Na hora de escolher um político que irá comandar os rumos da sua cidade, estado ou país, é bem razoável pensarmos que esta escolha privilegiará o candidato que revele mais sabedoria. O mesmo se dá em outras escolhas da vida, como um médico ou um psicoterapeuta, por exemplo. É comum termos a expectativa de que o(a) escolhido(a) seja uma pessoa sábia e não simplesmente sabida. As sabidas chamo aquelas que têm conhecimento técnico e experiência em determinado assunto. Mas uma pessoa sábia pode ir além.
Pesquisadores canadenses da Universidade de Waterloo conduziram um estudo recém-publicado pelo periódico Nature Communications para entender como as pessoas reconhecem que uma pessoa é sábia. Foram incluídos na pesquisa quase três mil indivíduos de 12 países e cinco continentes. Duas qualidades principais foram identificadas como indicadores de sabedoria. A primeira é a aplicação do conhecimento de forma lógica associado a controle emocional, e a segunda é a consideração e a percepção dos sentimentos dos outros. Esses resultados foram semelhantes nas diversas culturas estudadas.
Os resultados também mostraram, nas diferentes culturas, que o pensamento lógico foi mais forte que a percepção dos sentimentos dos outros ao eleger se uma pessoa é sábia ou não. Se uma pessoa não for sabida, como descrevi anteriormente, seu componente de empatia não é suficiente para que ela seja considerada sábia. O líder do grupo de pesquisadores, Igor Grossman, exemplifica esse fenômeno com o recente debate presidencial Trump-Biden em que Trump foi considerado vencedor. Apesar de Biden apresentar um melhor componente socioemocional, na articulação das ideias ele foi frágil.
Algumas sociedades priorizam valores individualistas, enquanto outras valores coletivistas. A atual pesquisa sugere que a forma de enxergar sabedoria no outro não é muito diferente entre elas. Ambas dão mais valor ao pensamento lógico do indivíduo do que na sua habilidade de relacionamento com os outros.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília