Especial

Um bem precioso: Cerrado é inspiração para trabalhos artísticos

Além de fornecer água para diversas regiões do Brasil, muitas das riquezas do Cerrado ainda são desconhecidas. Na arte, na gastronomia e em atividades criativas, seu papel também é fundamental

 18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais.  -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais. - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

O céu azul de Brasília deu lugar ao cinza esfumaçado. Monumentos da capital, que tanto embelezam a rotina dos brasilienses, estão escondidos entre as fuligens oriundas das queimadas. Mais do que a preocupação com tudo aquilo que se pode ver, ainda existe outro bem maior sendo completamente devastado. O Cerrado, componente primordial dessa receita que transforma o Brasil no que ele é, continua queimando diariamente diante daqueles que vivem tanto perto quanto distantes do bioma. 

Numa visão mais ampla de seu papel, o Cerrado fornece água às diversas regiões do Brasil por abrigar as nascentes de importantes rios do país, como São Francisco, Araguaia, Tocantins, Paraguai, Parnaíba, entre outros (conhecido como caixa d'água do país). De acordo com o professor de geografia da Blue Global School Anderson Sousa da Silva, essa característica também faz do bioma um regulador térmico essencial. Biologicamente falando, é o reduto de uma enorme diversidade de animais e plantas, grande parte delas endêmicas, ou seja, que só existem no bioma em si.

Em Brasília, são as áreas de Cerrado nativo, como a Floresta Nacional de Brasília e o Parque Nacional de Brasília que abrigam toda essa biodiversidade biológica e boa parte das nascentes da região.
"A importância do combate às queimadas vem principalmente da necessidade de proteção da biodiversidade e das nascentes, uma vez que são elas as responsáveis pelo abastecimento de Brasília e do Entorno. Além disso, é inegável que as queimadas representam uma redução substancial na qualidade do ar, afetando diretamente a saúde da população", destaca o professor

Vale  destacar, também, que o Cerrado está classificado como um Hotspot, área de grande biodiversidade com grande degradação por ação antrópica. Diante do cenário catastrófico enfrentado nos últimos dias, a necessidade de agir em prol da reversão dessa situação torna-se uma realidade de caráter urgente. Na visão de Anderson, esse é o momento de aumentar a fiscalização contra queimadas em pastagens e áreas nativas, além de investir em políticas de educação e conscientização. 

De fato, o Cerrado cumpre um papel importante para toda a sociedade. Além de abranger uma área de mais de 2 milhões de km², é responsável por prover grande parte da água doce para todo o país. No entanto, muitas das suas riquezas e belezas ainda são desconhecidas. Dentro desse espaço pouco explorado, existe a capacidade de encantar e presentear o mundo com trabalhos criativos, artísticos e gastronômicos. Mais do que um lugar para se viver, uma inspiração que conecta vidas e corações apaixonados pela natureza.

Amor de infância

Desde muito novo, o artista Jeff Duprado, 43 anos, nutre conexões especiais com a natureza, já que cresceu no interior de Goiás. Quando começou a viajar entre Brasília e a cidade onde morava, percebeu que as paisagens naturais, sobretudo o Cerrado, continham uma paleta de cores única. As tonalidades, para quem nasceu no coração da arte, cativaram-lhe imediatamente. 

"Minha pesquisa sobre pigmentos naturais evoluiu a partir dessa relação com o ambiente, e vi na riqueza natural de Brasília e suas proximidades uma fonte infinita de inspiração. Ao observar a natureza ao meu redor, desde as plantas até o solo, me questionei sobre como poderia incorporar esses elementos em minha arte, tanto na produção de tintas quanto na criação de quadros", explica Jeff. 

Os estudos, de acordo com o artista, começaram de forma espontânea, em caminhadas pelo Cerrado, onde observava tudo ao seu redor com carinho e atenção. "Hoje, esse processo se tornou mais metódico e científico. Encontro os materiais nas paisagens naturais que percorro, especialmente em áreas rurais e no Cerrado", destaca. Coletar folhas, cascas de árvores, raízes, frutos, argilas, solos e pedras é o trabalho primoroso de Jeff.

Cada material encontrado pelo artista carrega uma possibilidade de cor e textura que pode ser transformada em pigmento. Depois de reuni-los, Jeff os leva para o seu ateliê, lugar onde inicia o processo de transformação. Lá, os materiais são tratados de forma a extrair suas cores naturais. "É um trabalho que envolve diferentes passos, como a utilização de reagentes, maceração ou fermentação. Por exemplo, eu aplico calor, controlo a qualidade da água e o tempo de exposição para que as cores emergentes sejam as mais puras possíveis", completa. 

Ciência, cores e arte

Dependendo do estado do material, a cor pode variar, explica o artista. Entretanto, o objetivo é sempre transformar as matérias-primas orgânicas em pigmentos que ele utiliza na produção das tintas para suas próprias obras. Há muitos anos, Jeff incorporou essa investigação em sua rotina. Sempre que sai com a família para viajar ou passear, leva ferramentas e fica atento aos lugares, buscando materiais tintoriais para enriquecer sua coleção e realizar novas experiências. 

Por muito tempo, essa busca foi quase intuitiva, voltada especialmente para minerais, solos, terras e rochas. "Talvez por desconhecimento, acreditava que as cores se originavam principalmente desses elementos. Nessa fase, coletei inúmeros tons terrosos, ocres e variações discretas. Contudo, à medida que minhas obras evoluíam, senti a necessidade de cores mais vibrantes: amarelos intensos, azuis profundos, vermelhos ardentes. Foi então que o universo das plantas se revelou para mim."

Ao descobrir as lacas e as plantas tintorias, um mundo de possibilidades se abriu para o artista. Os pigmentos derivados das lacas começaram a nascer em cada obra, transformando cada nova descoberta em parte da expressão artística de Jeff. "A natureza, sempre generosa, oferecia um novo repertório de cores e sensações para minhas criações. A criação de pigmentos a partir de materiais orgânicos pode ser um processo tanto científico quanto empírico. Cada planta contém uma essência química que produz cores únicas", acrescenta. 

Tantas pesquisas, paixões e realizações até aqui. Quadros que estampam as ruas de Brasília e a beleza única que a cidade proporciona. Feitos, sobretudo, da terra e das plantas que compõem o bioma apaixonante da capital do país. "O Cerrado é a paisagem que moldou minha visão artística. Suas cores, texturas e diversidade biológica são fascinantes. Ao utilizar materiais do Cerrado, sinto que estou não só conectando minha arte à natureza, mas também homenageando essa rica biodiversidade que muitas vezes é subestimada", afirma.

  • O artista produz  tintas naturais com elementos do Cerrado
    O artista produz tintas naturais com elementos do Cerrado Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  Desde muito novo, Jeff tem uma conexão especial com a natureza
    Desde muito novo, Jeff tem uma conexão especial com a natureza Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  As cores naturais dão um  toque diferente à arte de Jeff
    As cores naturais dão um toque diferente à arte de Jeff Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais.
    18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais. Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  O Cerrado é parte primordial  do trabalho de Jeff
    O Cerrado é parte primordial do trabalho de Jeff Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais.
    18/09/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Revista do Correio. A importância do Cerrado para diversos segmentos, como moda, arte e outras áreas. Jeff Duprado é artista e extrai do solo, de plantas e da terra matéria-prima para produzir tintas naturais. Kayo Magalhães/CB/D.A Press

Origem de tudo

A partir de um profundo interesse pelo mundo da criação, Maibe Maroccolo, 41 anos, começou sua jornada artística na moda. No início, a relação entre produção e sustentabilidade eram os pilares para sua exploração nesse universo, até então, bem desconhecido. “Foi nesse contexto que fiz meu mestrado em desenvolvimento sustentável na indústria da moda pela University of Arts London, buscando compreender não só a estética, mas também o impacto ambiental e social das minhas criações”, ressalta. 

Maibe queria ir além dos tecidos e das roupas. Sua curiosidade estava nas origens de cada material e como esses elementos influenciam o ciclo produtivo. Desse modo, passou a investigar as cores naturais e como elas surgiam. Ao longo dos anos, de forma inevitável, a paixão pela natureza e o trabalho artístico tornaram-se uma coisa só. Atualmente, está cursando o segundo mestrado em design e sustentabilidade na Universidade de Brasília (UnB), lugar onde aprofunda ainda mais essa conexão. 

“O estudo sobre a flora tintorial brasileira se tornou o eixo central da minha carreira. Mergulhei de cabeça na investigação das plantas e de suas propriedades tintoriais. Foi aí que minha trajetória artística deu uma guinada, integrando arte, ciência e sustentabilidade”, relata. Quando Maibe descobriu que a natureza ofertava uma série de cores inesgotáveis, percebeu que essa era a conexão que faltava em seu trabalho. Desde então, sua arte tem sido um reflexo dessa busca por harmonizar o natural com o criativo. 

Diante dessa quantidade de elementos que lhe foram apresentados, faltava aquele toque final para deixar o lado artístico ainda mais especial. Esse, no entanto, era diferente do resto. Afinal, era algo que sempre esteve bem perto de Maibe. “O Cerrado tem uma presença forte no meu trabalho, tanto pela proximidade geográfica quanto pela diversidade de espécies tintoriais que abriga. Minha pesquisa me levou a explorar as plantas nativas desse bioma, buscando entender suas propriedades tintoriais e como elas podem ser aplicadas na criação artística.”

O Cerrado, com suas cores únicas e texturas tão diversas, é um verdadeiro laboratório a céu aberto, segundo a artista. Dessa forma, incorpora as cores do bioma em tudo o que faz, seja nas oficinas em que dá aula, seja nas próprias criações artísticas, destacando a importância da preservação de um bem que tem sido tão ameaçado. Sem dúvidas, uma das grandes fontes de inspiração de Maibe. Aliás, fez nascer desse amor um projeto para lá de especial. 

O livro A natureza das cores brasileiras é um desejo profundo de compartilhar o conhecimento que a artista adquiriu ao longo de mais de uma década de pesquisa sobre a flora tintorial do Brasil. Nele, é possível encontrar não somente a paixão de Maibe em relação ao Cerrado, bem como sua ligação com tudo o que envolve a natureza no Brasil. “É uma forma de conectar as pessoas com a natureza através da arte e, ao mesmo tempo, de despertar uma nova consciência sobre a importância de preservarmos nossos biomas e seus recursos naturais”, completa.

  • Maibe se apaixonou pela natureza ainda quando pequena
    Maibe se apaixonou pela natureza ainda quando pequena Fotos: Thamires Gomes
  • O livro
    O livro "A Natureza das Cores Brasileiras" é fruto da paixão de Maibe com os biomas Thamires Gomes
  • O jatobá é um dos frutos do Cerrado presente na obra de Maibe
    O jatobá é um dos frutos do Cerrado presente na obra de Maibe Thamires Gomes

Moda sustentável

Criatividade, tecidos e tintas. Esses três elementos, juntos, fazem parte do trabalho da artista Raquel Bogéa, 46. Apesar do belíssimo trabalho realizado nos últimos anos, a paixão pelo universo fashion aconteceu de forma tardia. Em 2016, tornou-se coordenadora do Ateliê Rural, uma escola de corte e costura gratuita no Lago Oeste. O trabalho, ao menos nesse começo, era apenas burocrático, e as demandas voltavam-se para o acompanhamento das aulas, a contratação de professor e a compra de materiais diversos. 

Mas, na medida em que o tempo foi passando, os laços de Raquel com a moda mudaram totalmente. Prontamente, começou a estudar e se interessar cada vez mais pelo meio. Na internet, descobriu do outro lado do planeta algo que mudaria sua vida para sempre: tingimento natural. “A India Flynt, uma mulher australiana, mostrou esse processo ao mundo e ensinou outras mulheres. Assim, a técnica acabou se propagando”, conta. 

Entretanto, era necessário se adaptar à realidade do Brasil. No exterior, os tecidos eram tingidos na lã. No Brasil, seria mais interessante se o trabalho fosse realizado em roupas com o algodão como matéria-prima, já que o clima quente impossibilita a execução correta do tingimento. Pesquisas, experimentação e muitas possibilidades. Raquel se jogou na moda sustentável e nas variedades de cores que surgem a partir de um contato mais próximo com a natureza. 

“No meu caso, quando vejo uma planta, uma folha ou uma flor, que atrai o meu olhar pelo seu formato ou pela sua cor, realizo a poda, nunca a destruição. Levo para o meu ateliê e faço o teste por meio das técnicas do tingimento natural — são várias. Consigo extrair tinta natural por meio da emulsão na água ou no vapor, porque nem toda planta solta tinta e, quando dá certo, já catálogo no meu caderninho de pesquisa”, revela a artista. 

Paixão inexplicável

O Cerrado é o habitat preferido de Raquel. O bioma em que ela vive, respira e se inspira. Na hora de confeccionar os looks e tirar um tempo para a criatividade, é impossível não pensar nas características que fazem parte dessa belíssima vegetação. “Sempre dou uma atenção especial ao que nos caracteriza como cerrado. O Pequi, por exemplo, tem uma folha com um formato lindo e diferente. Além disso, é uma planta maravilhosa para soltar tinta natural — a sua revelação no tecido fica incrível”, comenta. 

Em tempos de urgência por consciência ambiental e ações positivas para o meio ambiente e para o mundo, Raquel acredita que o tingimento natural precisa seguir pilares fundamentais para garantir a sustentabilidade. O primeiro deles vem do social, por meio do trabalho justo e a promoção de oportunidades para todos, uma vez que os recursos são naturais, sempre optando pela poda do material orgânico — nunca o desmatamento.

O segundo é o ambiental, para promover e prosperar junto com a natureza, e não às suas custas." Quem tinge, planta, replanta e cultiva." O terceiro, o econômico, por meio de boas condutas que avaliam as práticas da empresa — sem que as questões ambientais estejam em segundo plano. "É preciso ter consciência dos recursos naturais para mim e para toda humanidade. É possível pensar global e agir local”, acrescenta.

Recentemente, a artista lançou peças exclusivas para a nova coleção da marca brasiliense Virgínia Barros. Entre as criações que foram apresentadas estão lenço, roupa e tênis, confeccionados com tecido com tingimento natural produzido pela Bosque, espaço de trabalho da artista. "Cada peça é única, pois é feita artesanalmente”, finaliza Raquel Bogéa. 

  • Raquel usa técnicas de tingimento natural em tecidos
    Raquel usa técnicas de tingimento natural em tecidos Arquivo pessoal
  • Raquel se jogou na moda sustentável e nas variedades de cores oriundas do Cerrado
    Raquel se jogou na moda sustentável e nas variedades de cores oriundas do Cerrado Arquivo pessoal

Mais que acessórios

Ser artesã sempre foi o grande propósito de Adriane Adratt, 53. Entre os trabalhos manuais, produzir bijuterias está no lugar mais alto de seu coração. Contudo, descobriu no universo das biojoias uma nova forma de expressar sua arte e afeto pela natureza. Começou a mesclar, primeiro, algumas sementes nas peças que confeccionava para uso próprio. Depois de gostar tanto do resultado, decidiu mergulhar cada vez mais nos estudos e experimentar materiais alternativos, como cascas e folhas. 

“Como resultado, mudei meu foco de criação para a busca da sustentabilidade nas peças, ou seja, as biojoias”, conta. O Cerrado, claro, é a grande referência dos trabalhos da artesã. O processo de criação feito por Adriane não cumpre nenhum passo a passo específico. Muito pelo contrário, ela se deixa levar pelas inspirações que tem e pelos materiais que esbarra nas pesquisas realizadas na rua. 

A chave de tudo está nos elementos que Adriane encontra, sendo essencial que eles sejam passíveis de higienização e desidratação, já que são processos primordiais para que o material não se degrade. “Às vezes, fico por um tempo com o material até que aleatoriamente eles vão se encaixando por cor ou formato que cabe dentro de uma estética. Em seguida, é só pensar e trabalhar direitinho”, brinca a artesã. 

Desde pequena, o bioma sempre lhe encantou. A resiliência da natureza e a paleta de cores. A ligação incomum com tudo aquilo que viveu quando mais nova, na cidade de Palmas, no Tocantins. Lá, o primeiro contato com o Cerrado foi o suficiente para fazer Adriane não desgarrar. Ao se mudar para Brasília, em 2002, se apaixonou ainda mais pelos formatos e cenários diferentes do que vivia no outro Estado. 

“Fiz inúmeros registros fotográficos de tudo que me encanta. Flores, folhas, galhos, rios, cachoeiras. Em um período muito verde e outro muito seco. Flores minúsculas no chão e árvores muito tortas e com folhas e flores de incontáveis cores e formas. Consequentemente, esses registros continuam sendo minha paixão e inspiração”, recorda. Hoje, ela é proprietária da Yasaí Biojoia, loja criada em 2006. Nada disso seria possível se o Cerrado não estivesse no epicentro desse afeto. O respeito e a valorização do bioma são, ainda, os pilares da artesã no trabalho que desenvolve. Além, sobretudo, das inspirações que retira deste mundo aberto.

  • Adriane começou a produzir biojoias graças  ao amor que sempre teve pela natureza
    Adriane começou a produzir biojoias graças ao amor que sempre teve pela natureza Fotos: Arquivo pessoal
  • A chave de tudo está nos elementos que Adriane encontra em suas pesquisas
    A chave de tudo está nos elementos que Adriane encontra em suas pesquisas Arquivo pessoal
  • Adriane descobriu no universo das biojoias  uma nova forma de expressar sua arte
    Adriane descobriu no universo das biojoias uma nova forma de expressar sua arte Arquivo pessoal

No coração da Chapada

As águas que correm na Chapada dos Veadeiros são capazes de transformar e purificar. Para quem vive distante, visitar nem que seja por pelo menos uma vez é um objetivo de vida. Para quem mora tanto dentro quanto próximo, cuidar e preservar é mais que obrigação. Luciana Rodrigues Veronese, 28 anos, encontrou nesse lugar tão sonhado por muitos uma chance de construir sua própria vida. Há três anos, decidiu que começaria um novo negócio no ramo da gastronomia. 

O Cozinha do cavaleiro, inaugurado na Chapada, é a representação do elo que a gastrônoma sempre teve com a natureza e a cozinha. Lá, a paixão pelo Cerrado se faz presente nas receitas que ela produz, já que os pratos levam os ingredientes desconhecidos do bioma. “Ainda é bem desconhecido para o público geral, e a sensação que me dá por estar na Chapada dos Veadeiros é que as pessoas chegam mais abertas e curiosas após passar um dia metidas no Cerrado, enfrentando trilhas e descobrindo cachoeiras”, conta Luciana.

Depois de conhecerem os lugares escondidos, o destino inevitável é o restaurante. Para ela, um prazer imenso em apresentar os frutos do Cerrado aos visitantes. Até aqui, o acolhimento com as receitas foi positivo. “Estou tão próxima a uma natureza tão preservada, que é como se os frutos caíssem no meu colo, e eu os acolho e tento trazer a cada prato da Cozinha do cavaleiro uma nuance única e autoral”, ressalta. 

A residência de Luciana é cercada de mangaba — utilizado na fabricação de sucos e sorvete. Ao lado, vive próxima aos quilombolas Kalunga. Eles, inclusive, são responsáveis por chegar ao restaurante com muitos dos frutos do Cerrado usados pela gastrônoma. Na cozinha, o sucesso da casa é o famoso risoto de galinhada, que leva o famoso e popular pequi. De acordo com Luciana, um fruto que agrega e traz um sabor único. O cardápio conta ainda com drinques que levam mangaba, cajuzinho e cagaita

“Estar ao lado do maior quilombo do Brasil me proporciona vivenciar a cultura tradicional kalunga. Me traz um novo olhar na forma de viver, com mais consciência, pé no chão, simplicidade e cuidado com o próximo. Temos muita preocupação em fomentar essa economia que muito precisa do nosso apoio”, reforça Luciana. Hoje, ela se considera ativa no que diz respeito ao cuidado com o bioma. Utiliza do papel como chef para entrar nessa temática com consciência, leveza e agrado ao paladar. 

  • O risoto de galinhada é um dos pratos especiais do restaurante de Luciana
    O risoto de galinhada é um dos pratos especiais do restaurante de Luciana Arquivo pessoal
  • Luciana é dona de um restaurante em São Jorge, na Chapada dos Veadeiros
    Luciana é dona de um restaurante em São Jorge, na Chapada dos Veadeiros Arquivo pessoal

Risoto de Galinhada 

— Sobrecoxa desossada;

— Picles de maxixe feito na casa;

— Maionese de pequi;

— Farofa crocante cítrica;

— Arroz plantado na comunidade Kalunga

Arranjos e cuidados 

De acordo com a florista Lilian Souza, o Cerrado explora infinitas possibilidades de arranjos, acentuando estilos marcados por trabalhos orgânicos. “Em função da diversidade de formas, texturas e riquezas de espécies, podemos decorar ambientes com arranjos que têm durabilidade e identidade regional. Usufruir dos troncos, dos galhos e das folhagens que, por questões de sobrevivência, são tão ásperos, grossos e retorcidos nos permite efeitos de movimentos jamais alcançados por nossas mãos”, explica.

Arranjos que podem desidratar naturalmente em ambiente arejado, podendo ser preparados por quem aprecia esse bioma e o estilo das espécies. Quanto às flores, nem sempre resistem muito tempo, mas são exuberantes em suas efêmeras aparições. “As menos frágeis, conseguimos desidratar e prolongamos sua beleza, que pode ser apreciada em cada fase do processo. No Ateliê Fluorita, utilizamos em buquês, guirlandas, lapel e onde nossa sensibilidade permitir.”

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 22/09/2024 06:00
x