Uma caixa, um baú ou um armário. Muitas pessoas têm em casa o que se convencionou chamar de “farmacinha”, ou seja, um conjunto de medicamentos que podem ajudar nas mais diversas moléstias do dia a dia, de dores de cabeça a problemas gastrointestinais.
Embora os especialistas não recomendem a automedicação, uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), divulgada em 2024, revelou que nove em cada dez brasileiros têm esse hábito. Mas o que fazer quando a validade dos medicamentos mantidos na farmacinha expira? Ainda é possível consumi-los? E, se não, onde descartá-los corretamente?
O consumo de remédios vencidos pode representar riscos significativos à saúde e deve ser evitado a todo custo, ressalta Ligia Burci, professora do curso de Farmácia da Universidade Positivo. “A eficácia dos medicamentos diminui com o passar do tempo, então, ao consumir um medicamento vencido, ele pode não fazer efeito nenhum, o que é especialmente preocupante para tratamentos contínuos, como os de hipertensão e diabetes, ou para o uso de antibióticos”, pontua.
Perigo do remédio vencido
O risco de ingerir um medicamento sem eficácia, além de não ajudar a curar os sintomas, também está na contribuição para o surgimento de patógenos mais resistentes à medicação, como as superbactérias. Um relatório publicado na revista The Lancet Regional Health, em 2023, mostrou que, só em 2019, 1,27 milhão de mortes ao redor do mundo foram causadas por resistência antimicrobiana (RAM).
E os efeitos do remédio vencido também podem ser prejudiciais para o paciente em questão, com efeitos variáveis. “Em alguns casos, o fármaco apenas não faz efeito. Já em outros, ele pode provocar problemas como alergias, intoxicação, náuseas, vômitos, lesões gástricas e até choque anafilático, em casos raros. Se o medicamento for tópico, como uma pomada, os efeitos podem incluir vermelhidão e manchas na pele”, alerta Ligia Burci.
Definição da validade dos remédios
A data de validade dos medicamentos é simplesmente a data-limite para que eles mantenham suas características de segurança e eficácia. Ela é estabelecida pelos fabricantes após uma série de estudos de estabilidade, que simulam as condições de armazenamento, temperatura e umidade de cada região em que esses medicamentos serão distribuídos.
“No Brasil, por exemplo, os testes são feitos em uma temperatura média de 30 °C e 75% de umidade relativa. Esses estudos garantem que o medicamento será eficaz dentro do prazo estipulado, desde que armazenado corretamente”, explica a professora.
O que fazer ao ingerir um remédio vencido?
O costume de guardar vários medicamentos juntos pode ser arriscado, visto que, muitas vezes, as embalagens originais dos produtos são descartadas. Assim, pode acontecer de uma pessoa ingerir um remédio vencido e só se dar conta depois.
“Ao perceber que ingeriu um remédio vencido, é importante ficar atento a qualquer sintoma. Caso surja algo diferente no corpo, é fundamental procurar um pronto-socorro e levar a embalagem do medicamento para que o profissional de saúde possa tomar as providências adequadas”, orienta a profissional.
Descarte de medicamentos vencidos
É importante saber como fazer o descarte correto de medicamentos cuja validade expirou. Além dos riscos à saúde, o descarte inadequado de medicamentos vencidos pode causar sérios danos ao meio ambiente.
“Medicamentos não devem ser jogados em pias, vasos sanitários ou no lixo comum. Eles precisam ser levados a uma unidade de saúde ou farmácia, onde serão descartados como resíduo químico. As embalagens secundárias, como bulas e caixas, podem ser descartadas no lixo reciclável comum”, conclui a professora.
Por Enzo Feliciano
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