Neurônios em dia

Os jogos são muito mais que um mero entretenimento

O jogo tem o apelo gigantesco da imprevisibilidade. É uma forma de lidarmos com o incerto. Aqui nasce a teoria da probabilidade

Um hino hindu ancestral comparava o jogo de dados a uma droga aditiva. Três mil anos depois, quando apareceu o primeiro cassino na Veneza Renascentista, a classe dominante quase colapsou por conta das dívidas no jogo. Hoje, o fascínio pelo jogo faz com que seu mercado movimente valores similares a todos os outros tipos de entretenimento somados.

Os jogos eletrônicos movimentam mais de duas vezes o faturamento da indústria de cinema, contando com cerca de metade da população mundial como jogadores. O jogo tem o apelo gigantesco da imprevisibilidade. É uma forma de lidarmos com o incerto. Aqui nasce a teoria da probabilidade.

Platão defendia as virtudes do jogo, pois era uma maneira de ensinar as crianças a seguirem regras e como adultos seguiriam as leis. Aristocratas na Idade Média eram encorajados a jogar como ferramenta de autoconhecimento. Jogos competitivos são vistos como oportunidades de desenvolver habilidades de cooperação com impactos positivos na liga social, já que nos força a pensar no outro, o que o outro quer e como fará para alcançar seu objetivo.

Vício na internet ainda não faz parte da classificação internacional de doenças mentais, mas vícios em jogos sim. Alguns têm convicção que suas apostas em bets são investimentos. Ainda não entendi esse argumento, mas sei que os jogos poderiam fazer parte da listinha de meios fáceis para transbordamento cerebral de dopamina e prazer: Drugs, Sex, Rock and Roll and Games. Como disse Dra. Kelly Clamcy, especialista no assunto e inspiração da coluna de hoje, “ou entendemos como os jogos influenciam nossas vidas ou são eles que irão jogar com a gente”.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

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