A síndrome dos ovários policísticos (SOP) se trata de uma condição comum que afeta cerca de uma em cada oito mulheres em idade fértil. Caracteriza-se por um desequilíbrio hormonal que leva a sintomas como crescimento excessivo de pelos, menstruação irregular, acne e dificuldade para engravidar. A doença também pode estar associada à resistência à insulina e ao desenvolvimento de cistos nos ovários. O diagnóstico precoce é importante para controlar os sintomas e reduzir o risco de complicações futuras.
Além de todos os problemas que essa síndrome pode causar em mulheres, ela também aumenta o risco de que as pacientes desenvolvam bulimia, transtorno da compulsão alimentar e alimentação desordenada, de acordo com uma nova pesquisa publicada no começo de agosto no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, um periódico de Oxford.
“Essa metanálise examinou resultados de 20 estudos transversais em nove países e incluíram dados de 28.992 mulheres com SOP e 258.619 mulheres que não tinham a condição. O trabalho foi o primeiro que conseguiu confirmar um risco aumentado de transtornos alimentares específicos em mulheres com SOP”, explica a endocrinologista Dra. Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
Transtornos alimentares ligados à SOP
A endocrinologista explica que as mulheres diagnosticadas têm pelo menos duas das três principais características da SOP, que incluem: aumento do número de folículos ovarianos contendo óvulos imaturos (chamados ovários policísticos) observados na ultrassonografia; níveis ligeiramente mais elevados de testosterona ou sintomas clínicos de testosterona elevada, como excesso de pelos no corpo; e períodos menstruais irregulares ou inexistentes.
“A explicação para essa relação entre a síndrome e transtornos alimentares é que muitas mulheres com SOP sofrem estigma de peso, e isso pode ser prejudicial à saúde mental em geral e contribuir para a alimentação desordenada, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar periódica”, diz a médica.
A endocrinologista explica que, na bulimia nervosa, a paciente ingere grandes quantidades de alimentos de forma rápida e repetitiva (episódios de compulsão alimentar) e, após isso, tenta compensar o excesso de alimentos consumidos praticando purgação, indução de vômito, jejum ou exercício excessivo. “Já no transtorno de compulsão alimentar periódica, os episódios de alimentação compulsiva não são seguidos por tentativas de compensar a ingestão excessiva de alimentos”, enfatiza.
Atenção aos conselhos sobre estilo de vida
Quando os pesquisadores analisaram as mulheres pelo índice de massa corporal (IMC), tanto aquelas que tinham peso normal quanto aquelas com peso mais alto tiveram pontuações mais altas de alimentação desordenada em comparação com mulheres sem SOP. “Isso sugere que a associação não depende do IMC. As descobertas enfatizam a importância de rastrear mulheres com SOP para transtornos alimentares antes que os médicos compartilhem qualquer conselho sobre estilo de vida”, comenta a médica.
Segundo ela, as modificações de estilo de vida que frequentemente são recomendadas para mulheres com SOP, como atividade física, dieta saudável e modificações de comportamento, “podem dificultar o processo de recuperação de transtornos alimentares. Os profissionais de saúde precisam estar vigilantes sobre a triagem de transtornos alimentares nessa população”, acrescenta.
A metanálise não encontrou uma associação entre a síndrome e o transtorno alimentar anorexia. No entanto, os autores alertaram que os estudos sobre anorexia e SOP são mais limitados e deve sempre haver uma alta suspeita de qualquer patologia alimentar desordenada em alguém que está sendo avaliado para a doença.
Formas de tratamento
A Dra. Deborah Beranger explica que, além da prescrição rotineira de contraceptivos orais (combinados), agentes antiandrogênicos, sensibilizadores de insulina e/ou indutores de ovulação, a terapia primária de primeira linha sempre consiste em intervenções no estilo de vida que incluem modificação dietética e atividade física para promover perda de peso de pelo menos de 5% a 10% em mulheres com SOP.
“Essas recomendações continuam a ser importantes, mas o profissional de saúde deverá estar atento aos sinais de transtornos alimentares e indicar, sempre que possível, um atendimento e acompanhamento de saúde mental para essas pacientes”, finaliza a endocrinologista.
Por Pedro Del Claro
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br