Fitness e Nutrição

Saborosa e sem açúcar: conheça a confeitaria baby friendly

Os doces e bolos feitos especialmente para bebês tem receitas livres de qualquer ingrediente não recomendado para os menores de 2 anos de idade

São muitos os pais e mães que escutam de parentes e amigos: "só um docinho não vai fazer mal" ou "nossa, coitadinha da criança, não pode comer nem um pedaço de bolo no aniversário?". E, embora seja difícil lidar com julgamentos e palpites, é importante se manter firme quando se trata da saúde dos filhos. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos dois primeiros anos de vida, as crianças não devem consumir nenhum tipo de açúcar, — e isso, além de branco, cristal e refinado, inclui mascavo, demerara, açúcar de coco, xarope de milho, mel, melado ou rapadura. E a mesma recomendação vale para qualquer receita ou preparação que leve o ingrediente, como bolos, biscoitos, geleias e doces em geral. 

A nutricionista materno-infantil Flávia Cristina de Souza Oliveira explica que o açúcar tem propriedades viciantes e é um estimulante. Se durante a formação do organismo e do paladar, a criança faz esse consumo, o organismo aprende que aquele é um bom alimento e vai se habituar, querendo sempre mais. 

"Você mostra também para o paladar que o açúcar deve fazer parte daquela alimentação e afeta a percepção de sabor. Se a criança consome doces, por exemplo, as frutas não vão ter o mesmo sabor adocicado que têm para um bebê que nunca comeu açúcar", acrescenta. 

Flávia comenta que existem diversos estudos mostrando que se crianças mantêm bons hábitos alimentares até os 24 meses, provavelmente esses vão perdurar por toda a vida adulta. É durante esse momento de formação acelerada e crescimento que o corpo aprende e entende como funcionar, e é essencial que isso aconteça da maneira mais saudável possível. 

O mel, mesmo sendo um alimento natural, também não é recomendado. Além da questão do paladar, a nutricionista explica que o intestino dos bebês não tem maturidade para matar os esporos do Clostridium botulinum, bactéria que causa o botulismo, que pode matar crianças pequenas.

No Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, uma publicação do Ministério da Saúde, é ressaltado que o consumo de açúcar está relacionado ao desenvolvimento de diversas doenças na vida adulta, e é um hábito que, na maioria das vezes, se inicia na infância. 

Inês Rugani, professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (INU/UERJ), afirma, com preocupação, que crianças ainda pequenas já estão apresentando doenças crônicas que eram típicas de adultos.

Os alimentos ricos em açúcar, seja por adição, seja o presente nos ultraprocessados, também têm composição nutricional desbalanceada e um maior teor energético, o que caracteriza um padrão alimentar de baixa qualidade nutricional, que pode levar ao ganho de peso excessivo e ao surgimento de placa bacteriana e cárie nos dentes, além de outras doenças associadas. 

A doce alternativa 

Mas isso significa que nem no aniversário de um ano a "pobre criança" — como gostam de dizer os palpiteiros — poderá experimentar um pedaço de bolo? E a resposta é não. Existem diversas receitas de bolos, brigadeiros e todo tipo de doce feito sem nenhum tipo açúcar ou qualquer outro adoçante, como xilitol ou stevia. 

Arquivo pessoal - Tássia e um dos seus bolos decorados e totalmente sem açúcar e industrializados

E foi daí que nasceu o mercado da confeitaria baby friendly, empresas especializadas em preparos feitos especialmente para os bebês em fase de introdução alimentar e crianças de qualquer idade, que podem aproveitar sabores adocicados sem prejuízos à saúde e ao paladar. 

No final de 2021, a nutricionista Tássia Nunes de Brito começou a fazer receitas sem açúcar e sem leite para o filho que, na época, estava na introdução alimentar e tinha alergia à proteína do leite de vaca. 

Usando receitas da internet — e com conhecimentos prévios de nutrição e já sendo vegetariana —, ela começou a adaptar diferentes preparos para o consumo da família. "Sentia muita dificuldade de encontrar coisas que pudesse comer na rua e vi que muitas mães passavam pela mesma situação. Então, em 2022 comecei a vender algumas coisas que já fazia em casa, e deu muito certo", conta. 

Ali começou a SIM Confeitaria Infantil (@sim.veganobabyfriendly). A possibilidade de oferecer produtos naturais e nutritivos tão bons ou até melhores que os convencionais, sabendo que podem ser consumidos por todas as pessoas, se tornou a maior motivação de Tássia. "É muito legal poder incluir bebês e crianças e torná-los agentes das comemorações, fazer com que eles se sintam vistos e respeitados, principalmente aqueles com restrições/escolhas alimentares", completa. 

Tássia acredita que mesmo sendo muito novinhos, no caso dos bebês, é importante que eles se sintam incluídos nas comemorações. "Afinal, qual o sentido de uma festa para ele se ele não puder comer o que oferecem por que tem açúcar e outras coisas inadequadas para a idade dele?!", questiona. 

Os bolos decorados e coloridos naturalmente são os mais procurados, afinal, se assemelham aos convencionais e enchem os olhos dos convidados — crianças e adultos. Outro ponto que Tássia ressalta é quando pessoas encomendam seus doces pensando em outros convidados, além do próprio filho. "É um grande sinal de carinho e atenção com os outros", completa. 

Depois de três anos trabalhando como confeiteira, Mariana Cassimiro Guedes Brandão, criadora da Merry Cakes (@merrycakes_bsb), sentiu a necessidade de inovar. Depois de transformar seus produtos em veganos e seguros para pessoas com alergia à proteína do leite e intolerância à lactose, ela se voltou para a confeitaria livre de açúcares.

Merry Cakes/Divulgação - Bolos sem açúcar e veganos da Merry Cakes

Há cerca de três anos, existiam poucas opções na área e foi da própria necessidade que ela investiu na área. Com dois filhos, um deles ainda bebê, era bacana ter opções para festas e comemorações que fossem saudáveis para os filhos. 

A maior parte dos pedidos que recebe são para festas de um ano — os famosos bolos para o "smash the cake", momento em que o bebê se lambuza todo e come se divertindo. As festas de 4 anos também são uma maioria — mesmo que já seja permitido, muitos pais optam por atrasar o máximo possível a oferta do açúcar. 

E mesmo com o foco na linha baby, diversos clientes adultos compram os doces sem açúcar para consumo próprio. "É bem legal, porque é uma área que, mesmo com foco nos bebês, atende todo mundo. Quem quer ficar mais fitness, quem não pode consumir açúcar por questões de saúde e até quem não gosta de doces muito melados", comenta. 

Ela acredita que é importante a confeitaria se tornar cada vez mais inclusiva e evitar momentos em que as crianças se sentem excluídas porque o coleguinha está comendo alguma coisa que ela não pode. 

"Hoje, fazemos muitas festinhas em escolas, de crianças de 4 ou 5 anos, em que não existe nada de açúcar, e isso é legal porque todas elas podem comer mais livres. Também temos muitos eventos em que há uma mesa pequena, na altura deles, só com alimentos liberados", conta.

 

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