Baiocchi Neto, líder do Centro de Referência em Tumores Ginecológicos do A.C.Camargo Cancer Center.

O médico ressalta a importância da vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) — associado a quase todos os casos de câncer de colo do útero, além de outros tipos de tumores, como anal (95% dos casos), orofaringe (73%), vagina (65%) e vulva (50%).

Andreza Souto, oncologista da Oncoclínicas Hospital Santa Lúcia, comenta sobre a importância de conhecer cada tipo de câncer e estar atenta aos sinais. “É fundamental para a prevenção e o diagnóstico precoce, o que aumenta significativamente as chances de tratamento e cura.”

Os tipos de cânceres ginecológicos mais comuns são colo de útero, endométrio, ovário e vulva, sendo o primeiro o mais prevalente, seguido do câncer de ovário.

Câncer de colo uterino

- Segundo Leandro Resende, oncologista da Oncoclínicas Hospital Santa Lúcia, são detectados mais de 17 mil novos casos por ano.

- A idade em que as mulheres estão propensas a esse tipo de neoplasia é entre 40 e 50 anos. São mais comuns em mulheres mais jovens, na fase da pré e da menopausa.

- A oncologista Andreza Souto ressalta que ele está diretamente relacionado à infecção pelo HPV e afirma que a vacinação contra o vírus é uma importante forma de prevenção.

- Assim como o preventivo, também chamado de Papanicolau, exame que pode ser feito anualmente. Ele consiste na coleta de células do colo do útero para análise. “Além disso, é fundamental que a paciente mantenha consultas regulares e seja examinada por um ginecologista com experiência em tratamento de tumores ginecológicos”, comenta Leandro.

- A maioria dos casos de câncer de colo uterino é diagnosticada na fase avançada, quando o tratamento precisa ser feito com quimio e radioterapia. Quando a doença ainda está no início, a cirurgia pode ser o tratamento mais adequado, e a taxa de sucesso depende do estágio em que o tumor foi descoberto e se existem metástases.

Câncer de endométrio e de ovário

- O primeiro deles afeta o revestimento interno do útero e o principal sintoma, normalmente, é o sangramento vaginal anormal, especialmente após a menopausa.

- Já os tumores ovarianos costumam ser mais silenciosos, e tendem a ser diagnosticados em estágios mais avançados. “Sintomas como inchaço abdominal e dor pélvica persistente não devem ser ignorados”, alerta Andreza.

- No câncer de ovário, entre os fatores de risco estão mutações genéticas, a nuliparidade (não ter filhos), endometriose, obesidade e idade, assim como o tabagismo e doenças como a síndrome do ovário policístico.

- No câncer de endométrio, temos como fator de risco a terapia de reposição hormonal, nuliparidade, obesidade, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, ovário policístico e síndromes genéticas, como a de Lynch.

- São mais comuns em mulheres mais velhas, no período após a menopausa. e não existem exames de rastreio populacional. As alterações podem ser vistas por meio de ultrassom transvaginal.

Câncer de vagina e vulva

- São mais raros e afetam poucas mulheres, em sua maioria as mais velhas, assim como os outros tumores ginecológicos.

- O câncer de vagina costuma se apresentar por meio de sangramento ou corrimento anormal. A prevenção e o tratamento se assemelham aos casos de câncer de útero ou ovário.

- O câncer de vulva afeta a parte externa do sistema reprodutor feminino. Pode se apresentar como lesões, coceira ou dor na região vulvar. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento.

Palavra do especialista

Que fatores podem contribuir para a cura e a manutenção da qualidade de vida?

A depender do estágio, a taxa de cura pode ser alta, acima de 90%, se descoberto em estágios iniciais. Daí a importância do diagnóstico precoce. Fatores que podem contribuir para a cura e a manutenção da qualidade de vida são os tratamentos, que envolvem, além da cirurgia para remoção do tumor, radio e quimioterapia, imunoterapia com antiangiogênicos e drogas alvo, como inibidores da Parp, uma enzima presente em todas as células do organismo, no câncer de ovário, e hábitos de vida saudáveis, como alimentação balanceada e prática de atividades físicas.

Quem são as mais afetadas pelos tumores ginecológicos?

Em geral, acometem mais mulheres acima de 60 anos, mas pode atingir mulheres mais jovens, principalmente o de colo de útero e o de ovário. E esse é um dos motivos pelos quais é tão importante ressaltar a pesquisa de HPV por captura híbrida e enfatizar a vacina contra o HPV disponibilizada no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos e homens e mulheres de 9 a 45 anos portadores de HIV, oncológicos, transplantados e vítimas de violência sexual.

É observado um aumento nesses tipos de tumor?

Sim. E estamos observando atualmente um crescimento específico na incidência do câncer de endométrio.

Mirian Cristina é oncologista clínica da Oncoclínicas Brasília








postado em 03/11/2024 00:01 / atualizado em 09/12/2024 15:23
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