São inúmeros os benefícios demonstrados do café sobre o cérebro. Temos uma ressalva quando se pensa nas gestantes e a recomendação atual é que elas evitem seu consumo por potencias efeitos negativos no desenvolvimento cerebral do embrião. Essa diretriz ainda é válida, mesmo após o estudo recém-publicado pelo periódico Psychological Medicine, envolvendo milhares de famílias norueguesas, sugerindo que o café no período gestacional não interfere de forma significativa no desenvolvimento cerebral do feto. A pesquisa se soma a outras que apontaram ausência de interferência negativa no cérebro e também a outras que evidenciaram o contrário. A heterogeneidade dos resultados faz com tenhamos que aguardar por novos estudos.
Além das gestantes, pacientes com osteoporose representam outra população que deve ser cautelosa no consumo do café, pois o excesso de cafeína pode promover a perda de cálcio nos ossos. Na população geral, devemos encarar o café como bebida segura e com inúmeros benefícios à saúde. Uma pesquisa encomendada pela Associacão Brasileira das Indústrias do Café (ABIC) revelou que 94% dos indivíduos maiores de 15 anos bebem café e 95% desses o consomem diariamente. Entre aqueles que não tomam café, a principal razão apontada é a de que ele pode fazer mal à saúde.
Uma revisão publicada pelo British Medical Journal reforça aquilo que já tínhamos boas evidências: 3 a 4 doses de café por dia fazem bem à nossa saúde. Pesquisadores do Reino Unido reuniram os resultados de mais de 200 estudos sobre os efeitos do café sobre nossa saúde e concluíram que podemos tomar café, com moderação, sem medo. Os resultados mostraram que o café promove maior longevidade e menor incidência de inúmeras doenças que elenco a seguir:
— doenças cardiovasculares
— alguns tipos de câncer, como o de próstata, endométrio, fígado e pele
— diabetes, cálculos biliares e gota– depressão, Doenças de Alzheimer e Parkinson
Mas como o café pode ajudar a prevenir doenças neuropsiquiátricas? A grande responsável por esse efeito é a cafeína mesmo. A cafeína se liga a receptores do cérebro chamados de adenosina que promovem uma inibição da atividade cerebral. A cafeína tem uma ação inibitória nesses receptores fazendo uma inibição de um sistema que é inibitório. Por isso o efeito final é estimulante. Quando reduzimos o efeito do freio de mão, o carro anda mais. Esta é a cafeína.
Modelos animais da Doença de Parkinson apontam que a inibição do receptor adenosina pela cafeína reduz a perda de células dos sistemas comumente envolvidos na doença. No caso do da Doença de Alzheimer, estudos demonstram que o consumo de café ao longo da vida pode reduzir o risco da doença. Pesquisas em animais revelam que a cafeína tem o poder de reduzir as alterações patológicas encontradas no cérebro de quem sofre dessa doença. Entretanto, o consumo exagerado da bebida pode trazer efeitos danosos ao cérebro. Uma pesquisa, envolvendo quase 18 mil voluntários, nos mostra que o consumo de mais de seis doses por dia está associado a uma redução do volume cerebral e ao aumento do risco de demência.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília