A hidrossalpinge é uma doença ginecológica caracterizada pela alteração e dilatação anatômica das tubas uterinas, também conhecidas como trompas de Falópio. Nessa condição, as tubas ficam obstruídas pelo acúmulo de líquido na região, resultado de processos infecciosos, cirurgias ginecológicas, endometriose, entre outras causas.
Embora muitas vezes seja assintomática, a hidrossalpinge pode evoluir rapidamente e comprometer seriamente a saúde íntima feminina, sendo o principal risco à infertilidade. Por sua natureza silenciosa, muitas mulheres só descobrem a doença ao tentarem engravidar, quando ela já pode ter progredido para um estágio mais avançado. Por isso, o diagnóstico precoce, realizado em consultas regulares ao ginecologista e por meio de exames preventivos, é fundamental.
Causas
A hidrossalpinge geralmente se origina de danos ou obstruções nas porções finais das tubas uterinas, resultando no acúmulo de líquido em seu interior. "Cirurgias pélvicas anteriores, infecções, endometriose ou outras fontes de inflamação são exemplos de situações que podem desencadear a doença", esclarece Bruno de Carvalho, ginecologista e professor do Ceub.
Como a condição frequentemente decorre de processos infecciosos, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) estão entre as principais causas. Clamídia, sífilis e gonorreia são algumas das ISTs mais comumente associadas à hidrossalpinge. Nesses casos, as bactérias responsáveis pelas infecções alcançam as trompas de Falópio, gerando inflamação e, consequentemente, o acúmulo de líquidos no local.
Sintomas
Embora muitos casos de hidrossalpinge não apresentem sintomas evidentes, algumas mulheres podem manifestar sinais variados, que indicam a presença de inflamação ou infecção. "Os sintomas incluem dor pélvica, que pode estar associada à febre, corrimento com cheiro, dor na relação sexual e menstruação acompanhada de odor", cita a ginecologista Patrícia Magier. Esses sinais podem ser um alerta, especialmente em casos avançados ou com complicações infecciosas.
Diagnóstico
Devido ao caráter silencioso da hidrossalpinge, o diagnóstico envolve diferentes métodos e é feito principalmente por meio de exames de imagem. "Podemos confirmá-la com uma ultrassonografia, em que vemos a dilatação e a presença de líquido nas trompas", explica Patrícia. Outro exame muito utilizado é a histerossalpingografia (HSG), um tipo de raio-x especializado que identifica bloqueios tubários e possíveis malformações no útero.
Efeitos e perigos
A principal complicação da hidrossalpinge é a infertilidade, já que as trompas de Falópio desempenham um papel crucial no transporte de óvulos fecundados para o útero. "Em casos extremos, ela pode chegar ao ponto de uma inflamação importante nas trompas, fazendo com que a mulher futuramente não possa ter filhos por conta de uma aderência à inflamação", alerta Patrícia.
Além disso, se não tratada, a condição, que é uma infecção localizada e setorizada, pode agravar problemas como infecções pélvicas e dor crônica. "Como qualquer quadro infeccioso, precisa ser diagnosticado, porque se não tratado pode ter consequências muito severas. Ela pode até evoluir para um quadro de sepse", afirma a ginecologista.
Segundo o professor Bruno de Carvalho, outro risco é o de gravidez ectópica, uma gestação que ocorre fora do útero, nesse caso dentro da própria tuba comprometida, e que representa sério perigo à saúde e à vida da mulher.
Tratamento
O tratamento adequado para a hidrossalpinge pode variar e deve ser escolhido pelo médico ginecologista de acordo com a causa e a gravidade da condição. "Se ela for de causa infecciosa, como por uma IST, o tratamento deve focar na eliminação dessa infecção. Já se a causa for por endometriose, a paciente pode controlar a doença, visto que ela não tem cura", orienta Patrícia. De forma geral, os tratamentos frequentemente envolvem o uso de antibióticos adequados para o agente infeccioso responsável pela hidrossalpinge.
Medicamentos para alívio dos sintomas e regulação do ciclo menstrual também podem ser indicados. Por fim, em muitos casos, o procedimento mais indicado é a realização de cirurgia para correção dos danos, desobstrução das tubas uterinas e eliminação do excesso de líquido localizado. Entretanto, como explica Bruno, em casos mais graves, pode ser necessária a remoção cirúrgica completa das trompas afetadas.
"Isso porque a função da tuba dilatada provavelmente já estará comprometida e, assim, esvaziá-la pode não resolver o problema por completo", detalha o professor. De acordo com ele, há casos em que se tenta uma abertura cirúrgica das trompas, conhecida como salpingostomia. "No entanto, há chances significativas de que a abertura se feche e a hidrossalpinge volte a se formar", finaliza. Por esses motivos, o acompanhamento médico é crucial para monitorar a evolução da condição e garantir o tratamento mais adequado a cada paciente
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Palavra do especialista
Existe uma forma de prevenir a hidrossalpinge? Como?
As formas de prevenção, basicamente, é o sexo seguro, então quando for ter relação sexual sempre usar preservativo. Também é essencial ir regularmente ao ginecologista e fazer seu exame preventivo pelo menos uma vez ao ano. Em caso de qualquer sintoma, como corrimento, mau cheiro, dor na relação sexual, dor pélvica ou muita dor na menstruação, é possível que você possa estar com uma doença infecciosa ou inflamatória na região pélvica, afetando as suas trompas. Sabemos que uma infecção na trompa pode comprometer a fertilidade, então é muito importante fazer a prevenção para evitar comprometimentos com a fertilidade no futuro.
Existe alguma possibilidade de gravidez espontânea para mulheres com essa condição?
Sim, é possível engravidar desde que as trompas de Falópio não estejam completamente obstruídas e o padrão inflamatório seja controlado. Não é uma condição que necessariamente leva à esterilidade, mas ela precisa de tratamento e controle. Com isso, cada paciente pode levar uma vida normal e pode engravidar normalmente.
Ginecologista Patrícia Magier.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte