A solidão aumenta o risco de demência, doenças cardiovasculares, sono de má qualidade, deficiência imunológica, depressão e ainda faz a pessoa morrer mais cedo. Será que esses efeitos da vida solitária podem ser explicados pela ausência de “cães de guarda”, pessoas que estimulam bons hábitos e reprimem maus hábitos? Pode até ser, mas parece que existem outras explicações.
Temos evidências que a solidão é capaz de mudar a percepção, os pensamentos, a química e a estrutura do cérebro. Os solitários são mais sensíveis a experiências ruins como quando são apresentados a imagens de pessoas com expressão facial de dor. Exames de ressonância magnética funcional demonstram que o isolamento social faz com que as áreas do sistema de recompensa cerebral sejam menos ativadas quando provocadas com estímulos sociais, o que explica a menor empolgação por um hipotético encontro.
- O que faz alguém parecer aos outros uma pessoa sábia?
- Você acha que seus ancestrais dormiam mais que você?
Pesquisas com ratinhos mostram que o isolamento reduz hormônios cerebrais que modulam a agressividade e diminui também o processo de mielinização, que é fundamental para a plasticidade cerebral. Influencia ainda a expressão de genes ligados a comportamentos ansiosos. Os animais que crescem solitários têm uma inibição no crescimento de novos neurônios em áreas associadas à comunicação e à memória. Em um modelo de derrame cerebral, provocado intencionalmente, ratinhos solitários morrem mais do que os que cresceram com os companheirinhos.
Saiba Mais
Os médicos costumam lembrar seus pacientes de qualidade de sono, dieta e atividade física. Por que não incluir nesse roteiro uma “prescrição social”? Em vez de simplesmente falar ao paciente que ele deveria socializar mais, se for o caso, abordar individualmente janelas de oportunidade para que isso aconteça pode ser mais efetivo. É um momento ímpar para o estreitamento da relação médico-paciente. É inspirar uma reflexão de Etnia do extraordinário Chico Science:
Não há mistérios em descobrir
O que você tem e o que gosta
Não há mistérios em descobrir
O que você é e o que você faz
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
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